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Quatro técnicos, 26 jogadores, 14 partidas. A mais vitoriosa participação do Atlético na Copa Libertadores entrou para a história do clube e da principal competição interclubes do continente. Desacreditado no início do torneio, o Furacão viu a vaga para a segunda fase escapar e voltar para o seu colo em uma noite de pesadelo na Arena, deixou o torcedor apreensivo diante da sempre tensa disputa de pênaltis. Foi à forra contra rivais recentes e calou a bola de quem duvidou da sua capacidade de brilhar na competição. O repórter Marcio Reinecken, único jornalista a cobrir todos os 14 jogos do clube, conta a jornada rubro-negra pela América.

15/02/05A estréiaIndependiente 2 x 2 Atlético

O início do Atlético na Libertadores da América foi marcado por confusão e desconfiança. Entre os jogadores, o goleiro Diego nem viajou para Medellín. Com os braços cortados, ele se viu envolvido em boatos de que teria sido atingido por uma garrafada desferida pelo recém contratado atacante Maciel, na festa de despedida do zagueiro Rogério Correia.

Já o técnico Casemiro Mior sofria fortes pressões para colocar o volante Ticão no lugar de Rodrigo Souto, e já começou a competição com a corda no pescoço. Pelo fraco desempenho da equipe no Paranaense, o resultado da partida seria decisivo para a seqüência de seu trabalho.

Surpreendentemente, o Atlético comandou o jogo quase do início ao fim da partida. Com gols de Marcão (em uma falta da intermediária) e Denis Marques, o Rubro-Negro abriu 2 a 0 e poderia ter matado a partida no início do segundo tempo. Mas os oito últimos minutos, quando o time de Mior tomou dois gols, voltaram a lembrar o Brasileiro do ano anterior, quando o Atlético deixou o título escapar em um empate desastroso por 3 a 3 com o Grêmio.

O técnico saiu ileso do empate e os culpados pela diretoria acabaram sendo os jogadores – principalmente Cocito (que atuava fora de posição, como líbero) e Marín, expulso quando o jogo ainda estava 2 a 1.

01/03/05A primeira na ArenaAtlético 1 x 0 Libertad

O primeiro confronto pela Libertadores em Curitiba não foi suficiente para o comparecimento em massa do torcedor. Pelo horário (às 18h30) e ainda a instabilidade da equipe no Paranaense, pouco mais de 12 mil pessoas pagaram para ir à Arena. E enquanto o jogo permanecia num truncado 0 a 0, o presidente do Conselho Deliberativo, Mário Celso Petraglia, foi o alvo das críticas das organizadas – a briga era pela proibição da entrada da bateria no estádio. O jogo marcou a estréia de Aloísio na frente, e também do atacante Maciel – que teve seu único momento de glória no Rubro-Negro. Foi dele o gol da partida, num contra-ataque rápido em que driblou o zagueiro e chutou forte para dentro das redes. A equipe saiu de campo aos gritos de olé, mas mesmo assim não apresentou um grande futebol. Nos vestiários, Maciel esbanjou modéstia: "Eu ainda estou só com 70% de minha forma física. Se estivesse 100%, pode ter certeza de que o resultado não seria apenas 1 a 0. Teria sido muito mais".

10/03/05A queda anunciadaAmérica 3 x 1 Atlético

Embora Casemiro Mior tenha sido demitido só após o primeiro Atletiba da final do Paranaense, o jogo decisivo para sua queda foi a derrota por 3 a 1 para o América de Cali. Sem abrir mão de jogar com três zagueiros e dois volantes, Casemiro ainda ignorou as dicas do espião Borba Filho (trazido pessoalmente pelo presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mário Celso Petraglia), que alertou o técnico para realizar uma marcação especial em cima do meia David Ferreira. E foi das jogadas do hoje atleticano que o América construiu os seus três gols. Após a partida, teria havido o seguinte diálogo entre o dirigente e o treinador:

Petraglia – O que você achou do David Ferreira?

Mior – Não vi nada de especial nele.

Petraglia – Pudera, ele acabou com o teu time!

Depois disso, Casemiro ainda dirigiu o Atlético em sete partidas do Paranaense, mas não voltou mais ao torneio continental.

