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Primeira foto em Março de 2012: A equipe da Apac, de Curitiba, será a primeira do país a ir à Copa do Mundo, na França, nas modalidades free e solo dance. Stella Mattos, Natália, Geórgia, Najla e Ariane. Na segunda foto em Maio de 2009: Rifas e festas juninas eram recursos  para arrecadar verbas. O time teve a primeira participante em um Mundial e as oito primeiras medalhas em brasileiros. Time de 2009 do Apac: maioria das meninas deixou o treinamento por causa da falta de apoio e estrutura | Fotos: Antonio Costa/ Gazeta do Povo
Primeira foto em Março de 2012: A equipe da Apac, de Curitiba, será a primeira do país a ir à Copa do Mundo, na França, nas modalidades free e solo dance. Stella Mattos, Natália, Geórgia, Najla e Ariane. Na segunda foto em Maio de 2009: Rifas e festas juninas eram recursos para arrecadar verbas. O time teve a primeira participante em um Mundial e as oito primeiras medalhas em brasileiros. Time de 2009 do Apac: maioria das meninas deixou o treinamento por causa da falta de apoio e estrutura| Foto: Fotos: Antonio Costa/ Gazeta do Povo

Copa em Paris é Grand Slam da patinação

A Copa do Mundo de Paris é uma das mais importantes competições do calendário da patinação artística mundial. "É como se fosse uma das etapas do Grand Slam, no tê­­nis", compara a técnica Fabiana Con­­sentino. A competição francesa é de dança, com duas modalidades individuais. Uma é o solo dance, em que as patinadoras apresentam as mesmas séries, cumprindo elementos obrigatórios, em que pontos são atribuídos especialmen­­te quanto à precisão dos movimentos.

A outra é o free dance, em que se apresentam cada uma com mú­­sica e coreografias próprias. As se­­quências das curitibanas utilizam sons da Brodway e um swingue dos anos 50. "Prefiro músicas com al­­ternâncias de tons e velocidades, que ampliam o leque de movimen­tos que as meninas podem executar", explica Fabiana. Nesse quesito, tem peso na nota a interpretação artística das patinadoras. As brasileiras vão, pela primeira vez, se confrontar com patinadoras eu­­ropeias. "As italianas são as melhores. Não vou pensando em pódio, mas em fazer o meu me­­lhor", diz Ariane Francez, única brasileira na categoria Jeunesse.

Perfil

Cada coreografia é composta com base nas principais quali­­da­­des das patina­­doras. A técnica Fa­­bia­­na Consentino co­­menta as carac­­te­­rísticas da equipe da Apac de Curitiba:

• Georgia, 14 anos – tem um personagem meigo, uma dança bonita e conquista pelo carisma. Fez aulas de balé antes da patinação.

• Nathalia, 14 anos – despontou em 2011, e impressiona pelo pé forte – a potência e precisão nos seus movimentos e coreografias.

• Ariane, 16 anos – campeã sul-americana de free dance. Agitada, tem um ritmo acelerado de apresentação que impressiona.

• Stella, 15 anos – mais alta do grupo, tem os movimentos alongados e grande sensibilidade artística.

• Najla, 14 anos – depois dos bons resultados nos Campeonatos Brasileiros de 2011, cresceu muito. Faz uma coreografia de alto nível de dificuldade.

O piso de cimento está longe de ser o ideal para o deslize das rodinhas. Ainda assim, foi no rinque im­­provisado em uma quadra po­­liesportiva que se formou a equipe curitibana que vai representar o Brasil na Copa de Dança de Pati­­na­­ção Artística, em Paris, de 6 a 8 de abril.

É a primeira vez que o país tem representantes na mais tradicional competição das modalidades solo e free dance.

As cinco atletas da Associação dos Pais e Amigos dos Patinadores Artísticos de Curitiba (Apac) convo­cadas têm entre 14 e 16 anos e fo­­ram escolhidas pela Confede­­ra­­ção Brasileira de Hóquei e Pati­­nação (CBHP) por terem os melhores re­­sultados nas competições nacionais nas categorias Cadete (14 e 15 anos) e Jeunesse (16 e 17 anos).

