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Opinião

Neymar enche os olhos

Rodrigo Fernandes, editor

Brasil x Escócia tinha tudo para ser mais um jogo chato, um caça-níquel da CBF. O oponente, apenas na 50ª posição no ranking da Fifa (atrás de Burkina Fasso, Honduras e Jamaica), foi escalado apenas para reabilitar o time de Mano das derrotas para Argentina e França. Era melhor domir, achava.

Nada realmente levava a crer que esse duelo valeria a pena. Neymar rompeu essa lógica. Arrisco a dizer, talvez com um pouco de exagero, que há tempos não me deliciava com a seleção brasileira como no insosso amistoso de ontem. O moleque encheu os olhos. É ousado, criativo, pronto para manter a hegemonia do país na formação de craques.

Com ele em campo, nem deu para se irritar com a retranca rival. Arrisco-me a dizer que a partida foi a porta de entrada do camisa 11 no time de astros do futebol. Não tem como duvidar mais disso.

Personagem

Ronaldo fala em "último sacrifício"

Ronaldo terá de fazer seu "último sacrifício" e emagrecer de novo. Mas, desta vez, é apenas para participar de sua própria despedida da seleção brasileira. O amistoso será no dia 7 de junho, contra a Romênia, no Pacaembu, em São Paulo. Mesmo porque o técnico Mano Menezes já avisou que não quer que o clima de festa para o ex-atacante acabe abafando a necessidade de usar a partida como uma preparação para a Copa América.

Ontem, Ronaldo foi homenageado no Emirates Stadium, em Londres, antes da vitória brasileira sobre a Escócia. Mas a CBF garante que sua aparição não havia sido organizada pelo Brasil. Aplaudido de pé, o agora ex-jogador confessou que deu vontade de entrar em campo. "Estou com saudades", declarou, em entrevista à TV Globo. "Estou com saudade desta torcida, da trave, onde fiz tantos gols. Deu vontade de pegar a camisa 9. O Barreto [roupeiro da seleção] até me ofereceu."

Da parte de Mano, a preocupação é de não transformar o jogo apenas em uma festa e esquecer de que se trata de uma preparação para a Copa América, que será em julho, na Argentina. "A Romênia não tem nada a ver com a despedida de Ronaldo e o jogo contra a Romênia certamente terá um ingrediente paralelo", admitiu o treinador. "Para a festa ser bonita, precisamos também ganhar e usar a partida de forma produtiva."

Vestindo um terno preto, Ronaldo brincou: "Eu me sinto um dirigente". Sobre a vida de aposentado, disse não se queixar. "Estou colhendo os frutos do que eu plantei. Trabalhando bastante. Estou bem e feliz", contou.

  • Confira a ficha técnica do jogo entre Brasil e Escócia

O atacante Neymar foi o principal destaque e roubou a cena na vitória da seleção brasileira por 2 a 0 sobre a Escócia, em amistoso realizado ontem, no Emirates Stadium, na cidade de Londres. O jogador do Santos, que já despertou a cobiça de clubes europeus, como o inglês Chelsea, liderou o Brasil no triunfo, fez belas jogadas e marcou os dois gols da vitória do time dirigido pelo técnico Mano Menezes.

Com derrotas para Argentina e França, ambas por 1 a 0, nos amistosos anteriores, a seleção brasileira entrou em campo pressionada a não sofrer um novo revés para não repetir a sequência negativa de 2001, quando perdeu para Austrália, Uruguai e México.

Até por isso, Mano Menezes voltou a convocar e a escalar jogadores mais experientes, como o zagueiro Lúcio e o meia Elano, que não eram convocados desde a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, e foram titulares no duelo com os escoceses.

Porém o excesso de desfalques atrapalhou a preparação do Brasil para o amistoso. Contundidos, o lateral-esquerdo Marcelo e os atacantes Alexandre Pato e Nilmar desfalcaram a equipe dirigida por Mano Menezes.

Antes do começo do jogo, Ronal­­do visitou os jogadores do Brasil nos vestiários do Emirates Stadium e foi homenageado. Além disso, cumprimentou os atletas de ambas as seleções antes da execução dos Hinos Nacionais. "Deu até vontade de pegar a 9 e entrar em campo", brincou o ex-atacante, que usava terno.

