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Os investimentos em segurança prometidos para o Rio de Janeiro, caso seja escolhido sede das Olimpíadas de 2016, não podem ser episódicos, apenas durante o evento, mas devem deixar um legado permanente para a cidade. A opinião é de especialistas em segurança, que criticam a descontinuidade nas ações contra a violência adotadas durante os Jogos Pan-Americanos de 2007, mas que não foram implantadas após o megaevento esportivo.

"A Copa do Mundo e as Olimpíadas têm hora para começar e hora para terminar. A questão é sustentar a segurança pública antes, durante e depois. Porque diante de um espetáculo a gente sobrecarrega de recursos policiais. Mas qual o legado que vai ficar para a cidade e para o estado?", questionou a antropóloga e cientista política da Universidade Cândido Mendes (Ucam) Jaqueline Muniz.

Ela lembrou a forma como o processo ocorreu durante o Pan, quando os bairros que abrigaram competições ficaram altamente policiados, inclusive com ajuda da Força Nacional de Segurança, que depois foi embora.

"Por isso, temos que discutir de maneira mais profunda quais são as nossas necessidades em termos de segurança. Não podemos nos iludir com o sucesso do imediato. O sucesso de hoje pode ser o fracasso de amanhã. Tivemos dificuldades para fazer valer o legado do Pan. Tivemos uma sobrecarga de recursos de segurança pública que depois foram dispersos", criticou Jaqueline.

A herança positiva que um evento internacional como as Olimpíadas, ou mesmo uma Copa do Mundo, pode deixar para a cidade também foi questionada pelo diretor da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa.

"É lógico que eu quero olimpíada no Rio de Janeiro. Quero os ganhos sociais da organização dos jogos na nossa cidade. Contudo sinto-me profundamente frustrado e desrespeitado, como cidadão, quando vejo uma mobilização da prefeitura, do governo do estado e do governo federal para a realização dos Jogos Olímpicos e não percebo a mesma mobilização para que os cariocas parem de ser assassinados", afirmou.

A Rio de Paz é responsável por manifestações performáticas contra a violência, usando imagens repetidas s centenas, como cruzes fincadas nas areias da praia ou pessoas deitadas no chão representando os assassinatos de inocentes. Segundo números da organização, nos últimos dez anos 500 mil pessoas foram mortas de forma violenta em todo o país, sendo quase 20 mil só no atual governo do Rio de Janeiro.

"Tenho a preocupação de reeditarmos nos Jogos Olímpicos uma característica da nossa cultura, que é de fazer a coisa para inglês ver: maquiar e não ter uma solução definitiva para o problema. Outra preocupação é fazermos o que é correto, mas pelo motivo incorreto: eu não devo cuidar da segurança pública porque os Jogos Olímpicos estão se aproximando, mas porque a vida humana possui valor incalculável, com ou sem Jogos Olímpicos", ressaltou Costa.

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