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Khaila Ali (ao centro), uma das filhas de Muhammad Ali, voltou esta semana ao Stade du 20 Mai, em Kinshasa, palco da luta em que seu pai derrotou George Foreman | Adia Tishipuku/AFP
Khaila Ali (ao centro), uma das filhas de Muhammad Ali, voltou esta semana ao Stade du 20 Mai, em Kinshasa, palco da luta em que seu pai derrotou George Foreman| Foto: Adia Tishipuku/AFP

São Paulo - Foi uma luta de boxe que inspirou o livro de um famoso escritor (Norman Mailer) e um documentário ganhador do Oscar (Quando Éramos Reis). O duelo entre Muha­mmad Ali e George Foreman, em 30 de outubro de 1974, em Kin­shasa, no Zaire (atual Congo), foi mais do que uma disputa pelo título mundial dos pesos pesados. Tornou-se o maior exemplo esportivo de que a competência e a determinação, aliadas a uma boa dose de inteligência, podem tornar qualquer resultado possível.

A maioria dos especialistas do boxe mundial temia pela vida de Ali. Mas ele, mais velho (32 anos contra 25) e menos pegador (31 nocautes em 44 vitórias contra 37 nocautes em 40 triunfos), era muito mais esperto do que Foreman. Assim, se esquivou dos violentos golpes do rival com maestria, caminhou no ringue como um bailarino e atacou com precisão no momento certo. O nocaute veio aos 2min58 do oitavo assalto, após uma inesquecível aula de Ali, que vencia para os três jurados: 68-66, 70-67 e 69-66.

Ali x Foreman foi o primeiro evento do empresário Don King, que levou a luta para o Zaire, na época sob o regime do ditador Mobutu Sésé Seko. O duelo fez parte de um festival de música, que reuniu James Brown, Celia Cruz, Fania All-Stars, B.B. King, Miriam Makeba e The Spinners. Cada lutador recebeu US$ 5 milhões pelo combate histórico.

Mais de 60 mil torcedores foram ao Stade du 20 Mai e tiveram de esperar até a madrugada, pois o horário foi armado para privilegiar a transmissão para os Estados Unidos. O estilo falastrão, político e simpático de Ali ganhou o apoio do público, que não se cansou de gritar "Ali, boma ye" (Ali, mate-o). Sisudo e caladão, Foreman era respeitado, mas não amado pelos africanos.

A luta foi eletrizante desde os primeiros segundos. "Nunca pensei que um punho pudesse carregar tanta potência", afirmou Ali, no livro Sou o mais Poderoso, ao se referir sobre a força de Fo­­reman. "Nunca havia ouvido o som do medo em meu córner", continuou o mito, que revelou ter sido atingido com força no segundo assalto. "Minha cabeça vibrava como um diapasão."

O terceiro round era apontado pelos técnicos de Foreman, Sandy Sadller e Archie Moore, como o momento certo para o nocaute. Ele não veio. Pior. Ali não parava de acertar o rosto do rival, que demonstrava cansaço. O quinto round foi incrível. A troca de golpes é uma das mais empolgantes da história.

Os dois sentiram o castigo, diminuindo o ritmo até a decisão no oitavo. Ali aproveitou um descuido para acertar uma sequência de três fortes golpes. Foreman foi caindo em câmera lenta. Detalhe: Ali poderia ter castigado o adversário, desguarnecido, mas, elegante, deixou o rival desabar na lona. Ines­­que­­cível.

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