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A cena é do clássico Paraná x Atlético, mas já aconteceu com todos os times. João Paulo faz o gol, sai para comemorar, mas para, levanta os braços e expressa compunção em seu rosto, quase pedindo desculpas pelo que acabou de acontecer. Mais um caso clássico de jogador que evita comemorar gol contra um time que já defendeu. Sinal de respeito, dizem os defensores dessa postura. Menos, diz este colunista.

Vai chegar um tempo – e ele está tristemente próximo – em que jogadores serão punidos por fazer um gol. De certa forma isso já acontece, com a regra burra de punir com cartão qualquer excesso na comemoração de um gol. Claro, se um jogador sai xingando Deus e o mundo, provocando, realmente merece punição. Mas o que há de ofensivo em arrancar a camisa ou se pendurar em um alambrado?

Wellington fez um golaço outro dia na Vila Capanema, contra o CRB, e subiu no alambrado da Reta do Relógio. Quer emoção maior para um torcedor do que poder comemorar um gol a poucos centímetros do sujeito que acabou de marcá-lo? E mais, vendo nele a mesma emoção que um torcedor sentiu.

Os jogadores reforçam a penitência do gol com essa história de não comemorar gol em time que já defendeu. Não sei quem começou com isso. A lembrança mais remota que eu tenho é a do Luís Fabiano, sutil como sempre, dizendo que fazer gol na Ponte Preta era como bater na própria mãe. Na mesma época alguém não comemorou gol contra ex-time, todo mundo aplaudiu e virou moda. Hoje em dia, até empresário recomenda a jogador tal postura. Virou mar-keting. Uma maneira de emprestar um verniz de bom moço aos atletas. Deixa a imagem mais vendável, dizem os entendidos.

Tudo muito bonito, se não fosse um "pequeno" detalhe: o time que o jogador defende naquele momento. No caso de sábado, será que o atleticano se sentiu respeitado ao ver um jogador do seu time fazer um gol em um clássico e não comemorar? Ou será que o paranista gostará, por exemplo, de futuramente ver Lúcio Flávio fazer um gol contra o Botafogo e não festejar?

A linha de pensamento do "quem não comemora gol contra ex-time demonstra respeito" encobre uma certa intolerância. A mesma que torna cada vez mais difícil a convivência entre pessoas que tenham ideias diferentes. E aí não me refiro apenas ao futebol.

João Paulo demonstrou muito mais respeito ao Paraná pela lealdade com que jogou durante os 90 minutos do que pela não-comemoração. E respeitou mais ainda o Tricolor ao defender o clube com empenho e dedicação quando passou pela Vila Capanema.

Na saída do campo, João Paulo foi xingado ferozmente por um grupo de torcedores posicionados no alambrado acima da boca do túnel do visitante. Quando já sumia na escadaria, levantou a cabeça e respondeu. No fim, a não comemoração não fez diferença alguma.

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