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Freddy Eusébio Gustavo Rincón Valencia, de 43 anos, não tem pressa para ir embora. Senta-se no banco de madeira ao lado de dois jovens jogadores e gasta quase uma hora conversando. Gesticula muito enquanto fala sobre futebol e a vida fora dos gramados. "Os garotos me encontram e ficam com medo. Acham que sou muito sério. Depois veem que não é assim", conta o colombiano.

Contratado para ser o técnico da equipe B do Corinthians, Rincón tenta recomeçar a carreira. Desta vez, ele diz, da maneira correta. Como treinador de times profissionais, passou por Iraty, São Bento e São José, sem sucesso. "Eu errei. Iniciei em clubes sem estrutura. Isso está errado. Treinador sem experiência precisa de estabilidade. Isso o Corinthians oferece", afirmou.

Admitir os erros que cometeu na vida não é problema para ele. Rincón não vê qualquer assunto como tabu. "A minha vida inteira me comportei como alguém que fala a verdade. Como técnico, ainda sou assim. Porque jogador de futebol não é tonto. Ele sabe quem mente e quem é sincero", explicou o treinador, que brilhou com a camisa do Corinthians e Palmeiras, além da seleção colombiana.

O seu primeiro treino na formação da nova equipe corintiana, nesta quarta-feira, durou duas horas. Em boa parte do tempo, ele ficou à beira do campo, com a mão no queixo, observando os garotos em atividades de controle de bola e passe - dois fundamentos que Rincón dominou quase à perfeição quando era jogador. Não se apressou para encerrar o treino nem quando a chuva desabou no CT de Itaquera, na zona leste de São Paulo.

Rincón é um personagem singular. Atacante que passou a ser volante, foi ídolo de Palmeiras e Corinthians, acumulou polêmicas e, ao trocar o Parque São Jorge pelo Santos, em 2000, era o melhor jogador em atividade no futebol brasileiro. Uma mudança da qual hoje ele se arrepende. "Sabendo o que sei agora, acho que realmente foi um passo atrás na minha carreira. O Santos não era um clube profissional. Pelo contrário", lembrou.

No recomeço como técnico, Rincón não perde a esportiva para falar de nada. Encara como natural até as dúvidas sobre os 123 dias em que ficou preso em 2007 - é acusado de lavagem de dinheiro e associação ao tráfico e tem pedido de extradição do Panamá. "Mudei muito depois desse tempo. Vários conceitos que tinha da vida foram modificados. Nem tem como ser diferente. Não falo com mágoa, nem tristeza. Não faz parte do meu estilo ficar remoendo isso. O que passou, passou. Vamos em frente", revelou.

E "seguir em frente" significa dar certo no Corinthians, o mesmo clube no qual, há nove anos, ele levantou a taça de campeão mundial de clubes. A maior conquista da história da equipe. E da carreira de Rincón. "É bom estar de volta. Foi o time em que deixei um legado. Sempre quis retornar. Só consegui agora", admitiu.

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