Estamos a exatos mil dias do início da Copa do Mundo de 2014. Só que mais importante do que a contagem regressiva para que a bola comece a rolar no Mundial é o fato alarmante de que o Brasil foi anunciado como país-sede há 1.410 dias.
Obras de estádios, aeroportos e mobilidade urbana ainda estão por deslanchar. Se comparássemos a preparação do Brasil com uma partida de futebol, poderíamos afirmar que até os 15 minutos do segundo tempo nenhum gol foi marcado. E este jogo não tem prorrogação nem disputa por pênaltis.
O Brasil resolveu jogar com o regulamento debaixo do braço e só se preocupou com o caderno de encargos da Fifa. A Federação Internacional de Futebol visa apenas ao sucesso comercial do evento (que sabemos estar mais do que garantido), e vai faturar muito com os patrocinadores, que arregalam os olhos para o emergente mercado brasileiro. Os estádios ficarão prontinhos, do jeito que os suíços gostam, e pagos com o dinheiro da população. Mesmo que três ou quatro fiquem de fora, esta é uma carta na manga da entidade, que consegue realizar o Mundial em apenas oito sedes.
Mas ainda falta o legado. É óbvio que com tantos investimentos os estádios ficarão mais confortáveis, seguros e belos. A mobilidade urbana será um pouco melhor nas cidades-sede e, sobretudo, seremos brindados com puxadinhos de luxo nos principais aeroportos do país. É muito pouco para um país que pode terminar esta década como a quinta economia do mundo, por causa das oportunidades geradas com Copa, Olimpíada e o abundante petróleo do Pré-sal.
A partida está acabando, e a torcida espera ansiosa para dizer que valeu a pena participar deste jogo. Não precisávamos mudar as regras criando o Regime Diferenciado de Contratação (RDC). Isto é assumir que o Brasil errou em seu planejamento. Contratar obras de emergência é para países que sofrem com catástrofes naturais, mas não para o Brasil, candidato ao seleto clube da Champions League.
*Jornalista, coautor do estudo sobre os estádios brasileiros e diretor do Portal 2014.
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