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 | Andre Mourao/ Agência O Dia
| Foto: Andre Mourao/ Agência O Dia

Acompanhando os últimos de­­talhes da organização do Foote­­con, Fórum Internacional de Futebol, em Curitiba, Carlos Al­­ber­­to Parreira conversou com a Gazeta do Povo sobre o futebol mundial, nacional e a respeito do evento, que virou itinerante – passa pela capital paranaense em maio.

Muito se critica o fato de os treinadores brasileiros não terem uma formação adequada. Você concorda?

Eu acho que não falta capacidade. Falta capacitação. Na Europa, de um modo geral, existe essa preocupação do técnico em se ca­­pacitar, se formar, melhorar seu conteúdo, procurar aprender. Uma coisa é jogar, outra é dirigir pessoas, administrar situações. Essa formação é importante. O [Fábio] Capello treinou por cinco, seis anos a base do Milan, fez cursos na Federação Italiana, foi assistente do [Arrigo] Sacchi na seleção italiana. Mesmo o Guar­­diola trabalhou nas categorias de base até assumir o time principal [do Barce­­lona]. Os treinadores assumem muito rápido compromissos sem terem tido experiência de um, dois anos. Não e demérito treinar a base. O Zagallo trabalhou por dois anos no juvenil do Botafogo e não parou mais. Lá se aprende tudo.

Há pouca inovação tática entre os clubes brasileiros?

Nós temos um campeonato muito complicado e uma cultura de cobrança exagerada. A mídia co­­bra muito, os torcedores, dirigentes. O Joel [Santana] chegou e a manchete do segundo jogo dele era "Flamengo joga para eliminar a crise". No segundo jogo? Isso gera instabilidade. Hoje são quatro jogos em dez dias. O time só joga e se recupera, não dá tempo de fazer nada. É um calendário ingrato. Não dá para fazer um curso de formação, um estágio na Europa, a leitura de livros.

Por que a "onda Bielsa" não chegou no Brasil?

Eu diria para você que gosto do trabalho dele. Mas, se comparar o trabalho dele diante da seleção brasileira, ele perde 90% dos jo­­gos. Sei que não quer dizer nada. Não estou caindo no campo das comparações baixas. Mas em dois anos à frente da Ar­­gentina, não foi campeão e nem sequer che­­gou à final. O Capello, o Cruyff, o Guardiola, são modelos. Os técnicos precisam de uma reciclagem, um update.

Posse de bola e jogar no ataque... Jogar como o Barcelona – mesmo sem seus craques – é utopia ou é possível com treino e paciência?

O brasileiro sempre fez isso, é conhecido pela qualidade e posse de bola. Sempre foi admirado e de repente perdeu isso. Esse toque, essa habilidade. [Tem de] voltar a fazer o que fazia bem. Ter bons técnicos nas categorias de base. Esse Barcelona tem uma filosofia determinada para todo o clube, com gente integrada e que começou há 30 anos. Não é fácil. É muito mais do que no cam­­po e o grande responsável foi o Cruyff, que fez um sucesso grande e implantou a filosofia na base. Todos jogam da mesma maneira. Não só taticamente, é uma filosofia mesmo, arriscando mais. Dificilmente será copiada: tem 75% de posse de bola, é im­­pressionante. São de 600 a 800 passes por jogo, com 85% de acerto. Só um time muito trabalhado e técnico consegue isso.

Você não acha preocupante o estágio atual da seleção brasileira?

Não ficou uma base da Copa passada, então valem todas as experiências, usar todos os jovens nes­­se laboratório. Faltam dois anos ainda. Depois da Olimpíada ele [Mano Menezes] deve se concentrar na formação do time.

A Olimpíada é um problema no planejamento dos treinadores?

Nunca se levou tão a sério a Olim­­píada. Não faz parte do calendário da Fifa, mas é a única competição que [a seleção] não venceu, então é um desafio. Como o Bra­­sil não vai disputar as Elimi­­na­­tó­­rias, e isso atrapalha a beça, a Olim­­píada é importante.

Você trabalhou com uma das melhores gerações de atacantes do país. Como vê a situação atual para a posição?

Isso é cíclico, é normal. Hoje tem o Neymar, um dos melhores do mundo, o Leandro Damião, o Luís Fabiano, o Fred... Temos bons atacantes.

O Neymar será o melhor do mundo sem sair do Brasil?

Acredito que ele tem todo um talento para isso. O Messi chegou a esse estágio após seis temporadas na Europa. Ele pode [ser o melhor do mundo jogando no Brasil], mas sem dúvida nenhuma a exposição na Europa é bem maior.

O esquema do Ma­­no, com dois vo­­lan­tes, três...

Não quero co­­men­tar isso.

Não é dire­­ta­­men­­­te sobre is­­so, Parreira. O es­­quema do Ma­­no com dois vo­­lan­tes, três meias-atacantes e um atacante, está na moda na Europa. Isso facilita para os jogadores?

No esquema, não se dá tan­­­­ta im­­por­­tância para essa distribuição em campo. O importante é a dinâmica da movimentação. Esquema bom é o que ga­­nha, o que melhor aproveita as características dos jogadores.

O que você espera da Eurocopa?

Depois da Copa do Mundo, é a competição mais importante. Não em qualidade, mas em charme, organização e visibilidade. A Copa América também é muito boa, mas a Copa Europeia tem charme, a [cobertura da] imprensa, os maiores jogadores do mundo es­­tão lá. É bom para ver o estágio dos nossos futuros adversários.

Sobre o Footecom em Curitiba... Por que escolheu a cidade?

A ideia veio de pessoas daí e a gente se interessou. Teve Manaus e agora em Curitiba, fora do Rio. Será em apenas um dia, com a compactação de temas, sempre da atualidade.

Há uma lista de convidados con­­­­firmados?

Praticamente, sim. Teremos na programação uma parte de gestão, uma parte de técnica e de tá­­tica e a mesa de discussão. Es­­tamos vendo o formato para tratar a parte médica e uma abertura sempre com um grande convidado. Vamos agora confirmar, pois seria no mês passado e houve mudanças de datas e alguns conflitos de agenda. Mas não pos­­so adiantar nomes.

Você pensa em montar, no futuro, uma espécie de "academia" para formar treinadores?

Esse trabalho é feito pela CBF, com a formação de treinadores na Escola Brasileira de Futebol. Minha colaboração é fazer palestras, acho que está bom assim.

Qual a sua opinião sobre a mu­­dança na cúpula da CBF?

Tem de esquecer. Houve mudanças, mas a instituição está acima de tudo e a obrigação é fazer bo­­nito dentro e fora de campo. A ho­­ra é de arregaçar as mangas, não interessa quem está no co­­mando. A obrigação de fazer a melhor Copa do Mundo não mu­­dou.

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