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Atacante Hulk, um dos jogadores que declararam apoio aos protestos, cobra escanteio no Castelão, palco  de R$ 518 milhões de dinheiro público | Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo
Atacante Hulk, um dos jogadores que declararam apoio aos protestos, cobra escanteio no Castelão, palco de R$ 518 milhões de dinheiro público| Foto: Albari Rosa, enviado especial/ Gazeta do Povo

A seleção fará hoje um dos jogos de maior carga política da sua história. Instrumento que já serviu de propaganda a governos militares e democráticos, a equipe brasileira enfrentará o México, às 16 horas, no Castelão, em Fortaleza, em meio ao turbilhão causado pelos protestos que levaram, na segunda-feira, 250 mil pessoas às ruas em pelo menos 20 cidades do país.

Uma manifestação está marcada na frente do estádio antes do jogo. Dentro, torcedores prometem virar de costas durante o Hino Nacional. Jogadores, habitualmente avessos a opinar sobre política, declararam apoio à mobilização social, contrariando a neutralidade pregada anteriormente por Luiz Felipe Scolari.

"Sou a favor de manifestação pacífica, de o cidadão ter direito de expressar sua opinião. Só assim é possível enxergar onde estão os erros e melhorar", afirmou o zagueiro David Luiz, primeiro a falar em entrevista sobre o tema.

Uma manifestação pací­­fica é o que está previsto pa­­ra ocorrer no entorno do Castelão. Organizada pelo mo­­vimento "Mais pão, menos circo. Copa para quem?", partirá ao meio-dia de um supermercado perto do estádio. São esperadas 10 mil pessoas, incluindo policiais (com máscaras para evitar retaliações) – a classe reivindica aumento salarial.

"A polícia está completamente ao lado do povo. Já ocorreram duas manifestações aqui na última semana [contra a violência e de trabalhadores do transporte público], tudo transcorreu sem conflito. Iremos lá dar nosso apoio e mediar qualquer tipo de conflito", disse o capitão Vágner, policial militar e vereador em Fortaleza.

A pauta ampla será uma marca do ato. Os gastos com a Copa de 2014 em detrimento de investimentos sociais, porém, devem ser o principal foco, especialmente após a confirmação, ontem, pelo Ministério do Esporte, de um acréscimo de 9,7% no orçamento. A nova fatura, de R$ 28 bilhões, será oficializada após a Copa das Confederações.

Na segunda-feira, protestos contra a Copa e por investimentos sociais levaram manifestantes até a frente do hotel da seleção. Os jogadores não ouviram os gritos do grupo, mas acompanharam a mobilização nacional pela tevê e internet. À Gazeta do Povo, David Luiz disse que o assunto monopolizou a conversa entre os atletas no jantar.

"Por vir de baixo, e hoje graças a Deus estar em uma posição boa, bate um pouco a vontade de estar junto na rua. Eles têm total razão no que falam e faz sentido serem ouvidos. Sabem que o Brasil precisa melhorar muitas coisas. A gente sabe que é verdade e por isso sente também", disse o atacante Hulk.

Daniel Alves e Dante também declararam apoio aos protestos em redes sociais. "Por um Brasil melhor, por um Brasil em paz, por um Brasil educado, por um Brasil saudável, por um Brasil honesto, por um Brasil feliz", escreveu o lateral. "Vamos juntos, Brasil. Amo meu povo e sempre apoiarei vocês", reforçou o zagueiro.

Diante dos episódios em todo o país, Felipão também declarou apoio às manifestações e negou ter proibido seus comandados de se expressarem. "Meus jogadores têm total liberdade para opinar sobre qualquer assunto, desde que cada um assuma a responsabilidade. Parece-me que essa alienação que é sempre posta aos nossos atletas está deixando de existir".

Somente o presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa, José Maria Marín, segue com um discurso dissonante. Ontem, em São Paulo, o cartola disse que as manifestações não entrarão no estádio. "Nada irá acontecer dentro dos estádios. Fora do estádio não cabe à CBF", disse o dirigente, que deve ter uma surpresa.

Torcedores se articulam na internet para agir dentro do Castelão. Há a promessa de exibição de cartazes contra a Fifa, a CBF e os gastos da Copa, além da convocação para que todos fiquem de costas durante a execução do hino.

Mais prudente, a Fifa passou a demonstrar simpatia à mobilização popular. "Mes­­mo que esteja acontecendo durante a Confederações ou se acontecer durante a Copa, as pessoas, em uma democracia, têm o direito de protestar, e temos de aplaudir", disse o coordenador de respon­­sabilidade social, Fe­­de­­rico Addiechi.

E o presidente da entidade, Joseph Blatter, lembrou: "O Brasil pediu essa Copa do Mundo. Nós não a impusemos ao país."

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