Cafu apoia greve e vê crise técnica

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Ele fala com a propriedade de quem participou da última glória do futebol brasileiro em Mundiais. É dele a emblemática comemoração ao erguer a taça ao fim da Copa de 2002. Era a segunda conquista do lateral-direito, o transformando até em personagem de coro da torcida brasileira provocando os argentinos na Copa deste ano: "A-le-rê, o Cafu tem mais Copa que você".

Tamanha reverência acabou ignorada quando o pentacampeão tentou dar apoio para os selecionáveis após a surra da Alemanha por 7 a 1. Foi convidado a se retirar do vestiário do Mineirão pelo presidente da CBF, José Maria Marín, autor da deselegância e que personifica hoje parte do fracasso do futebol nacional.

Em Curitiba para o beneficente Jogo do Bem, entre Amigos do Cafu e lutadores de MMA amigos de Shogun, hoje às 11 h no Ecoestádio, ele avaliou a situação do esporte mais popular do país, defendeu medidas drásticas do movimento Bom Senso FC e prevê a reaproximação entre a seleção e a torcida brasileira apenas com um novo título mundial.

Na próxima terça-feira, o Dunga fará a sua primeira convocação no retorno à seleção. Acredita que começaremos a ver o esboço de mudança?

Não tem o que mudar. Infelizmente, o material humano que temos é esse aí. O Alex, do Coritiba, esses dias comentou sobre a carência de camisas 9 e 10 no futebol brasileiro, uma falha que viria desde a base, com os técnicos sem estrutura para formar esses atletas. Você concorda?

Não faltam só 9 e 10. Falta tudo. O futebol ficou muito veloz e os treinadores não têm paciência para ver que um jogador inteligente, como o Alex, por exemplo, precisa de tempo, de parar e pensar. Falam que o Alex é lento, pra mim ele é um gênio. Como vai articular uma jogada na correria? Querem jogador alto e forte. E o talento? A crise do futebol vem da base mesmo. Como você analisa as reivindicações do Bom Senso FC?

Acho excelente, fundamental. Mas acho que eles têm de ser ainda mais duros, bater ainda mais firme nesses ideais. Como? Na pressão, fazer uma greve, por exemplo?

Sim, por que não? Em nenhum lugar diz que o jogador não pode fazer greve. Se tiver de fazer, façam greve! Doa a quem doer. Porque houve toda essa discussão, e daí? Veio mais um calendário que não atendeu ao que era necessário. Vamos esperar mais um ano agora. Se não forçar, não vai mudar. Falta muito profissionalismo. Acha que vai demorar para a torcida brasileira se reconciliar com a seleção?

Vai, vai demorar muito. Só quando ganhar outra Copa. E não é por causa do 7 a 1. O Brasil nunca foi brilhante nos jogos dessa Copa. Levou sufoco e a derrota poderia ter vindo a qualquer momento. Houve um apagão contra a Alemanha, mas não podemos esquecer a qualidade do adversário. Você ficou muito chateado com a "expulsão" do vestiário após a eliminação? Chegou apensar: "Olha quem está me mandando sair"?

Pensei mesmo. Eu fui lá para dar um abraço nos meninos. Não estava pedindo camisa, chuteira, autógrafo. Perdemos uma Copa em 98, e mesmo tendo sido bem diferente, numa final onde tudo poderia acontecer, imaginei como era aquela sensação. Mas era o habitat dele, como presidente da CBF. É quem manda no futebol brasileiro. Estamos bem, né? E o jogo beneficente de hoje, será a técnica contra a força dos lutadores?

Vamos na força também. A gente ‘bate’ e sai correndo, para não apanhar [risos]. Na verdade é uma causa nobre e fico feliz de promover essa ação. [O ex-jogador preside a Fundação Cafu, com foco na inclusão social]

Serviço

Jogo do Bem, entre Amigos do Cafu e Amigos do Shogun, no Ecoestádio, às 11 h. Os ingressos para a partida custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Depois do duelo, será realizado um almoço beneficente, com feijoada e bebidas, na sede social do J. Malucelli. As entradas custam R$ 85 (mulheres) e R$ 125 (homens).