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A equipe do Hold Yager Hockey, antes do treino desta semana, no 3 Marias: os próprios jogadores bancam os custos para jogar – só o uniforme sai por R$ 1,5 mil | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
A equipe do Hold Yager Hockey, antes do treino desta semana, no 3 Marias: os próprios jogadores bancam os custos para jogar – só o uniforme sai por R$ 1,5 mil| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Quinta-feira, 23 horas. Horário em que boa parte de Curitiba já está na cama e para os notívagos significa o começo dos embalos de fim de semana. Enquanto isso, o silêncio do ginásio do Clube 3 Marias é quebrado pelo barulho de tacos de hóquei contra o piso. Os sons denunciam o começo do treino do Hold Yager Hockey, time de hóquei com patins inline formado em 2006 e hoje a melhor equipe do sul do país no ranking da Confederação Brasileira de Hockey no Gelo (CBHG), na 18ª colocação.

O treino acaba só à meia-noite e meia, no início da sexta-feira. O horário alternativo é o único em que os 15 atletas (estudantes, advogados, administradores de empresas e engenheiros durante o dia) conseguem se encontrar durante a semana, além dos treinos nos sábados à tarde.

"Foi a solução que encontramos para poder evoluir", explica o Guilherme Tecchio, 27 anos, bacharel em Turismo. O atacante hoje cursa Educação Física motivado pela paixão ao hóquei e acumula a função de técnico do grupo. Na arquibancada vazia, namoradas, alternando-se entre a leitura de livros e revistas e a atenção à quadra.

Equilibrando-se entre trabalho, estudos e treinos, o time tem sido recompensado: em março foi bicampeão paranaense e há uma semana venceu a Divisão 3 do Campeonato Brasileiro. Na mesma competição, o goleiro (e engenheiro mecânico) Guilherme Vanzin foi eleito o melhor na posição. O título valeu vaga para a disputa da Divisão 2, de 5 a 7 de setembro, em Sertãozinho (SP).

Tais resultados cumprem parte da meta autoimposta pelo grupo para 2009: chegar à Divisão 2 e ali se manter. "Ano passado, subimos da Divisão 3 para a 2. Mas acabamos caindo", conta o atacante (e advogado) Key Miyasaki, um dos veteranos da equipe.

A média de idade do Hold Yager é de 27 anos. O grupo se conhece há mais de uma década, quando começou a brincar na modalidade, nova no país. Os patins surgiram no Brasil como febre em meados da década de 1990. Junto deles, vinha o jogo do hóquei inline, surgido em 1994 nos Estados Unidos como alternativa para os atletas do hóquei no gelo não interromperem os treinos no verão.

O incentivo final veio do cinema. Produzido pelos Estúdios Disney, o filme The Mighty Ducks narrava a história de um time de garotos praticantes do esporte. O sucesso de público rendeu duas continuações e uma sátira no desenho politicamente incorreto South Park.

"Em 1999, jogávamos em outros times que já não existem mais. Alguns no Curitiba Hockey, outros no Quatro Barras ou no Cobaias. A vontade de continuar jogando nos juntou para fundar o Hold", relembra Tecchio. "Queríamos investir no alto rendimento, competir, sair do nível da brincadeira", completa Miyazaki.

"Time lutador"

O Hold Yager, que desde sua fundação treinava em quadras emprestadas, fixou-se fevereiro no ginásio do 3 Marias, cedido aos atletas, que, em contrapartida, associaram-se ao clube. A equipe bancou as adaptações no local, como as marcações das linhas no piso e a construção das bordas que impedem que o puck (nome dado ao disco usado nas partidas) saia da quadra.

Bancar, aliás, é verbo recorrente na história do grupo: cada um arca com os custos de treinos, preparação física e viagens para competir. "Só em uniformes, cada atleta investe cerca de R$ 1,5 mil", calcula o coordenador da equipe, Flávio Felipe da Silva, administrador de empresas fora da quadra.

Para amenizar os gastos, o atletas dão aulas para iniciantes. "O nome da nossa equipe vem do dinamarquês. Significa ‘time lutador’", lembra Vanzin, ao destacar que superar os obstáculos – inclusive financeiros – é uma das prerrogativas do grupo.

Com agendas difíceis de conciliar, os jogadores se comunicam via internet. É na rede virtual também que buscam novas técnicas de treinamento. "Acompanhamos jogos do mundial, das ligas canadense e norte-americana, baixamos (arquivos de) vídeo com treinos", conta Tecchio.

Seleção e intercâmbio

"Estamos seguindo o amadurecimento do hóquei inline no país. Os pioneiros do esporte no país começaram ainda moleques e hoje começam a ver uma segunda geração surgir", diz o atacante-treinador, que começou a jogar há 13 anos e já defendeu a seleção brasileira. Em 2000, disputou o Campeonato Mundial na República Tcheca.

Em 2008, foi a vez de o goleiro Rodolfo Buschle representar o Hold na seleção. A experiência internacional do grupo inclui a participação em campeonatos defendendo outros times. Tecchio e Vanzin disputaram em torneios em San Diego e Phoenix, respectivamente, durante intercâmbios que fizeram nos Estados Unidos.

O atacante Nicolau Mendes Gomes da Silva, 17 anos, é o mais jovem do grupo. Mas não fica atrás em experiência. Joga hóquei in-line desde os 10 anos e disputou a temporada 2008/2009 por uma equipe de Niágara Falls (Canadá) de hóquei no gelo. Qual a importância da passagem do garoto por quadras canadenses para o time?

"É como se um estrangeiro viesse passar uma temporada no Brasil para treinar futebol. Ganha muita experiência, volta com muita cancha, aprende as malícias do jogo e isso eleva a qualidade do time", responde o goleiro Vanzin.

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