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Joseph Blatter e o protesto isolado da fã de futebol: o mundo cobra mais transparência da Fifa | Christian Hartmann/ Reuters
Joseph Blatter e o protesto isolado da fã de futebol: o mundo cobra mais transparência da Fifa| Foto: Christian Hartmann/ Reuters

Finanças

Fifa revela lucro recorde

Para a Fifa, a pior crise econômica registrada nos últimos 70 anos simplesmente não ocorreu. Ontem, a entidade revelou lucros recordes entre 2007 e 2010, justamente os piores anos para a economia mundial. A entidade terminou o período com um lucro de US$ 631 milhões e reservas de US$ 1,2 bilhão.

O valor é superior ao PIB de 19 países no mundo e, para muitos, é o que garante a independência da Fifa diante de governos e a capacidade de Joseph Blatter de se manter no poder. Em 2010, cada presidente de federação nacional recebeu da Fifa US$ 550 mil e cada confederação regional ficou com outros US$ 5 milhões. Os investimentos no futebol se multiplicaram por 57 em pouco mais de dez anos, passando de US$ 14 milhões, em 1998, para US$ 794 milhões, em 2010. A renda da Fifa aumentou em 59% entre 2007 e 2010, atingindo US$ 4 bilhões. O valor foi US$ 605 milhões a mais do que os próprios cartolas se esperavam.

Enquanto os números eram apresentados, do lado de fora, um partido político suíço fazia um piquete na porta do Congresso da Fifa. Pediam apenas uma coisa: que a entidade bilionária passe a pagar impostos. O tema nem sequer entrou na agenda da entidade. "Sou um homem feliz", completou Blatter, que terminou o seu dia com a organização de mais uma festa.

Impunidade, reformas vazias e escândalos abafados. Foi assim que a Fifa "resolveu" a sua pior crise nos últimos anos. Ontem, depois de fechar acordos políticos com dezenas de federações, o suíço Joseph Blatter conseguiu o seu quarto mandato à frente da organização e ficará no cargo até 2015. Prometeu mudanças, mas garantiu que não haverá intervenção externa e muito menos a investigação do passado. A ordem dentro da organização era uma só: dar uma imagem de reforma, enquanto o poder ficava nas mãos do mesmo grupo.

Blatter foi o único candidato a se apresentar à eleição, de­­pois que conseguiu que o Co­­mi­­tê de Ética da Fifa escolhido por ele mesmo suspendesse Moha­­med Bin Hammam, do Catar, sob a alegação de pagamento de propinas. "Eu iria ganhar e Blatter sabia disso", declarou o dirigente asiático ontem.

O suíço, que está na Fifa desde a década de 70 e foi por anos o braço direito de João Ha­­ve­­lange, conseguiu neutralizar o pedido de adiamento da eleição, apresentado pela In­­glaterra, que passou a ser tratada como traidora. No final, ob­­teve 186 dos 206 votos possíveis.

Para acalmar o que Blatter chamou de "ira popular", ele anunciou reformas. A primeira se refere à escolha das sedes dos Mundiais. Os 24 cartolas do Comitê Executivo são acusados de te­­rem vendido seus votos para dar ao Catar a Copa do Mundo de 2022. Os escândalos fizeram os maiores patrocinadores e políticos de peso exigirem reformas.

A solução, para Blatter, foi voltar ao modelo de 1966, dando o poder de escolher as sedes para todas as 208 federações nacionais. A meta é a de diluir a in­­fluência de cada um dos cartolas e, assim, reduzir a tentação de pagar por votos. Blatter jamais admitiu o pagamento de propinas. Mas sua reforma desta quarta é uma demonstração de que de fato ocorreram.

A segunda medida é a criação de um Comitê de Ética independente. Mas sem agentes externos. Os juízes serão eleitos pelas 208 federações e, portanto, nada será feito com intervenção externa. "Temos de resolver nossos problemas dentro de nossa casa mesmo", disse Blat­­ter. "Esqueça tolerância zero. O importante é unidade e respeito", declarou.

A terceira medida é ainda mais iníqua: a criação de um Comitê de Soluções, com o norte-americano Henry Kissinger, acusado por ONGs de crimes de guerra no Vietnã e de ter apoiado ditaduras na América Latina. Blatter nem sequer soube responder o que faria esse grupo. Há um mês, anunciou que seu plano era criar um comitê com pessoas externas à Fifa. Ontem, mudou de opinião.

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