• Carregando...

Córdoba - Onze horas da manhã, o Uno verde breca na porta do hotel Vilrrey, em Córdoba. Ocimar Bolicenho – não o próprio, mas o sósia – desce para nos chamar. Prontamente, eu e o fotógrafo Hedeson Alves embarcamos rumo a Alta Gracia, 35 quilômetros mais tarde, paradeiro de Ernestito, também conhecido por Che Guevara, dos 4 aos 16 anos.

Retorno ao passado iniciado já no caminho. Rola o som dos anos 80. Ocimar – que tem a cara, a voz e os óculos do ex-presidente do Paraná e diretor do Atlético –, ao saber que somos brasileiros, relembra a nababesca lua de mel em Búzios, quando dólar e peso equivaliam. Bem menos empolgado, ele fica ao ser inquirido sobre Che. "No me importa".

Tratamos da polêmica em torno da figura, aparentemente, mais forte ainda na terra natal (o chapa de Fidel Castro é argentino de Rosário). Herói revolucionário de Cuba? Ditador assassino? Médico galã? Guerrilheiro hippie chic? Ou, simplesmente, um pôster invocado na parede? Repetindo o nosso condutor, "no me importa". Estávamos na captura do passado do piazão Guevara.

Chegando à cidade, dá pra sacar o motivo que empurrou a família dele até lá, no início dos anos 30. Alta Gracia é extremamente seca, a Babilônia dos portadores de asma – doença que apavorava o herói, ou melhor, controvertido personagem. Parece encravada no meio do deserto.

Entrando na Villa Nydia, porém, o cenário é outro. Bairro classe média, algumas árvores (secas) nas calçadas, lembra a Curitiba old school, quando ainda era possível jogar bola na rua. A casa, situada à Avellaneda, número 501, abriga atualmente um museu sobre Che e, naturalmente, virou ponto de peregrinação desde a inauguração em 2001 (Castro e Hugo Chávez já pintaram na área).

Logo ao entrar, uma cena emblemática: "Vai lá, filho! Tira uma foto com o Che". Pouco comovido, João Vítor, trajando camisa da seleção brasileira, posa ao lado da estátua, para o registro do pai Lúcio Siqueira. Pergunto ao analista de sistemas o que ele contou ao menino sobre o antigo morador: "Disse que era um sonhador. Só isso".

A escultura de bronze é um dos elementos mais legais do museu que, a cada cômodo, reconta a história do portador da boina mais famosa do planeta. Anos antes de ele ostentar a barba igualmente célebre, ele está lá, sentado na varanda, franja na testa, sandália, shorts, conjunto camisa pólo, colete e uma expressão de quem tinha a cabeça cheia de ideias (ou sacanagens, considerando a idade).

No seio do lar, de aposentos amplos, estão réplicas de móveis e objetos da época, além de fotos e cartas, com a letra do garoto e homenagens de amigos de infância. O destaque é a reprodução da moto, batizada La Poderosa II, que carregou Ernesto e o camarada Alberto Granada pela América Latina.

O quintal, também grande, foi palco de algumas peladas e hoje é a faixa final na imersão ao passado de Che. Excursão que ainda oferece um número considerável de souvenires àqueles que ainda vibram com frase clássica: "Hasta la victoria siempre!".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]