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“[A Copa de 2014] Será uma responsabilidade enorme. Por isso que eu preciso me preparar bem. Eu quero estar à altura disso tudo. Não quero simplesmente passar pela seleção.” - Carlinhos Neves, preparador físico da seleção brasileira | Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo
“[A Copa de 2014] Será uma responsabilidade enorme. Por isso que eu preciso me preparar bem. Eu quero estar à altura disso tudo. Não quero simplesmente passar pela seleção.” - Carlinhos Neves, preparador físico da seleção brasileira| Foto: Giuliano Gomes/ Gazeta do Povo

Justamente quando ganhou o mundo, na condição de preparador físico da seleção brasileira, Carlinhos Neves está de volta a Curitiba. Desde 1996, ano em que trabalhou no Paraná, ele vivia longe da terra natal. Esteve no Grêmio, Palmeiras e, na se­­gunda passagem pelo São Paulo, permaneceu por oito anos no Mo­­rumbi. "Tinha muita saudade", revela o Lampadinha, 53 anos, que, além do Tricolor, de­­fen­­deu por aqui Atlético, Cori­­tiba e o extinto Pinheiros.Embora volte a residir na capital, nem sempre ele poderá curtir as corridas diárias no Parque Barigui, atividade que já retomou, ou cuidar de perto do bar e restaurante que tem no bairro Água Verde. A rotina na comissão técnica do Brasil, ao lado do técnico Mano Menezes, exigirá viagens constantes. "Vou rodar pelo mundo, Espanha, Inglaterra, Itália, Alemanha, não apenas pesquisando sobre a parte física, mas de tudo que envolve ao futebol. Porém volto sempre pra minha casa".

Como está sendo o fim dessa re­­lação tão longa com o São Paulo?

Tenho contrato com o São Paulo até dia 31 de dezembro. Quando se encerrar, estou desvinculado do clube. Foram dez anos. Vejo com naturalidade, o argumento do clube é de que é incompatível dividir o preparador físico com a seleção brasileira, pela importância do cargo. Quando eu fui convocado, o São Paulo foi procurado para autorizar e naquele momento eles aceitaram. Não cabe discutir muito. Eu já tinha um anseio, antes mesmo da seleção de, não me reciclar, pois não estou desatualizado, mas me capacitar ainda mais.

Dez anos no clube considerado o de maior estrutura do país, títulos conquistados, qual o balanço que você faz?

Espero que um outro profissional consiga chegar às marcas que eu obtive. Foram 661 partidas, isso porque eu tive algumas suspensões. Se não, seriam 700. São sete títulos, dois Paulistas, três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial. Fica um carinho pelo São Paulo, o respeito.

Muita gente comenta que se trata de um clube fácil de trabalhar, pois oferece uma estrutura excelente. É verdade?

Vamos ver quem vai passar por lá. O São Paulo já não é campeão do Nacional há dois anos. E outras estruturas hoje são muito boas, os dois times de Minas Ge­­rais, os dois do Rio Grande do Sul, o Palmeiras, Corinthians, San­­tos, Atlético e Coritiba, a concorrência aumentou muito. E a mi­­nha carreira não foi feita só no São Paulo. Venci dois Brasileiros no Palmeiras, tenho título no Grê­­mio, vários no Atlético aqui em Curitiba.

Você saiu de Curitiba em 1996, como vê o cenário do futebol da capital nesta volta?

Quando saí, o Paraná Clube era muito forte. Enfileirava títulos. Acho até que o Paraná moveu uma evolução. A estrutura de Atlético e Coritiba é muito boa.

Saudade de casa?

Muita. Voltei a correr no Parque Barigui, encontrando os amigos. Gosto de morar aqui, é a minha terra, onde me sinto bem. Há muitos anos não moro aqui, passei por Belo Horizonte, Porto Alegre. Quero curtir a parte gastronômica da cidade, a vida cultural, aproveitar bastante.

Como será a sua rotina daqui para a frente como preparador físico da seleção?