E também por terem garantido arcar com os custos da viagem ao Velho Continente.

A verba para bancar a participação na Copa do Mundo – cerca de R$ 4 mil por patinadora – ainda vem do bolso dos pais de Nathalia Di Pretoro, Najla Saeme Sato, Geor­­gia Esperança Mansani, Ariane Francez e Stella Mattos.

A situação financeira da equipe da Apac (17 patinadoras) é praticamente a mesma de três anos atrás, quando, mesmo com infraestrutura precária, as meninas comandadas pela técnica Fabiana Consen­­ti­no despontavam nos Campe­­ona­tos Brasileiros.

À época, vieram com os primeiros ouros na competição e a pri­mei­ra vaga conquistada para um Campeonato Mundial – com Fran­cys Zanon (hoje, aos 23 anos, ela abriu mão da Copa de Paris pa­­ra se preparar para a Copa da Ale­­manha, na categoria adulto, em que disputará a modalidade livre, em maio).

Mas, finalmente, comemora a técnica Fabiana Consentino, a história financeira da Apac tende a se equiparar aos resultados da equipe.

Nos próximos meses, a Apac começa a aplicar os R$ 200 mil que receberá como patrocínio da Vol­­vo, via Lei de Incentivo ao Esporte federal. A associação recebeu autorização do Ministério do Esporte para captar até R$ 764 mil em renúncia fiscal de empresas.

Além de bancar as viagens para competir, o apoio da montadora permite a formação de um corpo técnico multidisciplinar: Fabiana Consentino, que até agora tinha como salário a mensalidade das aulas de patinação, vai contratar uma professora de balé, um preparador físico e uma psicóloga esportiva para a preparação das garotas.

"Ainda teremos um fisioterapeuta. Mas é um grande avanço", diz. Outra questão que ainda fica pendente é ter um local próprio – ou apropriado, ao menos – para treinos.

"Continuamos as sem-teto. Mas, nos últimos dois anos, tivemos uma evolução técnica impressionante. Em 2009, tínhamos oito medalhas em brasileiros. Ano passado, somamos mais de 50", fala Fabiana.

A quadra que usam é alugada por hora – no Clube Ícaro, no bairro Cabral. Entre as linhas que de­­marcam os limites do campo de fut­sal, o único ajuste nos últimos três anos foi a pintura dos círculos para as repetições dos corrupios (giros).

Como o local é aberto, quando chove, as patinadoras trocam as ro­­dinhas pelos tênis para os ensaios coreográficos ou treinos físicos, desviando das poças d’água. "Não conseguimos locar outros locais com melhor piso porque acham que os patins vão danificar a quadra", diz Stella.

A melhora técnica das meninas é resultado da aposta em intercâmbios na Califórnia (EUA). E não é porque o estado norte-americano tenha equipes mais fortes do que a curitibana. É simplesmente porque têm rinques de patinação aber­­tos o dia todo.

"Passamos o mês de janeiro lá. Começávamos a treinar antes de o sol nascer e saíamos só quando anoitecia", conta a treinadora. "É um choque voltar a treinar no ci­­mento, mas é o jeito", conta Na­­thalia. O custo do treino no exterior também sai do ‘paitrocínio’.

"Já fizemos rifas, festas juninas para arrecadar dinheiro. Mas, no fim, é tudo do bolso dos nossos pais. Sabemos que, quando estamos em um campeonato, só estamos lá porque nossos pais ralaram muito para isso", destaca Stella.

As garotas também tentam con­­seguir patrocínios individuais. Ariane, Najla, Nathalia e Georgia re­­cebem incentivo financeiro de até R$ 1,5 mil da Lei de Incentivo ao Esporte da Prefeitura de Curiti­­ba. O valor é suficiente para pagar uma viagem para competir ou um curso de patinação ou um pé do par de patins de competição.

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