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Hoje era para ser um dia de festa na Vila Capanema, com a conclusão da primeira parte das obras de revitalização do estádio. O atraso tem um motivo. Com 69 anos, completados na segunda-feira, o tradicional Durival Britto e Silva não possui o que pode se chamar de planta-baixa, ou seja, o relatório de tudo o que o solo esconde sob gramado, arquibancadas e construções.

Cabos de força e canos de esgoto formam um emaranhado decifrado por apenas uma pessoa: José Santos, o Seu Zé, 79 anos, o administrador do estádio do Paraná.

Com olhar atento, supervisiona e é um guia para cada passo da obra. Funcionário mais antigo do clube, ele espera ansioso pela maior reforma já feita na sua segunda casa – ou, por muitas vezes, a primeira mesmo.

Seu Zé é um patrimônio tricolor. Resistiu às fusões, às fases áureas e decadentes e está no clube desde o dia 11 de setembro de 1958. "Vim de Ponta Grossa para ajudar na instalação das torres de iluminação e me esqueceram aqui", brinca.

Era a época do Ferroviário e ele fazia parte do quadro de funcionários da Rede. E não era um caso isolado. Todo o staff do estádio e até alguns jogadores cumpriam expediente na empresa de transporte férreo e depois trocavam os ternos por calções e chuteiras. "Estou há tanto tempo porque gosto muito do que faço", garante.

Pancadaria inesquecível

Apesar de quase meio século na Vila, sendo o primeiro a chegar e o último a sair, assistir aos jogos é um luxo. Afinal, Seu Zé está sempre envolvido com a logística do espetáculo.

Tanto que tem até dificuldade para lembrar de um confronto marcante. Até recorda, mas não pela parte técnica ou pelos craques em campo, mas por algo inusitado.

Em 1960, Ferroviária, de Araraquara, e América, do Rio de Janeiro, se enfrentaram como parte das comemorações pela nova iluminação do estádio. "Foi a maior confusão que já vi. Os times se desentenderam por causa de um lance, aos 20 minutos do segundo tempo, e os 22 jogadores, mais os integrantes dos bancos de reservas e a polícia brigaram. A partida nem terminou", recorda. "Ainda assim a torcida saiu rindo. O jogo foi uma m..., mas a briga..."

Nesses anos, o administrador viu o futebol sair do amadorismo com pesar. "Hoje chegam 20, 30 jogadores no começo do ano e vai todo mundo embora sem olhar para trás. Antes havia amizade, confiança e uma identificação com o clube", lamenta.

A maior mágoa, entretanto, foi quando a sua Vila deixou de abrigar os jogos. "Fiquei muito decepcionado. Como pode um clube como o Paraná, que teve um patrimônio incrível, ir jogar no Pinheirão? Se o clube tivesse feito um degrau por ano, hoje estaria com um estádio com capacidade para 20 mil pessoas. Muito melhor do que querer fazer tudo num mês", critica.

Apesar disso, ele se sente orgulhoso com a reforma e disposto a encarar um trabalho ainda mais intenso. "Minha responsabilidade vai aumentar aqui. Mas é um grande presente pra torcida. Essa é a casa do Paraná", afirma o inquilino mais antigo do Durival Britto e Silva.

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