A seleção brasileira teve um bom desempenho no amistoso, jogando com um estilo ofensivo e pressionando o adversário. A equipe apostou em tabelas e jogadas pelos lados, principalmente pela esquerda, com Neymar e André Santos. Assim, acuou a seleção escocesa, que se preocupou mais em defender e quase não ameaçou o goleiro Júlio César, até pela falta de qualidade técnica dos seus principais jogadores.

A defesa do Brasil não era ameaçada, mas, no setor ofensivo, a equipe encontrava dificuldades, diante dos poucos espaços deixados pelos marcadores escoceses. Mesmo assim, a seleção conseguiu abrir o placar ainda no primeiro tempo, em jogada pela esquerda, por onde aconteceram as principais jogadas.

Aos 41 minutos, Ramires lançou André Santos, que cruzou rasteiro para a área. Neymar dominou e chutou colocado, com a bola entrando no canto esquerdo do gol.

A seleção brasileira começou o segundo tempo em ritmo acelerado. A vitória foi definida aos 31 minutos. Neymar foi derrubado na grande área por Adam e ele próprio bateu o pênalti, chutando no canto direito da meta, com McGregor caindo para o outro lado, e fazendo o seu segundo gol no amistoso contra a Escócia.

A seleção brasileira volta a jogar em 4 de junho, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, em amistoso contra a Holanda. Três dias depois, a equipe vai ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, para disputar jogo festivo de despedida de Ronaldo contra a Romênia.

Nesses dois amistosos, inclusive, Mano Menezes promete convocar já o grupo que pretende levar para a Copa América, em julho, na Argentina.

Mídia

Minutos após a vitória do Brasil, alguns dos principais jornais da Europa relatavam a atuação do camisa 11 da seleção. O tradicional Marca (Espanha) rasgou elogios à "nova promessa" brasileira, que deu "ritmo" ao "baile" da seleção de Mano. O espanhol As destacou o "faro de gol" do atacante e a experiência de Daniel Alves, que joga no país, em meio à juventude do time. A inglesa BBC não tratou o santista como uma surpresa, já que ele é conhecido por causa do interesse do Chelsea, mas também elogiou o brasileiro.

Racismo da torcida ofusca amistoso

Neymar foi o grande destaque da vitória do Brasil sobre a Escócia, ontem, em Londres, ao marcar os dois gols que definiram o placar de 2 a 0. Mas também foi protagonista por causa de mais um episódio de racismo no futebol mundial. No segundo tempo do jogo, uma banana foi atirada em campo, supostamente por um torcedor escocês, na direção do atacante brasileiro.

"É um caso triste isso acontecer aqui. Acho que isso tem de acabar", afirmou Neymar, ao comentar sobre o episódio de racismo: "Só vi quando o Lucas tirou a banana de campo. Foi no segundo tempo, quando eu estava correndo em um lance na lateral. Não ligo. Mas é triste."

O técnico Mano Menezes disse que não viu nada. "Mas é mais um fato lastimável", declarou o comandante da seleção brasileira. "A Europa, que se diz de primeiro mundo, não pode tolerar atos semelhantes", afirmou o volante Lucas Leiva, que joga no Liverpool, da Inglaterra, e foi quem tirou a banana de campo.

Nos últimos anos, Marcelo, Daniel Alves, Roberto Carlos e vários outros jogadores brasileiros já se queixaram de atos de racismo na Europa. A Fifa prometeu punições exemplares. Mas pouco mudou, principalmente diante de um contexto social cada vez mais tenso entre imigrantes e europeus.

No caso de ontem, Neymar e a CBF fizeram de tudo para minimizar o incidente, de uma forma que o atacante fosse lembrado apenas por seus gols. "Ele [Neymar] não quer falar disso para não transformar o assunto numa bola de neve", disse Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da CBF.

Em campo, Neymar foi sempre a melhor opção desde o começo da partida, causando desespero no seu marcador, o lateral escocês Alan Hutton. "Foi um grande dia", disse.

Mano Menezes, por sua vez, foi cauteloso nos elogios. Foi claro em alertar que o protagonismo é conquistado não apenas em campo, mas "com liderança, moral e nos momentos difíceis de um time".

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