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Independentemente do resultado, a festa vai ser grande hoje no bairro Santa Quitéria, em Curitiba. O time da casa precisa vencer o Olimpique duas vezes para ficar com o título da Primeira Divisão da Suburbana – no tempo normal e na prorrogação ou disputa por pênaltis. Mas a vaga que garante o retorno à Divisão Especial, da qual foi campeão por duas vezes, em 74 e 82, ninguém tira mais.

"Depois de nove anos, o Santa Quitéria está de volta de onde nunca deveria ter saído", afirma, eufórico, Alcidino Oliveira, o Dinho, diretor de futebol da equipe amadora – principal responsável pelo volta do movimento no bairro nas tardes de sábado. Explica-se: o Santa Quitéria retornou a Suburbana este ano (estava licenciado desde 97) e voltou a transformar o Estádio Maurício Fruet em ponto de encontro de gente de todas as idades – de adolescentes à velha guarda da turma do pneu (leia texto nesta página).

"Antes isso aqui era morto. Não tinha nada para fazer no bairro", conta o seu Nélson, de 54 anos, 44 deles dedicados a torcer pelo seu clube do coração. Ele sabe do que fala: motorista da linha Fazendinha, circulou pelo bairro com seu ônibus amarelo durante todo o período em que o campo inclinado do Fruet era emprestado ou alugado aos moleques da região.

Aliás, a desculpa utilizada por quase todos os times que perderam ali é rechaçada pelo dirigente. "Se não tivéssemos feito um levantamento do campo ninguém saberia que uma parte é mais alta que a outra. Eu joguei minha vida nele e nunca percebi nada. Tem muitos piores que o nosso", desconversa Dinho.

Dinho tem algo próximo de 1,70 m e já na quinta-feira preparava o bar do estádio para a final. Tamanho cuidado tem uma explicação. É das cervejas, dos refrigerantes e do pão com bife que vem a única renda da equipe. Só no jogo das semifinais, contra o Imperial, foram vendidas 1.320 latinhas – a expectativa é dobrar as vendas hoje.

"Como ficamos muito tempo parado, os sócios ainda são poucos e a bilheteria é uma ajuda. Cobramos R$ 1 no jogo passado como se fosse uma rifa, pois sorteamos camisa e bolsas. Só sobra o bar para pagarmos todas as nossas despesas", conta.

O valor não é muito diferente dos outros times da Primeira Divisão. Cerca de R$ 1,6 mil por mês – considerado alto – gastos com ônibus, lavagem do uniforme, lanche para os jogadores, uma cervejinha em caso de vitória e, às vezes, ajuda na gasolina.

No último caso, coisa rara. No retorno à Suburbana, o Santa Quitéria reeditou a estratégia de sucesso de seus dois títulos: 70% da equipe mora no bairro.

"Tem de ter amor à camisa. Em 93 e 94, contratamos só ex-jogadores. Tinha o Marinho, que foi do Pinheiros... E fomos só vice", lembra o torcedor Adão Ruiz, 57 anos, presença freqënte no clube.

A montagem da equipe foi feita em peneiradas e só houve contratações "especiais" quando veio os mata-matas. Um dos reforços foi Vinícius, 22 anos. Ele chegou do Internacional, de Campo Largo, e em seis jogos já marcou 14 gols – é o vice-artilheiro da competição. Nem por isso recebe mais que os outros. "Aqui quase todos têm uma profissão, trabalham e treinam nas horas vagas. Não temos dinheiro para pagar ninguém. Aqui tudo é por amor ao futebol", diz Dinho.

Com todas as dificuldades, simplesmente chegar às finais seria um prêmio. Mas no bairro ninguém admite a perda do título. "Nunca ninguém deu volta olímpica no nosso estádio e não vai ser agora. Podem até ganhar, mas aqui ninguém vai erguer a taça", avisa Nelson.

Santa Quitéria x Olimpique, às 15h, na Paraná Educativa.

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