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Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, um dos médicos da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1998, Joaquim da Mata, deu uma informação inédita sobre o episódio da convulsão de Ronaldo horas antes da final com a dona da casa França há exatamente 15 anos.

Um dos membros da equipe chefiada por Lídio Toledo - que morreu em 2011 -, Mata contou que inicialmente era contra a escalação do atacante no jogo que consagrou Zidane, autor de dois gols na vitória francesa por 3 a 0. Responsável por levar o jogador à clínica onde foi examinado e depois ao estádio, ele considerava prudente que houvesse mais tempo para que o jogador fosse avaliado.

Mesmo com o parecer dos médicos da clínica de Lilas, que não diagnosticaram nada grave em Ronaldo, Mata foi do local até o Stade de France com uma opinião clara: "Ele sabe que eu não queria que ele jogasse", disse, referindo-se a Ronaldo. O médico revelou também que manifestou sua posição a seu superior. "Eu disse ao Lídio, por precaução, que preferia que não [jogasse]."

Apesar de suas ressalvas, observou que o atleta não correu nenhum risco ao ser escalado pelo técnico Zagallo. "Era só pela exiguidade do tempo, não que eu temesse pela vida dele. Houve um fato, uma agressão ao organismo, o organismo precisava de tempo para se recuperar", declarou Mata, que atualmente atende a dezenas de atletas em formação e desenvolve em sua clínica projetos relacionados à medicina ortomolecular.

O médico, que tem no currículo passagens por Botafogo - fez parte da equipe campeã brasileira em 1995 - e seleção - entre 1995 e 1998 -, faz questão de deixar claro que houve um consenso no vestiário do Stade de France em reunião com Lídio e Zagallo. Ronaldo foi chamado em seguida e endossou que estava se sentindo bem e queria jogar.

"Não existe isso de voto vencido", disse. "Nós chegamos a um consenso. Eu, meu 'irmão' Lídio e Zagallo. Tínhamos os exames em mãos, que não apontavam nada de anormal no Ronaldo. Não estou dividindo, tirando a minha responsabilidade, a de ninguém, não. Ali foi um consenso."

A escalação polêmica de Ronaldo na final da Copa da França custou aos dois médicos um processo no Conselho Regional de Medicina do Rio. Acusados de negligência, foram absolvidos em julgamento realizado em 1999: 32 votos a 0.

Naquela tarde de 12 de julho de 1998, Ronaldo passou mal depois do almoço. Ficou inconsciente por alguns segundos, com os músculos contraídos e a língua enrolada. Atendido pelos médicos da seleção manteve-se ao lado de Mata, que fala francês fluentemente, por quase 90 minutos.

A caminho da clínica, não lembrava o que sentira pouco antes e conversava normalmente. Submetido a uma tomografia computadorizada e a um eletroencefalograma, acabou liberado rapidamente. A seleção já estava no Stade de France e o primeiro anúncio oficial da escalação indicava Edmundo como titular.

No carro que servia à seleção, Ronaldo pedia ao motorista que acelerasse. Temia chegar mais atrasado ainda ao estádio. Só falava em jogar. Foi atendido. Mas seu rendimento ficou muito abaixo do esperado.

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