• Carregando...
João Palomino, de terno ao centro, comentou o futuro das transmissões esportivas e o fim do Esporte Interativo | Reprodução/Facebook
João Palomino, de terno ao centro, comentou o futuro das transmissões esportivas e o fim do Esporte Interativo| Foto: Reprodução/Facebook

O crescimento do streaming é ‘inevitável’ nas transmissões esportivas, o futebol brasileiro tem muito potencial, mas urge por organização, e o fim do canal Esporte Interativo é um sinal que causa muito preocupação no mercado do jornalismo esportivo nacional.

>> MERCADO DA BOLA 2019: confira o vai e vem do seu clube no mercado

As três opiniões acima são do vice-presidente de jornalismo e produção da ESPN no Brasil, João Palomino, que conversou com a reportagem da Gazeta do Povo nos bastidores do Prêmio Bola de Prata Sportingbet, organizado pela emissora, no início de dezembro, em São Paulo.

Ex-narrador, Palomino também garantiu que no momento a ESPN não planeja nenhuma ação para a eventual fusão com o Fox Sports, comprado pela Disney em julho, no Estados Unidos. O processo, que é avaliado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), pode levar sete anos para ser concluído.

Confira a entrevista com João Palomino abaixo:

Atualmente, qual o tamanho da importância do futebol nacional para a ESPN?

É muito difícil você estabelecer uma prioridade única quando você tem uma cobertura nacional numa empresa do tamanho da ESPN, com os valores e profissionais que você tem, com a história que você já construiu. Você não estabelece um foco único de cobertura, mas existem, evidentemente, pilares que são muito importantes pra gente.

E o futebol nacional é enxergado como um pilar. Fundamental, muito importante, mas é necessário dar atenção também ao campeonato inglês, que temos a exclusividade na TV por assinatura, ao campeonato espanhol, que tem Real Madrid e Barcelona, forças incríveis junto aos fãs de esportes. A NFL, que de uma certa forma a ESPN ajudou a construir uma relação até social do brasileiro com o futebol americano. De se reunir se reunir aos domingos para assistir aos jogos...

E tem a NBA, evidentemente, que o basquete é mais próximo da gente. Tem brasileiro jogando lá, tem uma proximidade maior. E o quinto pilar é exatamente o nosso jornalismo. E aí está incluído o futebol nacional por que não temos direitos [de transmissão]. Gostaríamos muito, brigamos muito para que pudéssemos ter direitos do futebol nacional.

Mas o que a gente faz lá é valorizar o gamer on the game. É valorizar os momentos anteriores e posteriores à partida. Durante o jogo não tem como transmitir. Mas a gente sabe que tendo opinião forte, repórteres bem informados, estando em cima dos assuntos que são importantes, mais quentes do momento, conseguimos um nível e profundidade de cobertura que nos coloca dentro do futebol nacional. Aí tem um mérito muito grande do perfil e do tipo do profissional que temos.

A ESPN teve um projeto para comprar os direitos de transmissão do Brasileirão? Você vislumbram algum tipo de parceria no futuro?

Nós já tivemos direito do Campeonato Brasileiro, direito pleno na década de 90. Depois tivemos direito de uma parte do Brasileiro, era um grupo de times, e entramos fortemente para disputar os direitos do campeonato naquele momento em que a Record também estava interessada, em que a Rede TV ensaiou participar disso também e quando houve a implosão do Clube dos 13 [em 2011].

Ali a ESPN tinha um plano bem claro, preparado, pronto para que pudéssemos ter a transmissão do Brasileiro. A partir de lá, evidentemente, você trabalha dentro das oportunidades que são oferecidas. Tivemos a Copa do Brasil, mas estamos sempre buscando nos direitos nacionais ter contato porque pra nós é muito importante ter direitos no futebol nacional. É muito importante porque têm times de camisa ali dentro.

A ESPN chegou a investir bastante nas transmissões de campeonatos de base...

