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Trabalhar em rádio, nos programas esportivos, é o sonho de muitos jovens no Brasil. Além das dificuldades inerentes à profissão, especialmente financeiras, o curitibano Henry Baptista Xavier precisou traçar um caminho bem mais tempestuoso atrás deste objetivo. Cego de nascença – enxerga apenas um pouco claridade e vultos –, ele nunca pôde assistir a um jogo de futebol. Um obstáculo a mais para quem já tinha de lidar com o preconceito e a desconfiança.

Hoje, com 24 anos, venceu muitas dificuldades para se firmar como plantão das jornadas esportivas da Rádio Cultura (AM-930). Bem-humorado, arriscou uma nova função entre o fim de julho e o início de agosto, trocando temporariamente a atividade de dentro do estúdio para realizar a cobertura dos treinos do Paraná. Na Vila Capanema, fez entrevistas e passou aos ouvintes os detalhes do dia-a-dia tricolor.

"Fiz isso para quebrar um galho, até acharmos um repórter. Considero como um aprendizado que vou guardar sempre comigo. Tive a chance de fazer algo que eu queria muito, mas que era difícil", revela ele, que começou como rádio-escuta e se proclama "torcedor do futebol paranaense".

Seu atual chefe e incentivador, o narrador Joel Mendes, tem orgulho do desempenho do pupilo. "Quando a gente conversou sobre ele fazer as reportagens do Paraná, ele me disse que queria provar que era capaz. Acabou sendo o primeiro dos nossos repórteres a fazer uma entrevista ao vivo. Foi com o Renaldo", afirma o cabeça da equipe de esportes. "Ele tem muito potencial, uma inteligência acima da média", elogia.

Apesar de não terem trabalhado juntos até abril deste ano, Joel confiou no que sabia sobre Henry. "Além de ele ser um bom profissional, chamei-o porque queria dar uma força. Uma oportunidade de mostrar que essa deficiência visual não significa nada. Que ele pode fazer isso tão bem ou melhor que muita gente."

O fascínio do plantonista pelo futebol começou cedo. Quando criança, jogava com outros meninos com problemas de visão. Em casa, passava o resto da tarde ouvindo os programas esportivos. "Aos 12 anos, decidi que era o que eu gostaria de fazer. Nessa época, eu escutava até jogos da 3.ª divisão do Brasileiro e futebol amador", lembra.

Para ver as partidas, conta com a descrição dos narradores e uma memória impressionante. "Formo a imagem na cabeça de acordo com o que eles dizem. E como eu sei a tática do time e a posição em que os jogadores atuam, visualizo em qual parte do campo o lance se desenrola."

Por enquanto, ele tem um curso de locução esportiva e algumas disciplinas isoladas de Jornalismo na bagagem. Mas uma faculdade está nos planos. O intuito é crescer na profissão. "Só o que eu quero é poder viver do rádio", fala. Atualmente, sua renda depende de vender cotas de patrocínio para o programa – diariamente das 12 às 13 horas – e de shows musicais. O polivalente Henry também toca percussão na noite curitibana.

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