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Arena da Baixada recebeu quatro jogos da Copa do Mundo | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Arena da Baixada recebeu quatro jogos da Copa do Mundo| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Quais as lições aprendidas com relação à Copa em Curitiba, e como elas poderão contribuir para o sucesso de grandes eventos no Paraná?

"Acho que a grande lição foi ‘não sejam tão pessimistas’. Antes da Copa tínhamos de ficar dando explicações de que o desastre não ia acontecer, isso tudo foi muito desgastante. Tínhamos de responder coisas como ‘por que Curitiba vai ser a cidade a receber menos turistas?’, ‘e os protestos?’, enfim, acho que o melhor aprendizado foi não subestimar a população e a capacidade e qualidade de Curitiba. Existia toda a história de que os curitibanos não iam receber bem os turistas; ao contrário, os turistas saíram encantados com as pessoas e a cidade."

Paulo Colnaghi, presidente do Instituto Municipal de Turismo

Você percebe que houve transparência nos prazos, comunicação e gastos na organização da Copa do Mundo?

"Não, eu acho que esse fo i um dos principais problemas. Nas várias pesquisas e discussões que fizemos, sempre existiu a falta de informação. De uma forma geral, a nossa avaliação foi que um dos grandes problemas que nós tivemos em Curitiba foi a dificuldade ao acesso de informações e o que, na minha perspectiva, se agravou pela mudança de governo municipal, no sentido de que antes tínhamos um interlocutor, depois passou a ser outro, e o que entrou também teve dificuldade em ter acesso a essas informações no primeiro momento, então os projetos acabavam não estando completamente disponíveis."

Olga Lúcia Castreghini de Freitas Firkowski, professora da Universidade federal do Paraná (UFPR)

Como percebeu a segurança da cidade e do estado durante o evento?

"Foi muito boa. O envolvimento foi muito grande, a preocupação dos órgãos de segurança foi excelente, o entrosamento e a integração entre os órgãos ocorreu da forma mais perfeita possível. Faltaram alguns equipamentos porque os órgãos de segurança acharam que iriam recebê-los do governo federal, mas se formos olhar sob o aspecto da capacitação, do treinamento e do preparo das pessoas para atender os eventos, foi excelente, porque a área evoluiu bastante, serviu para integrar as pessoas e os órgãos, que tiveram de participar, um ajudando ao outro. Hoje, qualquer grande evento que surja dentro de Curitiba nós conseguimos reunir essas pessoas rapidamente e sem muita preocupação, e tudo correrá bem. Então, na questão de segurança, posso dizer que foi nota 10."

Renê Roberto Witek, membro da Comissão Executiva da Secopa (Secretaria Municipal Extraordinária da Copa do Mundo da FIFA 2014)

Houve preocupação com sustentabilidade na Copa e em todas as suas manifestações, como, por exemplo, a Fifa Fan Fest?

"Para a Fan Fest, houve uma preocupação elementar de toda a sua organização desde as montagens até as desmontagens, passando pela realização de todos os dias, e um trabalho muito próximo com a Secretaria do Meio Ambiente para que pudessem ser dados esses resultados sob o aspecto ambiental. Também considero que o elemento de sustentabilidade vai além das questões ambientais e vai inclusive sob o aspecto do desenvolvimento econômico, sem que haja implicações e impactos mais profundos. Nesse sentido também trabalhamos duramente para que pudéssemos construir esses elementos e o resultado foi que, por exemplo, Curitiba teve uma das mais baratas Fan Fest do Brasil."

Igor Cordeiro, superintendente da Fundação Cultural de Curitiba e responsável pela Fan Fest

Falta de transparência, planejamento e informação. Mais visibilidade para a cidade e experiência para organizar outros eventos. Passada a onda de sotaques com a movimentação de 214,5 mil turistas, do futebol transpirando pela cidade, dos quatro jogos com 157 mil pessoas na Arena da Baixada em junho, a Copa do Mundo foi sentida de maneiras distintas pelos paranaenses.