Tentamos fazer no Brasil o que acontece nos Estados Unidos em relação ao college, ao esporte universitário. E há um interesse, uma atratividade. Chegamos a transmitir Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro. A forma que encontramos hoje de ter uma conexão próxima com futebol nacional é com um jornalismo muito fortalecido.

Disso não podemos abrir mão. E, com o tempo, ver quais oportunidades podem aparecer e a gente passar a participar mais ativamente para termos direitos do futebol nacional. Existe hoje uma priorização, uma procura pelo futebol nacional, que é uma concorrência muito forte, e a ESPN está sempre próxima tentando fazer parte disso.

É provável que a partir de 2020 a Rede Globo deixe de transmitir a grande maioria dos campeonatos estaduais. A ESPN vê isso como uma oportunidade?

Toda decisão de compra de um direito passa por um planejamento que envolve várias áreas: marketing, financeiro, aquisições, decisões estratégicas, relação com as operadoras. Isso é feito no momento em que surge a oportunidade. Eu não acredito, sinceramente, que os campeonatos, como eles estão, consigam sobreviver muito tempo.

Ou eles se reinventam do ponto de vista de preservar alguns clubes para os campeonatos nacionais, ou as federações pressionam a CBF para estender o Brasileiro e que os estaduais sejam disputados nos intervalos, ou evidentemente eles vão morrer. Eles vão acabar naufragando porque não trazem absolutamente nada de novo. Os próprios times olham para os estaduais e apenas em São Paulo, onde há um valor em dinheiro significativo para os clubes, que há uma corresponsabilidade. Fora disso não há.

O fim dos estaduais é questão de tempo, então?

Acho que é questão de tempo. Da forma como acontece hoje, é uma questão de tempo. Mas hoje não se pensa o calendário nacional, do ponto de vista estrutural, como um todo. Quais são os campeonatos prioritários? São Libertadores, Brasileiro, Sul-Americana e Copa do Brasil.

Distribua o calendário ao longo do ano pra esses campeonatos e você vai ver que há datas suficientes para disputar um estadual – mesmo que até dure um ano inteiro. Não importa se vai ter um mês, dois meses. Pode até durar o ano inteiro, contanto que seja disputado em datas alternativas às principais competições nacionais. E aí você fica, três, quatro meses,olhando pros estaduais como se fossem uma pré-temporada... Estadual hoje só serve para derrubar técnico.

Você acredita que uma liga de clubes brasileiro ainda é algo distante da realidade?

Quando se fala de futebol internacional, quando se fala da organização dos clubes, do futebol inglês, por exemplo, tem um passo anterior a isso que não é o campo. É a parte organizacional. O poder emana dos clubes. As ligas se fortaleceram em nome dos clubes.

E só há uma possibilidade de construir isso com determinado tempo e os clubes unidos em torno de uma liga que seja soberana para a decisão dos clubes. O que acontece que é no Brasil alguns clubes dentro da liga querem ter um poder tão forte quanto o da própria liga. E não é a melhor alternativa. A alternativa é que você tenha a liga fortalecida pelos clubes e os clubes demandem, mas não tenham excessivo poder sobre a liga, que a liga possa negociar em nome dos clubes.

Essa é a única saída hoje e não tenho dúvida do potencial do futebol brasileiro. Não tenho dúvida da capacidade de geração de negócio que teríamos. Sem organização a gente já gera muito dinheiro, imagina com um pouco de organização o que não aconteceria.

A ESPN se prepara para o eventual cenário de fusão com o Fox Sports, no Brasil?

Não, em absoluto. Não temos nenhuma ação, nenhum planejamento a não ser a discussão num fórum local como aconteceu nos Estados Unidos, na China, Europa, na Austrália, de aprovação do órgão regulador local. Isso está entregue ao nosso departamento jurídico.

A aprovação pode durar até sete anos...

A gente não sabe o tempo, não sabe o que vai acontecer a partir de uma possível aprovação no Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica]. Não sabe qual processo vai ser estabelecido pra isso, por que juridicamente não podemos, e acho até que não devemos, preparar absolutamente nada até termos uma decisão final. Por enquanto temos que cuidar do que nós temos nas nossas mãos. É isso que nos preocupa. O que não temos nas mãos não há o que fazer.

