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Bom Senso

Calote rotineiro gera pressão de jogadores

Além da imposição do próprio mercado, os clubes brasileiros têm sido pressionados a adequar as finanças pelo Bom Senso FC. O fair play financeiro está entre os pilares de reivindicação do grupo de jogadores que prega mudanças no futebol nacional.

Em um encontro nesta semana, em São Paulo, vários integrantes debateram qual a situação dos times em relação ao pagamento de salários.

Apenas dois deles estão em dia com os atletas: Cruzeiro e Palmeiras, os campeões das Séries A e B. Segundo o levantamento, o Vasco encabeça a lista de devedores, que também inclui Corinthians, Inter, Grêmio, Atlético-MG, Portuguesa, Botafogo, Atlético-GO, Náutico, Oeste, Paraná, Ipatinga, Avaí, Fortaleza, Guarani, América-MG, entre outros. São Paulo, Santos, Flamengo e Fluminense ainda não foram contemplados na pesquisa. Um dos pontos centrais propostos pelo grupo é a criação de uma "entidade reguladora" que centralizaria a fiscalização, regulamentação e execução das normas que garantiriam a saúde financeira dos clubes. Além disso, o Bom Senso defende que o custo do futebol não poderia ser superior a 70% da renda total do clube; os dirigentes deverão ser responsabilizados pelo período da sua gestão; que os clubes não podem exceder o déficit em 10% nos dois primeiros anos, zerando-o a partir do quinto ano.

Bolha da crise atinge Paraná, Atlético e Coxa

Os clubes paranaenses não escapam à crise crescente. Problemas novos e antigos atingiram as equipes da capital neste início de temporada. O Paraná se vê negociando mais uma vez com funcionários em greve, o Coritiba perdeu o atacante Deivid por falta de pagamento no direito de imagens e o Atlético, alardeado como um modelo de gestão, se depara com dificuldades para honrar folha salarial por causa da reforma da Arena.

"Precisamos viver dentro da nossa realidade. Essa questão do Deivid, dos direitos de imagem, é um problema de vários clubes e que tivemos de nos adequar", explicou o vice de futebol do Coxa, Paulo Thomaz de Aquino.

A inadimplência do clube está sendo contestada na Justiça do Trabalho pelo jogador. O Alviverde também renegociou a pendência com Leandro Almeida, Chico, Keirrison, Lincoln, este transferido para o Bahia, com 60% do salário pago pelo clube.

O Paraná admite o atraso no pagamento dos funcionários da Vila Olímpica do Boqueirão e espera uma solução até o fim deste mês. Um possível refresco nas contas é o patrocínio firmado com a Caixa Econômica Federal. De acordo com o vice-presidente Celso Bittencourt, o clube está se enquadrando em alguns parâmetros estabelecidos no contrato e aguarda que em 15 dias possa começar a receber o crédito.

O Atlético, através da sua assessoria de imprensa, disse não atender a Gazeta do Povo. O Furacão foi impontual no pagamento de premiações prometidas aos jogadores em 2013.

O futebol brasileiro encara uma revisão nos seus conceitos financeiros. A readequação – muito mais necessária do que desejada – é a alternativa ao colapso. A temporada começou sob cautela dos clubes e tem sequência incerta.

Às vésperas da Copa do Mundo, os times veem o Mun­­dial como vilão: concentrou patrocínios e impactou o calendário de tal forma que minguou os investimentos neste primeiro semestre.

Com exceção das equipes que disputam a Libertadores, o início de 2014 reservou apenas os deficitários estaduais, as fases iniciais da Copa do Brasil e nove rodadas do Brasileiro até o hiato de um mês sem jogos durante o Mundial.

"A menos de três meses do início, com exceção dos novos estádios, a Copa não trouxe absolutamente nada para os clubes", afirmou o vice-presidente de futebol do Coritiba, Paulo Thomaz de Aquino.

O efeito Copa é um ingrediente recente em uma crise maior. O eldorado turbinado nos últimos anos pelo boom nas receitas de tevê ruiu. Os clubes abriram a atual temporada contratando 37,5% menos jogadores do que no ano anterior.

Uma retração após consumo exorbitante. Um levantamento da consultoria BDO mostrou que em 2008 os 24 principais times do Brasil somaram R$ 1,4 bilhão em faturamento, com 24% desse montante referente às cotas de televisão. Em 2012, o valor saltou para R$ 3,19 bilhões, com os direitos de mídia sendo responsáveis por 40% dessa quantia.

Com os cofres cheios, os clubes passaram a gastar adoidado. Depois de conviver com o êxodo de atletas, entraram em uma fase de repatriamentos e contratações badaladas.

Ronaldinho Gaúcho abriu a era ostentação do futebol brasileiro em 2011 com um salário de R$ 750 mil (depois reajustado para R$ 1 mi­­lhão) para vestir a camisa do Flamengo. Em junho de 2012, o Botafogo foi buscar o holandês Seedorf, Paulo Henrique Ganso custou R$ 24 milhões ao São Paulo. Só o Corinthians gastou R$ 45 milhões com Alexandre Pato em 2013.

Recém-eliminado no Pau­­listão, Mano Menezes culpa o planejamento anterior para o atual momento no Timão. "Quando se tem R$ 60 milhões, como se teve na temporada passada, fica mais fácil. Quando se gasta muito em uma é mais difícil em outra", alfinetou o treinador nesta semana.

"A tevê despejou um monte de dinheiro e os clubes foram torrando, pagando salários absurdos. Gastaram tudo. O Grêmio recebeu R$ 35 milhões de luvas, fechou 2011 no azul, mas em 2012 e 2013 encerrou no vermelho. O Corinthians, que recebia R$ 35 milhões por ano da tevê, fechou 2012 com R$ 150 milhões. Mas não era um número real, incluía luvas. Muitos clubes gastaram e ainda pegaram financiamentos em bancos", apontou o consultor em marketing e gestão esportiva Amir Somoggi, com uma análise pouco otimista do futebol nacional.

"Teremos um ano muito difícil para o futebol brasileiro. E essa situação debilitada é única e exclusivamente responsabilidade dos gestores dos clubes. São desprevenidos. Nunca houve planejamento. Não pensam sequer em um mês, imagina em um ano. Não existe ação com torcida que dê resultado em um mês. Patrocinador que invista em um mês", reforçou.

"Hoje só se consegue trazer um jogador em definitivo com um fundo de investimento por trás. Negociação clube com clube não existe. Ninguém tem dinheiro para isso", acrescentou Thomaz de Aquino.

"Vivemos um momento de conscientização porque o mercado está em crise e temos de encarar a realidade. Não adianta os clubes prometerem salários milionários e não conseguirem pagar. Vira uma bolha", afirmou o empresário Marcos Malaquias.

A dívida fiscal das agremiações gira em torno de R$ 4 bilhões. Os principais clubes apresentaram no mês passado uma nova sugestão de pagamento das dívidas com a União.

Uma comissão especial for­­mada por Atlético-MG, Co­­rinthians, Coritiba, Fla­­mengo, Fluminense, In­­ter­­nacional e Vitória, representando os 24 principais times do país, propõe a amortização da dívida ao longo de 20 anos. Pela proposta, 5% do total da dívida seria pago até 2015, 25% até 2021, 35% até 2027 e o restante até 2034.

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