INFOGRÁFICO: Pesquisa revela percepção de moradores de Curitiba e Foz do Iguaçu sobre a Copa do Mundo. Veja os números

A percepção local em relação ao evento Fifa foi tema de um trabalho realizado pelo Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM) e o Instituto Superior de Admi­­nis­­tração e Economia (Isae). "Muita coisa já havia sido dita e fomos bombardeados com milhares de dados estatísticos. Mas e quanto à percepção das pessoas? Quando se fala de percepção não se está julgando o certo ou o errado, apenas o que foi percebido", explicou o Coordenador Acadêmico do Centro de Pesquisa Isae, Carlos Alberto Ercolin.

Para identificar o que a população sentiu da realização do Mundial, um questionário foi enviado nas últimas semanas a mais de 120 mil pessoas residentes na Grande Curitiba e na região de Foz do Iguaçu, cidade base da seleção sul-coreana e que recebeu uma grande leva de turistas.

Em vez de chamar de pesquisa, e consequente necessidade de uma estratificação da população, o Instituto preferiu usar todos os questionários respondidos, sem precisão metodológica, e definindo o trabalho como sondagem.

Foram 2.458 respostas, além de questionários detalha­dos com oito entrevistados, entre eles pessoas envolvidas na organização do Mundial, como o coordenador geral para assuntos da Copa do Mundo 2014, Mario Celso Cunha, e do presidente do Instituto Mu­­nicipal de Turismo, Paulo Colnaghi (ver respostas nesta página).

O levantamento foi dividido em dois grandes temas, a Governança (que leva em conta transparência, prestação de contas, responsabilidade, equidade na administração) e a Sustentabilidade (consciência em relação aos impactos sociais, ambientais e econômicos).

Um dos principais pontos identificados foi falta de informação à população de princípios que nortearam a organização da Copa. "Várias situações aconteceram e as pessoas nem sequer ficaram sabendo. Para a população, é como se não tivesse existido", explica a colaboradora do Centro de Pesquisa do Isae, Maíra Ruggi.

Ela usa como exemplo a proposta da Fan Fest, em Curi­­tiba, que recebeu 110 mil pessoas durante o Mundial. "Existia a preparação dos resíduos, o tratamento e o encaminhamento às pessoas responsáveis, para que houvesse não só a reciclagem, mas também uma alternativa econômica para as pessoas que trabalham com isso. Dentro do que é correto em níveis mundiais, nós certamente atingimos a meta", opinou Igor Cardoso, responsável pelo espaço de transmissão dos jogos na pedreira Paulo Leminski.

"Era o momento de alavancar esses conceitos e houve uma falha na divulgação, tanto por parte de mídia, mas dos próprios organizadores que não informaram corretamente, talvez pelo ineditismo do evento. Era a oportunidade de capitalizar, explorar os benefícios do que deu certo", reforçou o professor.

O custo empregado no Mundial foi um ponto bastante mencionado. Apenas 13% consideram que houve transparência. Teria havido falha em se explicar as diferenças entre o orçamento original e o gasto real (muito superior), além dos motivos que levaram a cidade, no início apontada como uma das mais avançadas para receber a Copa, depois ser inclusive ameaçada de ficar de fora do evento.

Com relação ao legado, muitos consideram provável o aumento no fluxo de turistas, por causa da alta taxa de aprovação obtida pela cidade por parte dos visitantes. Para 60% dos entrevistados, as lições aprendidas com a Copa podem servir de experiência para a realização de outros eventos de grande porte.

"A partir da coleta da pesquisa percebe-se que a Copa do Mundo de 2014 foi um processo árduo, com resultados positivos. O que se viu foi um grande evento, porém com um gap entre o realizado e o percebido pela população. Assim, fica o aprendizado para aprimorar o mecanismo de comunicação", comentou o presidente do Isae, Norman Arruda Filho.

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