Copa em Paris é Grand Slam da patinação
A Copa do Mundo de Paris é uma das mais importantes competições do calendário da patinação artística mundial. "É como se fosse uma das etapas do Grand Slam, no tênis", compara a técnica Fabiana Consentino. A competição francesa é de dança, com duas modalidades individuais. Uma é o solo dance, em que as patinadoras apresentam as mesmas séries, cumprindo elementos obrigatórios, em que pontos são atribuídos especialmente quanto à precisão dos movimentos.
A outra é o free dance, em que se apresentam cada uma com música e coreografias próprias. As sequências das curitibanas utilizam sons da Brodway e um swingue dos anos 50. "Prefiro músicas com alternâncias de tons e velocidades, que ampliam o leque de movimentos que as meninas podem executar", explica Fabiana. Nesse quesito, tem peso na nota a interpretação artística das patinadoras. As brasileiras vão, pela primeira vez, se confrontar com patinadoras europeias. "As italianas são as melhores. Não vou pensando em pódio, mas em fazer o meu melhor", diz Ariane Francez, única brasileira na categoria Jeunesse.
Perfil
Cada coreografia é composta com base nas principais qualidades das patinadoras. A técnica Fabiana Consentino comenta as características da equipe da Apac de Curitiba:
Georgia, 14 anos tem um personagem meigo, uma dança bonita e conquista pelo carisma. Fez aulas de balé antes da patinação.
Nathalia, 14 anos despontou em 2011, e impressiona pelo pé forte a potência e precisão nos seus movimentos e coreografias.
Ariane, 16 anos campeã sul-americana de free dance. Agitada, tem um ritmo acelerado de apresentação que impressiona.
Stella, 15 anos mais alta do grupo, tem os movimentos alongados e grande sensibilidade artística.
Najla, 14 anos depois dos bons resultados nos Campeonatos Brasileiros de 2011, cresceu muito. Faz uma coreografia de alto nível de dificuldade.
O piso de cimento está longe de ser o ideal para o deslize das rodinhas. Ainda assim, foi no rinque improvisado em uma quadra poliesportiva que se formou a equipe curitibana que vai representar o Brasil na Copa de Dança de Patinação Artística, em Paris, de 6 a 8 de abril.
É a primeira vez que o país tem representantes na mais tradicional competição das modalidades solo e free dance.
As cinco atletas da Associação dos Pais e Amigos dos Patinadores Artísticos de Curitiba (Apac) convocadas têm entre 14 e 16 anos e foram escolhidas pela Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) por terem os melhores resultados nas competições nacionais nas categorias Cadete (14 e 15 anos) e Jeunesse (16 e 17 anos).
E também por terem garantido arcar com os custos da viagem ao Velho Continente.
A verba para bancar a participação na Copa do Mundo cerca de R$ 4 mil por patinadora ainda vem do bolso dos pais de Nathalia Di Pretoro, Najla Saeme Sato, Georgia Esperança Mansani, Ariane Francez e Stella Mattos.
A situação financeira da equipe da Apac (17 patinadoras) é praticamente a mesma de três anos atrás, quando, mesmo com infraestrutura precária, as meninas comandadas pela técnica Fabiana Consentino despontavam nos Campeonatos Brasileiros.
À época, vieram com os primeiros ouros na competição e a primeira vaga conquistada para um Campeonato Mundial com Francys Zanon (hoje, aos 23 anos, ela abriu mão da Copa de Paris para se preparar para a Copa da Alemanha, na categoria adulto, em que disputará a modalidade livre, em maio).
Mas, finalmente, comemora a técnica Fabiana Consentino, a história financeira da Apac tende a se equiparar aos resultados da equipe.
Nos próximos meses, a Apac começa a aplicar os R$ 200 mil que receberá como patrocínio da Volvo, via Lei de Incentivo ao Esporte federal. A associação recebeu autorização do Ministério do Esporte para captar até R$ 764 mil em renúncia fiscal de empresas.
Além de bancar as viagens para competir, o apoio da montadora permite a formação de um corpo técnico multidisciplinar: Fabiana Consentino, que até agora tinha como salário a mensalidade das aulas de patinação, vai contratar uma professora de balé, um preparador físico e uma psicóloga esportiva para a preparação das garotas.
"Ainda teremos um fisioterapeuta. Mas é um grande avanço", diz. Outra questão que ainda fica pendente é ter um local próprio ou apropriado, ao menos para treinos.
"Continuamos as sem-teto. Mas, nos últimos dois anos, tivemos uma evolução técnica impressionante. Em 2009, tínhamos oito medalhas em brasileiros. Ano passado, somamos mais de 50", fala Fabiana.
A quadra que usam é alugada por hora no Clube Ícaro, no bairro Cabral. Entre as linhas que demarcam os limites do campo de futsal, o único ajuste nos últimos três anos foi a pintura dos círculos para as repetições dos corrupios (giros).
Como o local é aberto, quando chove, as patinadoras trocam as rodinhas pelos tênis para os ensaios coreográficos ou treinos físicos, desviando das poças dágua. "Não conseguimos locar outros locais com melhor piso porque acham que os patins vão danificar a quadra", diz Stella.
A melhora técnica das meninas é resultado da aposta em intercâmbios na Califórnia (EUA). E não é porque o estado norte-americano tenha equipes mais fortes do que a curitibana. É simplesmente porque têm rinques de patinação abertos o dia todo.
"Passamos o mês de janeiro lá. Começávamos a treinar antes de o sol nascer e saíamos só quando anoitecia", conta a treinadora. "É um choque voltar a treinar no cimento, mas é o jeito", conta Nathalia. O custo do treino no exterior também sai do paitrocínio.
"Já fizemos rifas, festas juninas para arrecadar dinheiro. Mas, no fim, é tudo do bolso dos nossos pais. Sabemos que, quando estamos em um campeonato, só estamos lá porque nossos pais ralaram muito para isso", destaca Stella.
As garotas também tentam conseguir patrocínios individuais. Ariane, Najla, Nathalia e Georgia recebem incentivo financeiro de até R$ 1,5 mil da Lei de Incentivo ao Esporte da Prefeitura de Curitiba. O valor é suficiente para pagar uma viagem para competir ou um curso de patinação ou um pé do par de patins de competição.
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