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Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba: líder do movimento que trabalha pelo Fair Play Financeiro | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba: líder do movimento que trabalha pelo Fair Play Financeiro| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Entrevista

Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba e membro da Comissão Especial dos Clubes do Futebol Brasileiro

"Os clubes não querem o perdão das dívidas"

Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do Coritiba, é um dos líderes do grupo que negocia com o governo um novo parcelamento da dívida fiscal, o chamado Fair Play Financeiro.

O que a proposta dos clubes difere do Proforte?

Os clubes não querem perdão ou diminuição de dívida. Queremos pagar dentro de um prazo razoável. O Proforte não atende nossa demanda, é utopia. Para implantar um projeto desses, seria o caos.

Vocês propõem um financiamento prolongado e, em caso de atraso, punições na esfera esportiva. A CBF concorda?

A CBF cumpre o que os clubes desejam. Se os clubes pedirem à CBF, ela terá de cumprir. Há consenso em boa parte dos clubes que temos conversado Qual é o presidente [de clube] que vai aceitar perder seu estádio, perder direitos econômicos de jogadores por um bloqueio judicial?

Com que verba essas dívidas serão pagas?

O Coritiba hoje detém 18% do seu orçamento para administrar seu passivo.

Só o financiamento dos impostos atrasados resolve?

Temos um país que investiu R$ 8,9 bilhões em estádios, mas vamos ter clubes falidos para tudo quanto é lado. Se não tiver política forte e coragem, não vamos conseguir organizar o futebol.

R$ 179,78 milhões foram repassados aos clubes de futebol pela Timemania desde a sua criação, há cinco anos. O jogo se baseia na escolha do time do coração, entre 80 clubes. 22% do valor das apostas é repassado aos times, que usam a verba para pagar as dívidas com a União. O jogo arrecadou até 2013 R$ 899 milhões, abaixo das expectativas iniciais, que previa R$ 540 milhões apenas no primeiro ano.

Devo, não nego, pago quando puder. Se tiver ajuda pública, tanto melhor. Com essa filosofia, os principais clubes do futebol brasileiro buscam alternativas para sanar uma dívida que, somada, chega à impressionante marca de R$ 4 bilhões. Desse montante, mais da metade, R$ 2,4 bilhões são relacionados a débitos tributários.

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Depois de iniciativas fracassadas como o Programa de Recuperação Fiscal (Refis) e a Timemania 1 e 2, há neste momento duas propostas de socorro financeiro na mesa. Por mais incrível que possa parecer, os "barões" da bola no Brasil esco­­lheram o mais difícil. Pelo menos na teoria. Dão de ombros ao Programa de Fortalecimento dos Espor­­tes Olímpicos (Proforte), que prevê a anistia de até 90% do total das dívidas, para fazer campanha pelo Fair Play Financeiro, que nada mais é do que um novo parcelamento das pendências, dessa vez por um prazo de 20 anos. Pelo menos esse é o discurso que tem sido usado pelos dirigentes, como o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, um dos líderes do movimento.

De autoria do deputado federal e vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Vicente Cândido (PT-SP), e com apoio da presidente Dilma Rousseff, o Proforte está em tramitação na Câmara. Segundo o projeto de lei, parte do valor arrecadado com a Timemania iria diretamente para um fundo. Os clubes que aderissem precisariam quitar apenas 10% do total da dívida em impostos não recolhidos, como Imposto de Renda e INSS – no caso do Coritiba, por exemplo, "apenas" R$ 6,9 milhões. O restante seria perdoado em troca da criação de um sistema de bolsas ou da destinação de instalações, equipamentos, técnicos para a formação e desenvolvimento de atletas, garimpados entre crianças e jovens carentes.

O projeto, taxado nos bastidores como anistia, ganhou desafetos de peso, como o ex-jogador e deputado federal Romário (PSB-RJ), que classifica a proposta como um "perdão das dívidas" dos clubes. "Sou 100% contra", resumiu o ex-jogador.

Apesar das facilidades evidentes da iniciativa parlamentar, os clubes se articularam em outra frente, com apoio da CBF. Trabalham junto ao Ministério do Esporte para a criação do chamado Fair Play Financeiro, que pede tão somente um novo parcelamento das dívidas. Nada de anistia.

A iniciativa tem regras bem mais severas, como relacionar o não pagamento a punições no âmbito esportivo – caso não cumpram à risca o contrato financeiro firmado com o governo no refinanciamento dos débitos, perderiam pontos nas competições e sofreriam rebaixamento.

"Se pegar os 20 clubes da Série A e uns cinco da Série B, [o valor] representa 90% do débito. O resto é coisa pequena. É a primeira vez que os clubes demonstram boa vontade para pagar. O governo tem de entender que se trata de um dinheiro que hoje tem dificuldade em receber", diz o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade.

"Reparcelar é justo, mas esse negócio de tirar pontos... Como fica o sócio do clube? O torcedor? Não se pode mis­­turar o prazer do público com as negociações", opina o presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Cury.

Outros esportes se animam com o Proforte

A possibilidade de trocar dívidas por investimentos em esportes olímpicos tem chamado a atenção de dirigentes de outros esportes, além do futebol, que enxergam na proposta do Proforte a chance de quitar débitos antigos. "Pode ser uma solução para o esporte brasileiro. Eu e outros presidentes de confederações vamos acompanhar a audiência pública que acontecerá no Rio de Janeiro [dia 7] para saber como está sendo feito esse projeto de lei. Sabe-se que há quem esteja em desacordo com o projeto porque a Timemania deixaria de atender apenas o futebol", afirma o presidente da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa), João Tomasini Schwertner.

A entidade ingressou recen­­temente em um progra­­ma de refinanciamento de dívidas com a União para poder participar de outros programas do governo, como a Lei de Incentivo ao Esporte, na qual é contemplada com patrocínio do BNDES.

Segundo o deputado autor do projeto de Lei, Vicente Cân­­dido, a intenção é que qualquer entidade com fins esportivos possa ser contemplada, com débitos públicos a partir de R$ 20 mil.

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