Volto a morar em Curitiba, mas manterei meu apartamento em São Paulo por um tempo. Na semana que vem, vou dar uma olhada no início do trabalho da seleção sub-20, com o Ney Franco. Depois, vou ver alguns jogos no Peru. Em fevereiro vamos jogar em Paris, contra a França, de lá eu dou um pulo em Madri, para ver alguns jogadores e pesquisar. Vou rodar pelo mundo.

Como funciona o trabalho na seleção?

Já tivemos quatro jogos e o cuidado de criar um mecanismo para acompanhar os atletas. Eles são convocados com 15 dias de antecedência e criamos um documento, eles recebem por e-mail e devolvem para mim com o trabalho das últimas duas semanas, da parte física, técnica e tática. Intensidade de treino etc. Esse é o primeiro passo. Já podemos perceber as diferenças de cada país, de cada clube. E quando vamos para os jogos, a prioridade é a parte técnica e tática. Apenas cuidamos dos atletas de uma forma geral, procurando manter o estágio atual deles. Depois, uma preparação mais completa só vai acontecer na Copa América. Lá na Argentina, teremos duas semanas para um trabalho maior.

Há muita diferença na preparação física dos clubes?

Não diria que os níveis são diferentes, mas as escolas de trabalho sim. Há diferenças grandes mesmo dentro de um país. Tem jogador que faz musculação e outro que não faz, por exemplo.

E qual é o estilo brasileiro?

No Brasil nós conseguimos abordar todos os aspectos necessários para estar bem fisicamente. Talvez pela dificuldade de calendário nosso, pelo país ser muito grande, de repente fomos mais criativos, mas não quero dizer que somos melhores. Cada país tem as suas características.

A preparação física da seleção virou polêmica nas duas últimas Copas, por causa de atletas como Ronaldo e Adriano. O que você pensa sobre isso?

Não quero nem falar, pois não estava lá. O que eu sei é que é uma responsabilidade muito grande e eu estou me preparando da me­­lhor forma possível. O Mano [Menezes, técnico da seleção] é muito cuidadoso com isso, gosta de planejar, estamos criando um jeito de fazer ainda para cercar todas as variáveis.

Como fica a relação do preparador físico da seleção com os clubes para não aparentar uma "intromissão" no preparo dos atletas?

Não vamos nos meter, vamos acompanhar, saber o que eles estão fazendo e respeitar. Não va­­mos mudar nada em clube al­­gum. Apenas pretendemos ter acesso ao que está acontecendo com os jogadores, se ele se ma­­chucou, quanto tempo jogou etc.

Você considera que alcançou o auge da carreira?

Eu jamais falaria isso. Sin­­ce­­ra­­mente, nunca pensei nisso. Não era o que me movia. Acon­­teceu da forma mais inesperada possível, com um treinador que eu nunca tinha trabalhado.

Você foi uma indicação do Mano?

Ele que me chamou. Como ele chegou a mim eu não sei, imagino que tenha sido pelo currículo.

A Copa disputada no Brasil em 2014 será uma responsabilidade diferente?

Será uma responsabilidade enorme. Por isso que eu preciso me preparar bem. Eu quero estar à altura disso tudo. Não quero simplesmente passar pela seleção. É um calendário e tanto. Vamos imaginar que a seleção se classifique para a Olimpíada em Londres, nós que cuidaremos da equipe. O ano que vem tem a Copa América, já fomos até lá pesquisar locais para a equipe. Tem a Copa das Confederações no Brasil. Mas sou muito pé no chão. Isso se chegarmos até lá, seleção depende de resultados.

Você tem outros planos além da seleção?

Esse projeto da seleção não tem prazo. Pode ser até a Copa Amé­­rica, enfim. Não estou dizendo que não vou trabalhar mais em clube. Evidentemente, se surgir uma ideia legal, algo que possa ser conciliado. Em princípio, seria incoerente aceitar. Mas tudo é muito dinâmico. Tenho projetos para o futuro – em desenvolvimento –, ligados ao futebol e outras áreas da preparação física.

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