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 | (5) Cesar Greco / Fotoarena/
| Foto: (5) Cesar Greco / Fotoarena/

O distraído vai dizer que a Copa São Paulo de Futebol Júnior é uma competição nacional que reúne meninos imberbes que já nasceram nos tempos tristes das chuteiras coloridas.

Alheio a toda a imensidão que se esconde atrás do óbvio, vai cravar: “Não passa de um campeonato juvenil”.

Mas a Copinha é infinitamente mais do que isso.

Antes e acima de tudo, ela representa o reencontro mais que almejado com o Futebol. Até ela chegar, estávamos todos largados à própria sorte, perambulando de bar em bar à procura de uma TV sintonizada numa partida de pebolim – que fosse! –, órfãos desde o prelúdio de dezembro, quando o Brasileirão acabou. Uma separação doída e unilateral – ninguém jamais perguntou se nós concordávamos com esse hiato forçado.

Por isso, a Copinha traz a tiracolo o remédio para a nossa aflição. Ainda não é cachaça de que a gente precisa, mas já é um gole pra firmar o pulso.

Depois de muito esperar, eis que vemos a bola voltando a rolar mansa pela relva no mais genuíno Futebol brasileiro: são campinhos imaculados, miúdas canchas virgens que nunca viram a lente de uma câmera. Na Copinha, o Futebol é peralta, medonho em seu jeito, ligeiro em sua forma. Ninguém ali carrega obrigação alguma. São só sonhos. Vinte e dois imensos sonhos se digladiando, se ombreando pra ver qual deles é mais etéreo e qual o mais espesso; qual sobe feito Dadá Maravilha e qual desce acachapante ao subsolo dos gramados.

Feliz do homem que depois de dias sufocantes sem uma única dose do esporte bretão encosta a testa no alambrado de um desses campinhos, tapa o sol que vem contra a cara e vê acontecer ali, bem diante dele, o milagre do Futebol travesso.

Mas a Copinha, que por isso só já vive fazendo ciranda nos nossos coraçõezinhos, traz ainda mais um elemento fundamental: ela é a representação mais apurada da esperança.

Sim, porque é ali, naquelas camisas ainda largas pra tão pouco corpo, que vivem as nossas mais abissais expectativas. É dali, pensamos todos, que vai sair a grande redenção do nosso time, o boleiro sem vícios nem manias, o fidalgo que joga por amor à camisa, o menino que não quer contratos nem empresários, quer só brincar de bola num estádio em cólera.

Olhamos para cada um daqueles meninos e nos perguntamos se não é um Dirceu Lopes preso naquele corpo, se não é um Rivelino que vive naquela perna esquerda.

Pouco importa que lá no fundo quase nenhum deles vire um desses monstros sagrados, porque o fundamental mesmo é sonhar. Nós e eles. O elementar é olhar cada garoto daquele e cometer o exercício saboroso da expectativa, imaginando que um dia, talvez um dia, ele seja o libertador das nossas angústias, o abolicionista das nossas frustrações.

A Copinha, meus amigos, é o guichê da esperança.

* Velho Cronista

é o alter ego de um escritor anônimo, criado no tempo em que o futebol era jogado de chuteiras pretas. Leia mais em velhocronista.com e acompanhe as fábulas pelo twitter.com/velhocronista

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