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Experiência de Roger Guerreiro é trunfo do Leão da Estradinha | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Experiência de Roger Guerreiro é trunfo do Leão da Estradinha| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Viena, 12 de junho de 2008, Estádio Ernst-Happel, 30 minutos do primeiro tempo. Roger Guerreiro, então com 26 anos, entrava para a história da seleção polonesa ao marcar o primeiro gol do país na Eurocopa, contra a Áustria, dona da casa. Ele foi eleito pela Uefa o melhor jogador em campo.

Seis anos e meio depois de se tornar o herói polonês, Roger, agora com 32 anos, dá um pique no gramado falho e acidentado do Estádio da Estradinha, em Paranaguá. Ele não se destaca no meio do elenco. É apenas mais um. Carrega, junto com jovens que acabaram de ser promovidos da categoria de base, uma estrutura de ferro que serve de barreira para cobranças de faltas. Em uma das cobranças, faz o papel de gandula e corre para buscar a bola que caiu atrás do alambrado enferrujado que cerca o campo. Na roda de bobinho, corre e se diverte como um novato.

"A gente precisa trabalhar de acordo com o que é oferecido. Independentemente de ter uma estrutura muito boa, como já peguei na Europa e em times grandes, como Corinthians e Flamengo, vim da várzea e trabalhei em estruturas não muito boas", afirma Roger. "Acho que você tem de se adaptar e viver o seu presente. Costumo brincar com minha esposa que não posso chegar com meu currículo em um supermercado e com ele pagar minha conta. Acho que a gente tem de viver o presente, e o meu é o Rio Branco", diz o jogador.

Após passagens por times grandes do Brasil e por equipes da Europa, o jogador já poderia se dar ao luxo de uma aposentadoria – ele tem uma cafeteria em Florianópolis, já "pensando no futuro". Mas por enquanto o amor ao futebol fala mais alto. "Não sei fazer outra coisa", sentencia.

A contratação de Roger Guerreiro pelo Rio Branco foi articulada pelo gerente de futebol Edson "Neguinho". Agenciado pela Impacto Futebol & Marketing, ele recorreu a José Neto, dono da agência, para encontrar um "meia de nome". Neto, que também é agente de Roger Guerreiro, sugeriu o ex-jogador da seleção polonesa. Segundo Neto, a transação é normal no meio futebolístico. "Não tem nenhum tipo de favorecimento", garante.

Seu novo técnico, Amauri Knevitz, campeão paranaense pelo Paranavaí em 2007, elogia a "simplicidade e humildade" de Guerreiro, e vê no jogador exatamente o que precisava para liderar seu time de garotos. "É um jogador com um bom histórico de grandes jogos, grandes decisões, grandes clubes, mas no dia a dia é de uma simplicidade que até nos surpreende, pelo muito que ele já viveu no futebol. Vai ser o jogador 'pensante' do time, que vai acalmar o time, tranquilizar, organizar do meio para frente. É um jogador que, tenho certeza, vai nos ajudar muito na competição", projeta Knevitz.

Antes de chegar ao clube de Paranaguá, Roger passou no Brasil por Guaratinguetá, em 2013, onde não pôde jogar por problemas de documentação, e no Comercial-SP, onde foi prejudicado por uma lesão no joelho.

A volta ao país natal não foi tão traumática quanto a ida para a Polônia, onde chegou a enfrentar temperaturas de -30°C e não sabia a língua local. Nem inglês.

Solteiro, para se comunicar com as "muitas mulheres bonitas" que lhe davam bola, precisava usar de malabarismos tecnológicos. "Recebia as mensagens e mandava para minha tradutora. Depois de as receber traduzidas, mandava de volta para elas. Também rolava de ligar para a tradutora três horas da manhã para pedir remédio para mim na farmácia. No restaurante eu não sabia o que pedir para comer, tinha de me virar com gestos. Para pedir um frango eu tinha que balançar os braços", lembra.

Nem tudo foi engraçado. "Houve situações como lojas de shopping onde não quiseram me atender e torcedores fazendo som de macaco no campo", recorda. Até na discoteca chegou a ser barrado.

Nada, porém, que o abalasse. "Tenho um lado psicológico muito bom e passei por isso até com uma certa tranquilidade. Os mesmos que fizeram som de macaco me aplaudiram quando eu fiz gol na Eurocopa."

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