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O atacante Campbell, da Costa Rica, celebra o seu gol homenageando o filho que irá nascer no próximo ano | Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo
O atacante Campbell, da Costa Rica, celebra o seu gol homenageando o filho que irá nascer no próximo ano| Foto: Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo

Vestiário

Tabárez adota discurso populista para reanimar a Celeste

O uruguaio Maxi Pereira comete falta duríssima no costarriquenho Campbell aos 49 minutos do segundo tempo e é expulso de campo sem aviso prévio.

Em outros tempos, a atitude do lateral-direito poderia resumir a raça charrua no ímpeto de segurar o marcador para garantir um triunfo heroico, por exemplo. Ontem, em Fortaleza, a cena simbolizou o mais genuíno desespero celeste.

De volta ao país onde ganhou sua segunda – e mais marcante – Copa do Mundo, o bicampeão Uruguai sucumbiu por 3 a 1 diante do esforço e vibração da pequena Costa Rica, que disputa apenas sua quarta edição do torneio. Um baque inesperado no único grupo com três vencedores de Mundiais. E sem tempo para lamentar.

"Precisamos digerir os erros rapidamente porque a competição continua. Temos uma imagem a defender e só nos resta atacar. Nossa responsabilidade profissional e o orgulho de sermos uruguaios está em jogo", disse um abatido técnico Oscar Tabárez, contradizendo suas próprias palavras.

Na próxima quinta-feira, em São Paulo, a Celeste Olímpica enfrenta a Inglaterra, que estreou com derrota para a Itália por 2 a 1, adversária dos sul-americanos na última rodada da fase de grupos.

Sabedor da dificuldade que tem no horizonte do Grupo da Morte, Tabárez carrega a árdua tarefa de reanimar seus jogadores e fazê-los acreditar que ainda é possível chegar às oitavas de final. Após ser "controlado taticamente" pelos Ticos durante todo o segundo tempo, o maestro celeste apelou para um discurso populista.

Aparentemente assimilado, mas que será colocado à prova em breve. "O que era difícil ficou quase impossível. Por respeito à camisa e a todo uruguaio, por amor próprio, vamos levantar a cabeça o quanto antes", falou o meia González. "Não matamos ninguém, não roubamos ninguém. Digerir a derrota e sair de cabeça erguida", emendou o capitão Lugano.

"Ficou difícil agora. Mas tudo bem. Foi assim que começou [a Copa para nós], agora esperamos dar a volta por cima e reverter a situação", ratificou o atacante Cavani, que sentiu muita falta de Luis Suárez, seu principal parceiro de ataque.

Luisito chegou a ir para o aquecimento assim que a Costa Rica virou a partida ontem, mas logo voltou para o banco de reservas. Segundo Tabárez, o atacante do Liverpool está clinicamente recuperado da cirurgia no joelho esquerdo realizada em 22 de maio, só que ainda não está pronto para jogar em alto nível.

"Ele está cumprindo etapas da recuperação como previmos. Já treinou, mas não está igual aos companheiros. À medida que ele atender as exigências, vai poder entrar. É um jogador fundamental", espera o treinador, para não se tornar vítima no Grupo da Morte.

Dois torcedores da Costa Rica caminhavam pela Beira-Mar de Fortaleza, ontem pela manhã, com uma camiseta premonitória. Um Cristo Redentor branco sobre um fundo vermelho e a frase "Nós acreditamos" em inglês. Mais do que eles, a seleção costa-riquenha também acreditou. O mundo é que não acreditou no que viu no Castelão. Os Ticos, marcados para morrer no Grupo da Morte, derrotaram o bicampeão mundial Uruguai por 3 a 1, de virada.

Confira a nota dos jogadores e quem foi o craque da partida

Foi a primeira grande zebra da Copa-2014 e o maior feito no futebol do país centro-americano de 5 milhões de habitantes – metade da população do estado do Paraná. Em 1990, os costa-riquenhos passaram às oitavas no grupo do Brasil, com vitórias sobre Escócia e Suécia, mas nada se compara a bater um bicampeão.

Milhares de pessoas foram às ruas da capital San José após o jogo. Uma rádio chegou a agendar uma conversa ao vivo entre o atacante Joel Campbell e o presidente da República, Luís Guillermo Solís. Derrubou a ponte pela demora de 2h15min – e dois litros de água – para Campbell fazer o exame antidoping.

"Havia poucos torcedores no estádio, mas sabíamos que cinco milhões de ticos torciam por nós. Demos o coração. Nunca nos passou pela cabeça perder esse jogo", afirmou.

Campbell foi determinante para a vitória. O atacante de movimentação intensa e finalização poderosa (foram quatro arremates) marcou o gol de empate e deu o passe para Ureña anotar o terceiro. Cavani e Duarte fizeram os outros gols.

A exibição diante da Celeste mudou não só o status da Costa Rica, mas também o de Campbell no Mundial. Em abril, ele protagonizara um episódio inusitado ao publicar no Twitter que havia comprado cem pacotinhos de figurinhas sem encontrar a sua. A Panini prometeu enviar um cromo para ele. Nem precisou. "Me achei", escreveu dias depois.

Campbell ficou tímido ao ser perguntado sobre o episódio ontem. Também evitou falar de ser aproveitado pelo Arsenal, clube que o contratou em 2011, mas o emprestou para Lorient, Betis e, por último, Olympiacos. "A Copa é uma grande vitrine para que demonstre o que vale ao Arsenal", respondeu por ele o auxiliar Paulo César Wanchope, atacante da Costa Rica em 1990 e tutor do avante de 21 anos dentro da seleção.

Campbell só se solta mesmo quando o assunto é o seu primeiro filho, para quem dedicou o gol com o polegar esquerdo na boca e a bola sob a camisa. "Nasce ano que vem. Não sei se é menino ou menina. É uma alegria muito grande poder ser pai. A celebração foi para o bebê e toda minha família. Pai mãe e irmã que vieram ao Brasil, uma motivação extraordinária", disse ele, que havia feito gol nos Mundiais Sub-17 (2009) e Sub-20 (2011). Também se empolga, claro, sobre as possibilidades da Costa Rica de avançar ao mata-mata. "Estamos aqui para nos classificar", avisou. Agora, não são apenas os costa-riquenhos que acreditam.

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