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Nice - A farsa envolvendo Nelsinho Piquet no GP de Cingapura de 2008 fez ontem as primeiras vítimas, antes mesmo do julgamento do caso na Federação Internacional de Automobilismo (FIA), marcado para segunda-feira. A Renault anunciou a demissão de seus dois principais dirigentes, o diretor- geral Flavio Briatore e o diretor de engenharia Pat Symonds, apontados como os responsáveis pela estratégia de provocar um acidente proposital do brasileiro para favorecer o outro piloto da equipe, o espanhol Fernando Alonso, que acabou vencendo a prova.

No último fim de semana, em Monza, palco do GP da Itália, Bria­­tore nem sequer cogitava a possibilidade de demissão, garantindo ser inocente das acusações feitas por Nelsinho, que revelou toda a farsa como uma espécie de vingança por ter sido demitido pela Renault no final de julho. Mas o mais provável é que os dois dirigentes tenham sido afastados como garantia de que a equipe francesa não sofra grandes punições da FIA.

O presidente da entidade, Max Mosley, deve ter pedido a demissão de Briatore, seu antigo desafeto. E foi atendido. De fato, o polêmico italiano de 59 anos colecionou diversos inimigos em sua longa trajetória na Fórmula 1, que já dura mais de 20 anos. Mas também foi muito vencedor, conquistando quatro títulos mundiais: dois com o alemão Michael Schu­­macher na Benetton, em 1994 e 1995, e mais dois com Alonso, já na Renault, em 2005 e 2006.

Mesmo com todo esse currículo, Briatore aprontou, ao lado de Symonds, a farsa para sair com a vitória no GP de Cingapura. Assim, solicitou que Nelsinho Piquet batesse deliberadamente o carro num momento específico da prova, o que levaria Alonso à liderança. Contando com a anuência do piloto brasileiro, a estratégia deu certo. O dirigente italiano só não imaginava ver exposta publicamente a fraude.

Ao demitir Briatore e Symonds, a equipe francesa mostra que deseja continuar na Fórmula 1. No comunicado divulgado ontem, que anuncia a saída dos dois dirigentes, a Renault avisa que "não contestará as alegações da FIA referentes ao GP de Cingapura de 2008". Ou seja, aceita as eventuais punições e reconhece a culpa dos seus ex-funcionários.

O fato de Briatore e Symonds não fazerem mais parte da Renault não os livra de punição. É bem provável que Mosley, um mês antes de deixar a presidência da entidade, não perca a chance de punir um grande desafeto, de quem é inimigo desde 94. Assim, o italiano corre o risco de ser banido da Fórmula 1.

O mais curioso é que Mosley reconheceu, em Monza, no último fim de semana, que seria difícil provar a farsa orquestrada pelos dois dirigentes e executada por Nelsinho. Havia chance, inclusive, de todos saírem sem punição. A pressão, porém, deve ter sido forte para que a Renault tirasse de cena dois nomes de história na Fórmula 1.

A saída de cena, contudo, não é um fato novo na categoria. A estratégia já foi usada pela McLa­­ren. Para evitar punição maior para a escuderia inglesa no começo desta temporada, depois de o piloto inglês Lewis Hamilton ter mentido aos comissários do GP da Austrália, Ron Dennis foi sacrificado. Sócio e diretor da equipe, o dirigente deixou a Fórmula 1 pouco antes do julgamento do caso, num acordo costurado por Mosley. Assim, no dia 16 de abril, um pouco antes do caso ser julgado na FIA, Dennis anunciou que passaria a cuidar da produção de um carro de série da McLaren, cortando sua ligação com a equipe de Fórmula 1.

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Ficha corrida

Demitido da Renault ontem, Flavio Briatore tem uma extensa lista de polêmicas na Fórmula 1.

1991 – Na Benetton, demite sem aviso prévio o brasileiro Roberto Pupo Moreno, então companheiro de Nelson Piquet. O substituto: Michael Schumacher.

1994 – Para acelerar o reabastecimento, que reestreava na categoria, Briatore manda tirar o filtro das máquinas para encher o tanque dos carros da Benetton. A falcatrua é descoberta no GP da Alemanha, quando um vazamento provoca um incêndio no carro de Jos Verstappen.

A equipe é acusada de usar controle de tração e de largada escondidos nos carros.

Michael Schumacher conquista o título de pilotos jogando seu carro sobre a Williams de Damon Hill.

Com a temporada encerrada, Briatore dribla uma restrição da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) ao comprar a Ligier e registrar a escuderia no nome de um testa de ferro, Tom Walkinshaw.

2001 – Retorna à Benetton, agora de propriedade da Renault. Ao mesmo tempo em que chefia a equipe, passa a gerenciar a carreira de jovens pilotos, como o espanhol Fernando Alonso, em um claro conflito de interesses.

2003 – Demite Jenson Button para colocar Alonso, seu piloto, na Renault.

2004 – O italiano Jarno Trulli recusa-se a renovar o contrato pessoal com Briatore e é demitido da Renault.

2007 – A Renault é acusada de espionagem contra a McLaren. A escuderia é apontada culpada por roubar dados dos modelos de 2006 e 2007 da McLaren, mas escapa de punição.

2009 – É denunciado à FIA por Nelson Piquet por ter mandado Nelsinho Piquet bater delibe­­ra­­damente durante o GP de Cinga­­pura do ano anterior, para be­ne­­ficiar Alonso. A cinco dias do jul­gamento do caso pela Federação, é demitido da equipe francesa.

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