14/04/05O resgate de LimaAtlético 2 x 1 América

Edinho comandou o Atlético do banco de reservas nesta partida decisiva na Libertadores. Mas o mentor da vitória foi o então auxiliar Lio Evaristo. Foi ele quem treinou a equipe e armou o esquema de jogo. Edinho havia chegado ao clube apenas dois dias antes, mas fez questão de ficar à beira do gramado. Nas vésperas da partida final contra o Coritiba, a semana foi marcada pela roupa do presidente do clube, João Augusto Fleury, que apresentou o novo treinador vestindo um terno verde – a prioridade, naquele momento, era o Paranaense. Mas o jogo contra o América, além de deixar o Rubro-Negro bem próximo da classificação, serviu para resgatar aquele que seria o maior nome do time na reta final da competição: o atacante Lima. Se com Mior o jogador nem sequer ficava no banco de reservas, Edinho resolveu dar uma chance ao até então mais criticado atleta do clube. Lima entrou faltando seis minutos para o fim da partida e marcou o gol da vitória atleticana. Era o começo da consagração.

20/04/05Despedida de Denis MarquesLibertad 1 x 2 Atlético

Motivado pela conquista do Campeonato Paranaense em cima do Coritiba, mas desgastado pela seqüência de jogos, o Atlético enfrentou o Libertad e trouxe um resultado inesperado: a primeira vitória fora de casa. Desfalcado do capitão Marcão e do meia Fernandinho (ambos se machucaram no Atletiba), o Rubro-Negro viu Denis Marques decidir o último jogo que fez com a camisa do Atlético antes de começar a cumprir a suspensão imposta pela Fifa (que só termina no dia 20 de agosto). Foi dele o primeiro gol e o passe para o segundo – deixou Maciel na cara do goleiro.

Nas entrelinhas, toda a comissão-técnica falava abertamente de um apoio incondicional ao técnico Edinho, que estaria aproveitando melhor o potencial dos profissionais do clube. Contudo, após este jogo, alguns membros da comissão iniciaram a fritura do treinador. Um deles seria o então auxiliar técnico Lio Evaristo, que estaria insatisfeito por ser o eterno treinador interino do Rubro-Negro.

10/05/05O milagreAtlético 0 x 4 Independiente

O Atlético só precisava do empate para garantir a classificação à segunda fase da Libertadores, mas acabou goleado pelo Independiente, na Arena. A classificação só veio por um verdadeiro milagre – uma vitória do lanterna Libertad sobre o América, em Cali. Apesar da vaga, a performance em campo – marcada por vaias ininterruptas da torcida – provocou mudanças profundas no Rubro-Negro. O técnico Edinho, o auxiliar Lio Evaristo e mais 14 jogadores que quase nem haviam atuado na competição foram dispensados. No dia seguinte, Rodrigo Souto (um dos poucos da lista que jogaram) foi flagrado deixando o CT do Caju chorando e com um saco de lixo nas costas.

O desespero da diretoria atleticana também se refletiu na entrevista coletiva do presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mário Celso Petraglia. Entre gritos, e visivelmente descontrolado, Petraglia disparou a profecia que deverá lhe perseguir por longo tempo: "Vocês pensam que o Atlético vai ser campeão da Libertadores agora?! Não vai, não!"O que o dirigente não sabia é que após a goleada sofrida para o América, ainda nos vestiários, os jogadores fizeram um pacto: "Falamos que se tínhamos nos classificado daquela forma, então ninguém mais iria conseguir nos parar", lembra Fabrício.

19/05/05O verdadeiro começoAtlético 2 x 1 Cerro Porteño

Esqueça a primeira fase. A Libertadores começou para o Atlético nesta partida, a primeira das oitavas-de-final. Com Borba Filho no comando interino da equipe, a volta do esquema 4–4–2 e a reconciliação entre diretoria do clube e as torcidas organizadas (a bateria e as faixas foram liberadas no intervalo da partida), o time recebeu um amplo apoio e acabou com uma invencibilidade de 19 jogos do Cerro Porteño. O jogo também marcou a consolidação de Lima na equipe. O jogador teve uma atuação excepcional, marcou um gol, deu passe para o outro e foi um show à parte.

Para a partida, Borba Filho realizou as três substituições possíveis atletas na lista de inscritos na Libertadores: entraram Leandro, Rodrigo e Cléo, saíram Rodrigo Souto, Paulo André (que nem havia sido contratado ainda) e Jairo.

