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A empolgação dos sul-africanos cresceu ainda mais na quinta-feira (10), véspera do início da Copa do Mundo, mas crimes contra jogadores e jornalistas serviram para lembrar dos problemas que podem macular o sonho de que o torneio mude para sempre a imagem da África.

Três jogadores gregos tiveram dinheiro furtado em seu hotel, e jornalistas chineses foram roubados na quinta-feira (10). Na quarta-feira (9), homens armados assaltaram quartos de jornalistas espanhóis e portugueses numa pousada na região metropolitana de Johannesburgo.

Foram incidentes relativamente desimportantes, mas, ocorrendo antes mesmo do início do torneio, representam uma péssima notícia para os organizadores da Copa, que passaram anos tentando tranquilizar torcedores e jornalistas de que os 41 mil policiais mobilizados seriam suficientes para dar segurança a todos.

No nordeste do país, dois britânicos morreram num acidente de ônibus. Aparentemente não eram torcedores da Copa, mas o fato chama a atenção para outro problema notório da África do Sul, a segurança das estradas e transportes.

Nada disso abala o frenesi que toma conta dos sul-africanos, às vésperas de realizarem algo que muitos chegaram a duvidar. Gritando e soprando suas vuvuzelas, torcedores vestindo amarelo, cor da seleção, saíram às ruas. A notícia de que o herói nacional Nelson Mandela assistirá à cerimônia de abertura, na sexta-feira, aumentou o clima de alegria.

Mandela, 91 anos, com a saúde frágil, é considerado o principal responsável pela escolha da África do Sul como sede da Copa, em 2004. Sua ida à partida de abertura é considerada um fato tão simbólico para o país quanto sua liderança para que a Copa do Mundo de rúgbi, em 1995, inspirasse a superação dos ódios raciais.

Há um ano, a Fifa criticou a apatia dos sul-africanos em relação ao torneio, inclusive por causa da má fase pela qual a seleção nacional passou.

Bafanas invictos

Agora, após uma série de 12 partidas invictos sob o comando de Carlos Alberto Parreira, os "Bafana Bafana" voltaram a ser heróis nacionais, e chegam cheios de confiança à estreia, na sexta-feira (11), contra o México, no imponente estádio Soccer City, em Johannesburgo.

A África do Sul aspira a ser a zebra do torneio, mas talvez o presidente Jacob Zuma tenha sido ambicioso demais ao pedir ao time que mantenha o troféu na África do Sul.

Mesmo que, como esperado, saia logo da Copa, a África do Sul espera ganhar em termos de turismo, investimento, desenvolvimento e estímulo à harmonia racial, 16 anos após o fim do apartheid.

Nos hotéis e campos de treinamentos de todo este amplo e belo país, jogadores e técnicos das 32 seleções cobiçam o título do maior evento esportivo do mundo, que será decidido em 11 de julho, também no Soccer City.

Na sexta-feira, a imensa maioria dos quase 90 mil espectadores estará torcendo para a África do Sul. Mas alguns mexicanos que faziam festa sob uma estátua de Mandela em Johannesburgo prometeram estragar a festa dos locais. Por todo o elegante bairro de Sandton, grupos de torcedores de vários países faziam algazarra nas suas línguas.

O segundo jogo da sexta-feira será França x Uruguai. Estar lá será especialmente recompensador para uma família uruguaia que percorreu num pequeno carro 100 mil quilômetros, atravessando 41 países desde 2007 até chegar à Copa.

Brasil e Espanha, favoritos

Outras possíveis zebras africanas são Costa do Marfim e Gana, embora as contusões de Didier Drogba e Michael Essien reduzam suas chances. Seja como for, poucos esperam o fim da hegemonia compartilhada entre Europa e América do Sul nas Copas, sendo que Espanha e Brasil aparecem entre os favoritos.

A Argentina tem possivelmente o time mais talentoso, mas suas chances dependem também da alquimia entre o indômito treinador Diego Maradona e seu brilhante centroavante Lionel Messi.

A Inglaterra, sempre entre as favoritas, chega mais modesta após alguns amistosos com pouca inspiração, e lesões em atletas importantes. A vantagem para os inventores do esporte é ter uma tabela camarada até as semifinais.

Fora dos gramados, o primeiro lance polêmico da Copa envolveu o lateral holandês Eljero Elia, que insultou marroquinos em uma transmissão por vídeo. "Quero pedir desculpas ..., não sou racista", declarou ele depois.

Para muitos africanos, o torneio será uma chance de que o mundo deixe de lado estereótipos associados ao continente, como o da fome, da Aids e da pobreza. Em vez disso, querem que a região seja vista como um lugar de gente empreendedora, onde vale a pena investir.

Mas os roubos antes mesmo do início do torneio lembram que a África do Sul é um dos países mais perigosos do mundo fora das zonas de guerra.

Outro ponto negativo para esta Copa é o extraordinário número de jogadores lesionados. A baixa mais recente foi a de Alex Frei, capitão da Suíça, que machucou o tornozelo no treino e é dúvida na estreia contra a Espanha, na semana que vem.

A Copa começou oficialmente na noite de quinta-feira (à tarde no Brasil), com um show repleto de atrações sul-africanas e internacionais no estádio Orlando, Soweto.

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