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No tatame, o pacato Baby, apelido de Rafael Silva, se transforma em um gigante: paranaense é candidato a Londres-2012 | Caio Buni
No tatame, o pacato Baby, apelido de Rafael Silva, se transforma em um gigante: paranaense é candidato a Londres-2012| Foto: Caio Buni

Seletiva

João Derly sofre nova contusão

O drama de João Derly parece não ter mais fim. Depois de ficar 15 meses afastado das competições, quando passou por duas cirurgias no joelho esquerdo, o bicampeão mundial de judô voltou a lutar ontem, em Vitória (ES), durante a seletiva final para definir a seleção brasileira para a temporada 2011-2012. E sofreu uma nova contusão, dessa vez no outro joelho.

O torneio garante que o primeiro e segundo colocados de cada categoria carimbem vaga na seleção olímpica, recebendo investimentos da CBJ para competir em busca de pontos no ranking mundial, classificatório para a Olimpíada.

Bicampeão mundial dos meio-leves (até 66kg), em 2005 e 2007, João Derly sofreu grave lesão no joelho esquerdo em dezembro de 2009, quando tinha acabado de mudar de categoria - está agora nos leves (até 73kg). Quando preparava o retorno, seis meses depois da primeira cirurgia, surgiram novas dores no local e ele passou por uma artroscopia.

Assim, depois de tanto tempo de recuperação, voltou às competições ontem. Mas, durante a sua segunda luta na seletiva, contra Marcelo Contini, João Derly caiu no chão e sentiu a lesão no joelho direito, abandonando a disputa. A gravidade do caso ainda não foi determinada pelos médicos, mas o judoca ficou muito chateado.

"Faz parte do esporte", lamentou João Derly, que completa 30 anos em junho. Mesmo assim, ele conseguiu o quarto lugar e a última vaga disponível na seleção brasileira para o Grand Slam do Rio e na Copa do Mundo de São Paulo – espécie de equipe B.

A seletiva não contou com alguns dos principais nomes do judô brasileiro, como Leandro Guilheiro, Flávio Canto, Tiago Camilo, Mayra Aguiar, Sarah Menezes e Erika Miranda, que já estavam garantidos na seleção por causa da boa posição que ocupam no ranking mundial. Assim, outro destaque em Vitória foi Ketleyn Quadros.

Única medalhista olímpica do judô feminino brasileiro – foi bronze nos Jogos de Pequim, em 2008 –, Ketleyn Quadros passou por má fase, mas está se recuperando. Ela mostrou isso ontem, ao vencer a seletiva na categoria até 57kg, garantindo a sua presença na seleção durante a temporada de 2011, decisiva para formar a equipe que vai para a Olimpíada.

"Agora é focar os treinos para as competições internacionais e buscar pontos no ranking mundial. Fico feliz de poder seguir com o sonho de disputar mais uma Olimpíada", disse Ketleyn Quadros, após a boa participação na seletiva.

A principal revelação do judô masculino do Brasil segue o estilo japonês na luta, é formado pela tradição paulista na modalidade e é paranaense. Ainda pou­­co conhecido em sua terra na­­tal, quer ser reconhecido co­­mo atleta do Paraná. Aos 23 anos, Rafael Silva é a principal novidade brasileira nos tatames pelo mundo: neste ano, o peso pesado conquistou três medalhas nas principais competições internacionais. É o 15.º melhor do mundo em sua categoria e candidato a estreante na Olim­­píada, em Londres.

Rafael chama a atenção pela rápida ascensão no esporte. Co­­meçou a treinar tardiamente, aos 15 anos, algo pouco comum entre judocas do primeiro escalão. Amanhã, o atleta parte para mais um desafio rumo aos Jogos de 2012, seu principal objetivo. Vai à Guadalajara (México) para a disputa do Pan-Americano de Judô com a seleção brasileira. Além de tentar o bicampeonato na categoria acima de 100 quilos, quer somar pontos para o ranking mun­­dial, classificatório para Lon­­dres. Precisa estar entre os 22 melhores do mundo.

Hoje, estaria classificado se não fosse um senão: outro brasileiro, o veterano Daniel Hernan­­des, que tenta sua passagem para a terceira participação olímpica e é o 13.º melhor do mundo na ca­­tegoria super pesado. Os dois treinam juntos no Esporte Clube Pinheiros e são adversários constantes nas competições nas Amé­­ricas, Europa, Ásia... "É uma luta sempre decidida no detalhe. Já nos conhecemos muito no tatame. Fora dele, o Daniel me ajudou muito na minha adaptação em São Paulo", conta Silva.

O judoca é de Rolândia, Norte do Paraná, onde começou a fazer judô. "Nasci no Mato Grosso, mas minha família está há muitos anos em Rolândia. Meu avô foi para a cidade para trabalhar no mercado cafeicultor", conta, para explicar que não é descendente de alemães, como a maioria dos habitantes da cidade.

Treinou e competiu no Pa­­raná por dois anos. Em 2004, aos 17 anos, foi vice-campeão dos Jogos Brasileiros da Juventude. Perdeu o ouro para um paulista. Mas seu desempenho na final e o tamanho avantajado (2,03 metros de altura) chamaram a atenção de um dos técnicos de São Paulo, que o convidou para treinar no Projeto Futuro. O mesmo programa revelou Tiago Camilo, prata na Olimpíada de Sidney e bronze em Atenas, entre outros judocas. Rafael aceitou o convite.

Seus resultados nacionais são todos por São Paulo. "Talvez por isso não me conheçam muito no Paraná. Mas quero ser reconhecido como paranaense. É o lugar para onde vou quando quero descansar, ficar com a família", fala.

"No Paraná, o judô é bem fe­­chado, não vai muita gente de fora para elevar o nível técnico. Em São Paulo, melhorei muito, tanto pela qualidade dos atletas quanto pelas seleções que vêm treinar aqui", diz. "No Paraná também tinha muita burocracia", fala, referindo-se à uma re­­gra que vigorava nos campeonatos estaduais: judocas iniciantes disputavam uma categoria à parte, a estímulo, que não os colocava em combate com os principais atletas do estado.

Não foi só qualidade em competições que ele conquistou em São Paulo Também ganhou um apelido: Baby. Diz que é por seu jeito calmo e quieto a maior parte do tempo. Mas a graça da alcunha está em chamar um marmanjo de 2,03 m e 150 quilos de "bebê".

No ano passado, colecionou medalhas de ouro: foi campeão dos Jogos Pan-Americanos e das etapas de Madri e de São Paulo da Copa do Mundo. Ficou em quinto lugar no Mundial. Este ano, fez pódio nas três competições que disputou: ouro na etapa de Budapeste da Copa do Mundo e dois bronzes: um no Grand Prix da Alemanha e da Copa do Mun­­do em Varsóvia.

Atribui seus resultados à in­­tensa movimentação que submete seus adversários durante as lutas, fato pouco comum en­­tre pesos pesados. "Isso é resultado da minha escola. Tive e tenho técnicos descendentes de japoneses [que têm um judô baseado no uso da força do oponente, enquanto a escola europeia faz maior uso da própria força]", fala.

Mas não é só isso: ele também tem um ritual pré-competição em que desliga o pacato Baby e acende o guerreiro em busca de pódios: assiste a uma seleção dos melhores momentos de lutas do UFC (evento de MMA, lutas marciais mistas, sigla em inglês) ao som de um playlist de rock pesado. Ouve de AC/DC a Iron Maden. "Todo atleta tem seu ritual. Uso esses meios para atingir um nível psicológico ideal para lutar", explica. Tem funcionado.

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