Foi ele também que iniciou a união do grupo. Ao assumir, reuniu todos e avisou: "Vai quem estiver comigo!" Aloísio, mesmo machucado, foi um dos primeiros a levantar. E Maciel, que avisou que só iria treinar se fosse coletivo, nunca mais vestiu a camisa rubro-negra.

26/05/05Descrédito – parte 1Cerro Porteño 2 x 1 Atlético

Com Antônio Lopes nas arquibancadas e Borba Filho no gramado, o Atlético começou a ganhar confiança e auto-estima na segunda partida das oitavas-de-final. Para começar, foi a primeira vez em que teve contato com o descrédito e o menosprezo do adversário. Os jornais e programas esportivos de tevê do Paraguai não tinham dúvidas de que o Cerro obteria facilmente a classificação. A confiança logo se transformou em desdém e arma para motivar o time paranaense. Nos bastidores, os jogadores começaram a trabalhar, com o psicólogo Gilberto Gaertner, com a meta de chegar a final. Mas dentro de campo não foi nada fácil: a derrota pelo mesmo placar do jogo de Curitiba levou a decisão para os pênaltis – e Diego defendeu a última cobrança. Após a partida, entre um uísque e outro no cassino do hotel, a cúpula rubro-negra deixou escapar a expectativa que havia trazido do Brasil: "Estávamos com a lista da degola pronta, agora vamos ter de esperar mais um pouco".*Resultado nos pênaltis.

01/06/05InacreditávelAtlético 3 x 2 Santos

A partida que fez o torcedor começar a acreditar que o sonho poderia virar realidade. No ápice do descrédito, o Atlético, mesmo com um jogador a menos durante a maior parte do jogo, venceu o Santos de Robinho, Léo, Ricardinho e Deivid por 3 a 2, e de virada.

Mesmo com apenas dois dias de trabalho, Lopes foi decisivo. Ele corrigiu o posicionamento do time e montou um esquema de marcação para anular as estrelas santistas.

Os gols atleticanos foram marcados por Evandro, Marcão e Lima (todos com auxílio do goleiro Henao) e a torcida foi pela segunda vez no torneio o 12.º jogador, incentivando sem parar, mesmo quando o Santos abriu o marcador, logo no início do jogo.

Na escalação da equipe, duas novidades. Baloy, que havia se desentendido com Lopes na partida contra o Flamengo, pelo Brasileiro, acabou barrado (e depois emprestado) – Durval assumiu definitivamente a posição. André Rocha, até então execrado pelo torcedor, entrou no meio do jogo como volante e ganhou a confiança do treinador. André bateu a falta que resultou no rebote transformado por Marcão no segundo gol e deu o passe para Lima garantir a vitória atleticana.

15/06/05A vingançaSantos 0 x 2 Atlético

Os foguetes no meio da noite, em frente ao hotel onde o Atlético estava hospedado, não foram suficientes para diminuir o ímpeto rubro-negro. Com um esquema forte de marcação, a mítica Vila Belmiro e o atual campeão brasileiro não foram capazes de parar o Furacão.

Outra vez Antônio Lopes deu um nó em Gallo. E nos contra-ataques selou a classificação com um indiscutível 2 a 0. Desta vez, Aloísio assumiu a condição de herói, ao marcar os dois gols. O primeiro em uma jogada de raça, entre os zagueiros do Peixe.

Nesta partida, a "sorte" esteve do lado rubro-negro. Na semana do jogo, o Santos perdeu uma briga com a CBF (para poder contar com os convocados Robinho e Léo) e outra com a Conmebol (que não aceitou a inscrição de Giovani no meio da fase).

Mas o detalhe não impediu os pouco mais de 3 mil atleticanos que foram à Vila de soltar o grito de desabafo da garganta. O "hino" predileto foi um provocativo "nuvem passageira" ao Peixe, que novamente caía no torneio continental. Uma doce vingança.

23/06/05Descrédito – parte 2Atlético 3 x 0 Chivas

O Chivas já estava desfalcado de quatro titulares convocados para a seleção mexicana que disputava a Copa das Confederações na Alemanha, mas foi após a declaração de seu presidente, Jorge Vergara, que se pode dizer: ali os mexicanos foram derrotados por antecipação. Vergara, conhecido em Guadalajara por ser falastrão, afirmou que iria ganhar de 2 a 0 na Arena mesmo com sua equipe desfalcada. Lopes riu e se aproveitou.

