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Carlinhos Neves e Zeca Baleiro tem em comum a paixão pela bola e pela música. | Bruno Tadashi/Divulgação
Carlinhos Neves e Zeca Baleiro tem em comum a paixão pela bola e pela música.| Foto: Bruno Tadashi/Divulgação

A paixão pela música do curitibano Carlinhos Neves, ex-prepador físico da seleção brasileira, São Paulo, Coritiba e Pinheiros, e do futebol pelo músico maranhense Zeca Baleiro pode resultar numa inédita compilação com regravações de músicas que tem a bola como tema.

Em um bate-papo com a Gazeta do Povo no Bar Folha Seca, de propriedade de Carlinhos, semana passada, os dois discutiram o embrião de um projeto que pode envolver ainda o ex-Titãs Nando Reis, amigo de ambos.

A iniciativa partiu de Carlinhos, profissional do futebol há 38 anos, que se considera um violonista frustrado e um estudioso de música. “Já pensei muito nisso. Minha ideia é pretenciosa, mas quero ter o Zeca e o Nando gravando este CD. Seria genial”, disse. “Vamos fazer, pô”, acrescentou Zeca, entusiasmado.

Durante o papo, no Dia do Samba, comemorado na última quarta-feira (2), Zeca se deu conta de que o futebol foi pouco cantado na música popular brasileira (MPB). “Quando estávamos montando o meu disco com o Fagner, percebemos que no repertório musical tem muito pouco futebol, se comparado com sua importância na cultura brasileira”.

Carlinhos e Zeca desandaram a lembrar de algumas canções, e acabaram chegando à conclusão de que a nova compilação seria uma boa ideia. “Acho que daria pelo menos um CD duplo”, diz Zeca.

Além da sua Canhoteiro , gravação escolhida para o CD com Fagner que homenageia o atacante do São Paulo na década de 50, a dupla lembrou de O Futebol , do Chico Buarque, 1 a 0 , do Pixinguinha”, das várias que Jorge Ben Jor gravou, Carlinhos Vergueiro com Fique de olho no apito , Meio campo , do Gilberto Gil, dos hinos das Copas de Luis Wagner, Luiz Ayrão, Júnior, João Nogueira, Gonzaguinha, entre outros.

Carlinhos fez até um pedido, mas Zeca despistou. “Queria muito que o Zeca gravasse Balada n.º 7 , do Moacyr Franco. Ficaria linda na voz dele”, disse. O amigo retrucou. “Essa arrepia só de lembrar. A gravação do Moacyr é tão definitiva, que eu nem me arriscaria a gravar”, brincou.

Amizade

Uma ida à padaria e um CD no rádio do carro fizeram com que Zeca e Carlinhos se cruzassem a primeira vez. No instante em que os primeiros acordes de Canhoteiro tocaram, Carlinhos ergueu os olhos e avistou o músico nas ruas do bairro Pinheiros, capital paulista.

“Tirei o CD, tomei coragem e me apresentei. Pedi um autógrafo. Ele assinou: ‘Um abraço boleiro do amigo Baleiro’. Genial né?”, contou. Alguns novos encontros, uma caixa de CDs de presente, um abraço com dedicatória durante um show. A admiração cresceu ao passo que o interesse pelos bastidores da profissão um do outro também crescia. Para explicar essa história direito, Zeca lembrou Chico Buarque.

“Li que o Chico, na época da ditadura, morava perto do Garrincha e da Elza Soares na Itália. Eles se encontraram muito e toda vez o Garrincha queria saber dos bastidores da vida musical do Chico. E o Chico só queria saber dos bastidores do futebol. Comigo e com o Carlinhos acontece exatamente o mesmo”, diverte-se.

Esse interesse, mútuo, é confirmado por Carlinhos. “Tenho convicção que gosto mais de música do que futebol. Amo futebol, trabalho nisso e gosto de jogar, mas ouço música o dia todo”, afirmou. “Eu também, mas pelo futebol”, arrematou Zeca.

A mencionada relação de Elza e Garrincha foi o símbolo da união definitiva do samba (e música em geral) e do futebol. Uma das mais emblemáticas canções compostas sobre essa união, O Futebol, veio justamente de Chico Buarque, amigo em comum de todos os personagens dessa história.

Futebol e música são intrinsecamente parecidos, na concepção de Zeca. “É preciso de técnica em ambos. Sem talento, sem brilhantismo, não tem jeito. O jazz, o samba, todos os gêneros nasceram do improviso. E o futebol também. Só depois ganhou regras”, disse o músico.

“O futebol também. Por mais que seja amarrado em um sistema tático, o que decide o jogo são as ações individuais, o improviso, a mudança inesperada de direção”, contou Carlinhos. “O Sobrenatural de Almeida do Nelson Rodrigues”, acrescentou Zeca.

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