Atacante Grafite| Foto: Marco Oliveira/Atlético

Aos 37 anos, Grafite terminou 2016 como vice-artilheiro do Brasileirão, com 13 gols – Fred, Diego Souza e Pottker fizeram 14. Com vasta rodagem internacional, o atacante é a principal contratação do Atlético no ano de sua volta à Libertadores. E está animado. Confira a entrevista:

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Quando foi o primeiro contato com o Atlético?

Em outubro do ano passado, um empresário me procurou falando que tinha uma situação com o Atlético, mas acabou não trazendo uma oferta. No fim de novembro o Paulo Autuori me ligou, disse que tinha interesse em contar comigo e perguntou como estava minha situação no Santa Cruz. Falei que tinha contrato até o fim do ano que vem, mas que o clube não estava bem [financeiramente]. E aí a coisa se aprofundou, entraram em contato com meus representantes e chegamos a um acordo.

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Qual foi o peso do Paulo Autuori para você aceitar a proposta do Atlético?

O Autuori é um cara fenomenal. Vocês estão tendo a chance de conhecê-lo mais de perto agora. Ele conhece muito de futebol, sabe tirar muito dos atletas e tem um relacionamento espetacular com a imprensa, com o clube. Em 2005, tive a oportunidade de trabalhar com ele, mas infelizmente me machuquei pouco tempo depois e fiquei a maior parte do tempo em recuperação. Mesmo assim ele me levou para o Mundial, fui o único do banco que entrou. Não tive mais contato com ele depois, mas sempre acompanhei seu trabalho. Lógico que ter trabalhado com ele tem um peso, influencia bastante. Mas claro que o Atlético é uma referência em estrutura, e principalmente para mim, que faço 38 anos em abril, preciso de uma preparação, uma atenção melhor para render bem.

Você acredita que o Atlético esteja preparado para ir longe na Libertadores?

Pelo que apresentou em 2016, a probabilidade é grande. O time foi muito consistente, marca forte, só perdeu um jogo na Arena. Fora de casa quase sempre vendeu caro as derrotas. Condições têm, mas o fato de não estar na fase de grupos causa uma grande apreensão por não sabermos o que pode acontecer. Vamos pegar o Millonarios, uma equipe da Colômbia, que tem um futebol que está crescendo. Temos de nos concentrar nestes primeiros jogos. Depois é outro campeonato. Vamos precisar de foco o ano inteiro. O Atlético é um clube que entra para brigar em tudo. Esperamos ter um grande ano.

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O que mudou no seu jogo com o passar do tempo? A experiência conta muito?

Não é só experiência.Tenho uma condição genética muito boa, tenho uma boa agilidade para alguém do meu tamanho, me movimento. Não gosto de ficar parado, caio para os lados do campo para abrir espaço. Tenho essa facilidade. Claro que com 38 anos não vou correr o campo todo. Fico mais na área, segurando os zagueiros, faço tabela. Quero poder contribuir para o ano do Atlético.

 

Em 2001, ano do título brasileiro do Atlético, estava iniciando a carreira pelo Santinha e enfrentou o Furacão. Lembra desse jogo?

Rapaz, foi até marcante para mim.O Atlético venceu por 5 a 1, foi uma goleada exorbitante. Estávamos jogando em casa e acabou que uma pessoa invadiu o gramado no fim do jogo. Quem estava perto dele naquele momento? Eu. Ele veio para cima de mim, tentou me agredir e eu dei um chute. Fiquei até tarde no Arruda naquela noite. Sai escondido, com uma toalha na cabeça. Hoje até é engraçado, mas foi constrangedor.

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Depois do caso de racismo do Desábato, em 2005, algo mudou nesse assunto?

Assim, mudar, mudar, não. Tiveram outros casos mundo afora. Mas a partir desse caso começaram a olhar com uma atenção maior. Na Alemanha há um engajamento durante todo o ano. Entrávamos com camisa no estádio, com cartazes, tinha propaganda nos ônibus. Lá é sempre. Aqui só em datas especiais, como 20 de novembro [Consciência Negra] e 13 de maio [Abolição da Escravatura]. Chega nessa época meu telefone não para. A memória é muito curta no Brasil. Comigo não aconteceu mais, até pelo fato de ter ficado conhecido e isso inibe. Mas imagina no dia a dia das pessoas como não é. Racismo é uma doença.

Vou ganhar menos no Atlético do que ganhava no Santa. Mas a motivação é que o time vai brigar por alguma coisa, Libertadores, o clube me dá condição muito maior de aparecer e jogar

Grafite jogador do Atlético

Você está indo para o 12.º clube na carreira em seis países diferentes – além do Brasil, Coreia do Sul, França, Alemanha, Emirados Árabes e Catar. Onde aprendeu mais?

A Europa foi muito especial para minha carreira e minha vida particular. Conheci outras culturas, outros estilos de vida, de comportamento. Lá aprendi a ter uma conduta profissional também, a cuidar da alimentação em casa, dormir bem. Você pode ser o cara que for, mas quando chega na Europa tem de provar tudo de novo. No Oriente Médio aprendi mais sobre a religião, a respeitar. Quando cheguei lá, fui tirando a roupa para tomar banho e os caras falaram que não podia. No vestiário, os muçulmamos tomam banho de sunga. É da cultura deles. Mas o pessoal é muito amigável.

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A passagem pelo Wolfsburg foi a mais especial?

Fomos campeões da Bundesliga em 2009. Cheguei lá em 2007, vindo do Le Mans, da França, com o sonho de jogar em um grande clube e ser campeão. Não consegui, mas no Wolfsburg pude ser campeão de uma grande liga, artilheiro, jogador do ano. Entre os estrangeiros, só o Aílton, o Ribery, o Robben e eu ganhamos o prêmio de melhor jogador do campeonato. Foi uma história muito bonita, fiquei até 2011. Tenho muitos seguidores da Alemanha nas redes sociais e até procuro postar em alemão. Estou devendo uma visita lá. Foi o time onde tive meu melhor momento e que me levou à seleção.

E qual lembrança guarda da Copa de 2010?

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A oportunidade de estar entre os 23 convocados, de representar o Brasil. Não vencemos, mas por detalhes não chegamos à semifinal. O primeiro tempo contra a Holanda foi bom demais, poderíamos ter feito mais gols, e de repente tudo mudou e levamos a virada. Tive a oportunidade de jogar seis minutos contra Portugal, na primeira fase. E tenho muito orgulho. Apesar de ter sido chamado contra a vontade de muitos, que pediam o Neymar, o Ganso. Talvez poderia ter sido diferente com eles. Talvez não.

O que te motiva hoje? Até quando se imagina em campo?

O futebol em si me motiva. Passei os últimos quatro anos no Oriente Médio antes de vir para o Santa Cruz. E lá o nível não é o mesmo do futebol brasileiro, europeu. Voltei com a mentalidade de encerrar a carreira no Santa Cruz, fiz mais de 50 jogos no campeonato, com bom aproveitamento técnico, tático, físico e com gols. Vou ganhar menos no Atlético do que ganhava no Santa. Mas a motivação é que o time vai brigar por alguma coisa, Libertadores, o clube me dá condição muito maior de aparecer e jogar. Esse negócio de parar [de jogar] é difícil. O Zé Roberto tá com 42 e está bem. Então dá para ir mais um pouquinho. Quando não conseguir mais acompanhar vou rever.