Novamente movido pelo descaso, o time atleticano fez o seu maior placar na Libertadores: aplicou uma goleada de 3 a 0 sobre o Chivas. Contudo, nem o resultado, que praticamente garantia o Furacão na final do torneio continental, fez a diretoria rubro-negra começar a se mexer para poder atuar em casa na decisão. A partida marcou o retorno de Fernandinho à Libertadores. Parado desde o Atletiba decisivo do Paranaense, quando fraturou o pé, o jogador voltou, marcou um gol de falta, mas mostrou nítida falta de ritmo de jogo. Os outros gols foram marcados por Aloísio e Fabrício – um golaço de fora da área.

30/06/05SustoChivas 2 x 2 Atlético

Com o histórico Estádio Jalisco lotado com 65 mil torcedores e o placar de 1 a 0 para o Chivas, o primeiro tempo chegou a deixar o torcedor atleticano temeroso. Mas a noite era do Furacão e, mais especificamente, de Lima, que marcou dois gols e garantiu o Atlético em sua primeira final de Libertadores.

A viagem ao México foi a segunda que contou com a presença do presidente do conselho deliberativo rubro-negro, Mário Celso Petraglia (ele também acompanhou o jogo em Santos). Após a classificação, o dirigente voltou a falar – estava calado desde a entrevista desabafo, em meados de junho. Dessa vez, para dizer que havia sido mal interpretado quando falou que o Atlético não teria condições de ser campeão.

Nos bastidores, o Rubro-Negro arquitetava a construção de arquibancadas tubulares na Arena para que o estádio comportasse os 40 mil lugares exigidos pela Conmebol na final da competição. Mas como tudo foi feito muito em cima da hora (e o Coritiba se negou a emprestar o Couto Pereira), o Atlético teve mesmo de jogar a primeira decisão de um time paranaense na Libertadores fora do estado.

06/07/05Longe de casaAtlético 1 x 1 São Paulo

No Beira-Rio, para pouco mais de 25 mil torcedores entre paranaenses, gaúchos e paulistas, Atlético e São Paulo fizeram um jogo em lugar praticamente neutro. A frieza das arquibancadas não pareceu intimidar o Furacão no início da partida. O time de Lopes foi para cima, marcou com Aloísio e poderia ter definido o jogo em outra jogada cruzada da direita.

Na volta do intervalo, em uma azar de Durval, o São Paulo obteve o empate após Diego rebater a bola na cabeça do zagueiro. Sobre a partida, Aloísio declarou depois: "Se fosse na Arena, teríamos vencido com tranqüilidade, pois na hora do gol ficamos perdidos e nossa torcida não deixaria isso acontecer".

Nas provocações de bastidores, Amoroso havia declarado que depois da final o Morumbi passaria a se chamar Morumtri (uma alusão a possibilidade do Tricolor conquistar a América pela terceira vez). Mas o Atlético ainda se remoía com a negativa do Coritiba de não ter liberado o Couto Pereira para o jogo. A vingança só veio com a vitória do time reserva sobre o rival por 1 a 0, quatro dias depois, pelo Brasileiro.

14/07/05Fim do sonhoSão Paulo 4 x 0 Atlético

Setenta mil torcedores são-paulinos lotaram o Estádio Morumbi e a partida decisiva da Libertadores foi transmitida para mais de 100 países: a América estava no olho do Furacão.

Nos bastidores, a briga entre rubro-negros e são-paulinos continuou. Dessa vez, a discussão foi pelo número de ingressos que os paulistas queriam oferecer aos paranaenses: 2 mil. Novamente o Tricolor venceu a queda de braço. Nada disso, contudo, refletiu na equipe na semana que antecedeu a grande final.

A possibilidade de conquistar o título inédito fez o discurso dos jogadores atleticanos. Na fisionomia de cada um o reflexo da determinação e vontade. Antônio Lopes utilizou o descrédito da imprensa paulista para motivar os atletas e em campo surpreendeu ao colocar André Rocha e Evandro no lugar de Alan Bahia e Fernandinho.

Mas a equipe iniciou a partida apagada. A raça característica do Furacão na grande campanha acabou sendo vista apenas nos jogadores do São Paulo. E sem a raça característica, o título foi ficando mais distante a cada minuto da partida.

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