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 | Antonio More/ Gazeta do Povo
| Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo

Há uma semana, a Copa do Mundo coroava o futebol alemão, que materializou em campo o êxito de uma longa reformulação do esporte no país. Mais do que falar do vexame brasileiro no Mundial, o meia Alex exaltou as lições dos novos campeões que ajudam a endossar as propostas do Bom Senso FC, movimento do qual é um dos líderes. Às vésperas de mais um encontro com a presidente Dilma Rousseff, marcado para amanhã, o meia do Coritiba fala nesta entrevista exclusiva à Gazeta do Povo sobre futebol, política, dos possíveis reflexos da Copa para o esporte no país e do sucesso do grupo, prestes a completar dez meses.

No que o fracasso brasileiro na Copa do Mundo escancarou os problemas que o Bom Senso tanto critica no futebol nacional?

Acho que não se deve colocar a Copa do Mundo na mesma cesta. Seria até injusto com quem estava lá dizer que Felipão é ultrapassado, a comissão é ultrapassada. O Felipão é um treinador vitorioso, tem a metodologia dele. Acontece que a seleção tem jogadores que não são brasileiros, a formação deles é europeia. As escolhas do treinador não foram boas, os jogadores individualmente não viveram bons momentos e aí acabou em um desastre.

No lado oposto, você considera o planejamento a maior virtude da Alemanha?

A formação da Alemanha fez aquilo que a gente coloca hoje. Começou a se reestruturar há dez anos, mais do que isso, e está dando frutos agora. Então a gente olha e vê que não estamos muito enganados. Estamos pedindo uma organização para que a gente obtenha, em um futuro próximo, o sucesso que a Alemanha obteve neste ano. Foi uma seleção fortíssima, em todos os sentidos, com todos os jogadores vivendo momentos espetaculares.

Quais seriam os principais passos da reformulação a partir de agora na seleção?

Hoje muita gente está discutindo quem vai ser o técnico da seleção, o Gilmar Rinaldi assumiu nesta semana. Isso é uma discussão muito pequena. A discussão é quem vai jogar a Copa de 2022? Como vão chegar esses jogadores em 2022? Nós vamos continuar com a mesma política de formar um produto e esse produto ir para o futebol europeu e ser lapido lá? Ou vamos criar um produto definido, enraizado, sabendo o que é o Brasil, aquilo que é o futebol brasileiro?

O Gilmar chegou sob muitas críticas por ser agente de jogadores. Serve para ele aquela máxima de que ‘não basta ser honesto, tem de parecer honesto’?

Vai ter de parecer. Vai ter de mostrar que é honesto. Infelizmente, até ontem ele era agente Fifa. E empresário de futebol tem interesses diferentes do que um coordenador de seleções. Não estou colocando em xeque a honestidade dele. Mas existe um conflito grande. Infelizmente ninguém viu o Gilmar, há um ano, dizer que não era mais agente e que estava se preparando para ser coordenador. Na hora que existir uma incompatibilidade, vai ter de pesar a favor do coordenador e provar isso.

Vocês do Bom Senso têm amanhã um encontro com a presidente Dilma Rousseff, qual a pauta desta nova reunião?

A sequência da conversa sobre a Lei da Responsabilidade Fiscal, para responsabilizar as pessoas que dirigem os clubes. Temos de parar com essa coisa de o cara vir, fazer o que quer e quando acaba o mandato dele o rombo fica. Muitas vezes enriquece nas costas do clube, muitas vezes trabalha fora do orçamento, isso é um absurdo, isso é crime e tem de ser tratado como tal. Isso realmente arrebenta com quem vem depois. Os presidentes começam a trabalhar com agiotas, com antecipação de verbas e vêm deixando um buraco grande para o clube no futuro. A presidente entendeu que seria importante, que é o momento, porque teve a Copa e daqui a dois anos a Olimpíada para que as coisas aconteçam de forma mais transparente, cristalina.

Nesta semana, o Bom Senso criticou a perpetuação dos dirigentes nas federações estaduais de futebol. Para vocês, é um dos empecilhos para a reformulação do futebol. Você comentou sobre a Olimpíada-2016. Acha que essa discussão pode refletir também nos outros esportes?

A mim me incomoda bastante essa perpetuação de dirigentes no poder, que não agrega nada em lugar nenhum, seja nas federações, na política, nos clubes. O importante é levantar essa discussão no Executivo, no Legislativo. Nós levantamos a bola, mas o gol, a finalização é deles.

Com a aposentadoria anunciada para o fim do ano, você pensa em começar a implantar essa filosofia do Bom Senso internamente no clube?

Me interessa, interessa muito. Se alguém do nosso grupo mais para frente se enraizar pelo seguimento político ou entrar na diretoria dos clubes vai continuar com a briga, mais ela não será mais a briga de um jogador, será de clubes.

Na quarta-feira o Bom Senso pediu ao público que fosse aos jogos com cartazes pedindo a democratização da CBF. Você se ressente da pouca participação dos torcedores?

Não. O Brasil tem uma democracia muito nova. As pessoas mal sabem o nome do vereador que votaram. Dia 30 de julho completamos dez meses. Acho que o movimento conseguiu vários avanços. O futebol brasileiro é do povo brasileiro e conseguir levar essa discussão às autoridades é importante e conseguimos isso.

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