Na sua visão, o que significou o fim do Esporte Interativo para a cobertura esportiva no país?

São duas visões. A primeira delas é de lamentar porque vejo o negócio muito além do que só a ESPN. Gostaria que o negócio esporte fosse fortalecido, que o negócio jornalismo esportivo estivesse cada vez mais fortalecido. E é muito triste quando você vê colegas perdendo posição, quando vê uma empresa mudando sua característica. Na verdade não é fechando as portas, mas é indo para o campo digital.

Quando você vê que há um recrudescimento da atenção ao jornalismo esportivo. Isso eu lamento como profissional, como pessoa. Gostaria muito que o que é possível fazer pelo esporte fosse levado a cabo pelo Brasil de novo geral, isso não é possível. Por outro lado, vejo com uma preocupação maior ainda porque o nosso negócio está sendo desafiado. Não só a ESPN, todas as empresas estão sendo desafiadas.

É preciso entender qual é esse mercado aí, qual o hábito de consumo, de que forma você pode sustentar a presença do seu fã de esportes, de que forma o próprio fã pode continuar acompanhando, qualquer que seja a plataforma.

E essa mudança de hábito, paralelamente a uma situação econômica que prejudicou todo o país de modo geral, é ver como vamos enxergar o ano que vem a partir da dificuldade que passamos nesse ano. Sou otimista, acho que o país tem tudo para se recuperar. Se houver uma recuperação, o nosso negócio, que é um entretenimento, que é o esporte, tende a chamar cada vez mais a atenção das pessoas. E é bom que seja assim.

Você acredita que o streaming será a principal plataforma de acesso ao conteúdo esportivo?

Acho que é inevitável. Não digo que seja a principal plataforma, mas vai ser muito significativo.

Pode se equiparar à televisão? Daqui a quanto tempo isso pode acontecer?

A resposta pra isso vale um bilhão de dólares. Não sei, sinceramente. Sempre digo o seguinte: havia uma situação confortável em que a gente exibia um conteúdo e a pessoa lá na ponta assistia. Hoje, inevitavelmente, você tem que procurar teu assinante. Você não tem só que produzir, você tem de entregar onde ele estiver assistindo. E o streaming é um os caminhos. Talvez seja um complementar à televisão, vejo muito assim.

Quando viajo para visitar minha mãe, tenho a ESPN no meu celular. Levo um cabo de conexão pra assistir na TV dela. É uma ação puramente complementar, acho que a gente vai se acostumar ainda a fazer aquilo. E com isso como serviço pago. Como o Premiere é hoje, por exemplo. É inevitável. Você pode ter o Premiere hoje mesmo sem ser assinante de TV por assinatura. Nos Estados Unidos já tem o ESPN+, que atingiu há um mês um milhão de assinantes, antecipando a meta. Isso é significativo do ponto de vista de como vai ser o consumo.

A ESPN comprou os direitos de transmissão do UFC nos Estados Unidos – aqui no Brasil os direitos são da Globo. A cobertura da ESPN brasileira vai aumentar por causa dessa aquisição lá fora?

Já fazemos a cobertura jornalística do UFC, que dá muito bom resultado no digital. Sem as imagens não temos como exibir na televisão, temos a notícia. Enquanto não soubermos qual a liberdade que teremos para utilizar as imagens, não temos como elaborar um projeto. No futebol, pela cultura do brasileiro, às vezes você não tem a imagem, mas consegue debater. No UFC é mais difícil, mas é algo que está no nosso radar. Para o digital, seguramente.

Tabela Copa Libertadores 2019

Grupo de WhatsApp futebol

O futebol no seu celular. Você pode receber mensagens instantâneas, via WhatsApp, para ficar bem informado sobre tudo o que vai acontecer nos principais clubes do país. Para receber diariamente as principais notícias, resultados e classificação, basta seguir os passos abaixo. É muito simples. Junte-se a nós no Brasileirão 2018!!! Seja bem-vindo ao nosso grupo!

*

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]