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Criança mostra foto do xeque Hamad Al Thani um dia depois de o Catar ser escolhido para sede da Copa de 2022 | Fadi Al-Assaad/ Reuters
Criança mostra foto do xeque Hamad Al Thani um dia depois de o Catar ser escolhido para sede da Copa de 2022| Foto: Fadi Al-Assaad/ Reuters

Zurique - Em troca de votos para organizar a Copa de 2022, o governo do Catar teria resgatado financeiramente a Federação de Futebol de Argentina com US$ 78 milhões e oferecido a abertura de academias de treinamento nos países dos membros da Fifa. Já a Inglaterra acusou a entidade máxima do futebol mundial de ter dado a Copa para regimes que não questionarão a corrupção.

Menos de 24 horas depois de a Fi­­fa ter escolhido dar a sede das Copas de 2018 para a Rússia e de 2022 para o Catar, a entidade passou a ser alvo de um ataque sem precedentes. Junto com os Estados Unidos, a Inglaterra ameaça não apresentar novas candidaturas para a Copa do Mundo enquanto a Fifa não passar por uma reforma profunda em suas votações secretas e sem controles externos reais.

Segundo o Wall Street Journal, um ex-cartola da candidatura do Catar revelou que um xeque ligado à família real teria feito um pa­­gamento para "salvar" a Associação de Futebol da Argentina de uma fa­­lência. Seu presidente, Julio Gron­­dona, é também o vice-presidente da Fifa e diretor de finanças da entidade. Segundo o jornal ame­­ricano, ele teria recebido

US$ 78 milhões para tirar a AFA de sua pior crise. Há apenas duas semanas, Brasil e Argentina disputaram um amistoso no Catar. O porta-voz da AFA, Ernesto Cher­­quis Bialo, negou o recebimento do dinheiro e disse que não sabia para quem Grondona votou na escolha das sedes das Copas.

Outra forma de atuação do Ca­­tar, segundo o ex-cartola, foi a de oferecer centros de treinamentos nos países dos membros da Fifa, no estilo da Aspire Academy, iniciativa baseada em Doha para trei­­nar futuros craques. Para a di­­re­­ção da Fifa, isso não passa de alegações de jornais de países que per­­deram a briga. "Há muita resistência, sempre que se opta por um caminho novo", alegou um alto funcionário da entidade. Para o governo do Catar, as críticas são "normais". "Sabemos que seremos muito questionados", disse um dos assessores da Federação de Futebol do país.

Esse caso se soma a uma avalanche de suspeitas de irregularidades no processo de seleção das sedes da Copa, o maior evento do mundo. Os árabes já eram suspeitos de te­­rem fechado um acordo com a Espanha para a troca de votos. A Espanha levaria para Catar os votos de Ricardo Teixeira, Gron­­dona e Nicolas Leoz. Para especialistas, um sinal do acordo seria a publicidade nas placas no campo no jogo entre Barcelona e Real Ma­­drid, um dos mais assistidos do mundo, disputado na última segunda-feira.

Jogadores, cartolas e políticos de diversos países que foram derrotados acusam a Fifa de ter pensado mais em proteger seus membros, acusados de corrupção, e nos lu­­cros que no futebol.

Para Andy Anson, presidente da candidatura derrotada da In­­glaterra, nem o seu país nem os Estados Unidos deverão tentar organizar mais a Copa enquanto a Fifa não modificar seu processo de seleção. Para ele, a Fifa precisa se abrir, ser mais transparente e não deixar o processo apenas nas mãos de 24 pessoas, em votos secretos.

Para o técnico francês Arsène Wen­­ger, a decisão foi "medieval". "Isso tudo foi uma grande farsa. To­­dos já sabiam qual era o nome do envelope antes mesmo de gritar e chorar. É tudo uma farsa", afirmou Andy Harper, ex-atacante da seleção australiana que concorria para ser sede de 2022.

De fato, mesmo antes do início da cerimônia, os árabes já sabiam que estavam com o evento assegurado. "Não fede ser honesto", atacou outro ex-jogador australiano, Robbie Slater.

Mesmo tradicionais jornais econômicos passaram ao ataque contra a Fifa. O britânico Financial Times alertou que os membros da entidade poderiam estar procurando dar a Copa a governos que não a criticariam sobre a "falta de transparência e nem resistiriam às condições quase ditatoriais de contratos". Mas alertou: "Os estádios não lotarão com apenas xeques e cartolas". Na Alemanha, o jornal Berliner Zeitung não poupou a Fifa. "Rússia e Catar são escolhas perfeitas e inevitáveis, para cartolas corruptos e para barganhas."

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