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O continente africano – região que abriga a Copa do Mundo deste ano – faz do futebol uma arte para as crianças driblarem a pobreza, além da falta d e infraestrutura mínima para praticar esporte | Fotos: Julio Cesar Lima
O continente africano – região que abriga a Copa do Mundo deste ano – faz do futebol uma arte para as crianças driblarem a pobreza, além da falta d e infraestrutura mínima para praticar esporte| Foto: Fotos: Julio Cesar Lima
  • Veja onde ficam os países africanos

Eles não fazem parte do grupo de seleções classificadas para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, mas as populações de Uganda, Ruanda, Burundi e República Democrática do Con­­go (RDC) parecem não se importar muito com isso. Percorrer o interior desses países é como voltar ao passado no Brasil, quando o país não vivia sob a ditadura da grama sintética e os campinhos de terra revelavam craques sem parar. Sem dinheiro, campos com boas estruturas e melhores condições de vida, esses lugares tentam, cada um ao seu modo, ini­­ciar suas histórias no mundo da bola.

Fanáticos por futebol, dentro de seis meses, quando a bola ro­­lar na terra de Mandela, eles estarão de olho nas campanhas de Brasil, considerado o segundo time para a maioria deles, e também da Inglaterra, por conta da força com que o futebol inglês chega a esses países por meio da televisão.

Uganda tem um campeonato nacional com 18 equipes e ainda ocupa a 75.ª colocação no ran­­king da Fifa, distante das seleções de Camarões, Gana e Costa do Marfim (que está no grupo do Brasil). Mas já provou o gosto do prestígio na década de 1970, quando o time que chegou à fi­­nal da Copa Africana de 1978, contra Gana, ganhou o apelido de Cranes, em referência ao tradicional pássaro nacional conhecido pela agilidade.

No início de agosto, esses ídolos estiveram em campo novamente para receber uma homenagem. E não fizeram feio. Em um amistoso contra uma seleção brasileira formada por Atletas de Cristo, que contou com os ex-jogadores Kelly (ex-Atlético), Zé Carlos e Mário Tilico (ex-São Paulo) e também Claudecir (ex-Grêmio), eles perderam por 2 a 1, mas 48 horas antes o time principal de Uganda goleou os brasileiros por 4 a 1 e levou os milhares de torcedores ao delírio no Estádio Nakivubo, na capital Kampala.

Em campo estavam Stevem Bengo e Ocham Patrick, símbolos da nova geração de atletas que deixou Uganda na terceira colocação das Eliminatórias, com 10 pontos. Receberam elogios do ex-goleiro Fred Tamale. "Eles mostram um futebol bonito e nos dão esperança de disputarmos uma Copa do Mundo. Ho­­je em dia alguns jovens se mu­­dam para a Europa e isso dá mais experiência", diz.

Mas enquanto os Cranes não aterrissam em uma disputa mun­­­­dial, os torcedores escolhem o Bra­­sil, que já foi de Pelé, Ro­­mário, Ronaldo e hoje é de Ka­­ká. "Ele é o melhor do mundo e o Brasil será campeão", resume o recepcionista Mark Mwembo.

Não muito longe dali, no Bu­­rundi (126.º) o futebol ainda está na fase amadora. O país é pobre e consegue manter jogos regulares graças à ajuda da Fifa, que tenta desenvolver o futebol em regiões de conflitos ou com mí­­ni­­mas estruturas.

Com uma experiência anterior na Copa do Mundo de 1974, quando vivia sob a dita­­du­­ra de Mobutu Sese Seko e tinha o no­me de Zaire (perdeu para o Brasil por 3 a 0), a atual República Democrática do Congo (RDC) está em guerra, mas o TP Mazembe, clube alvinegro de Lumbumbashi, no interior do país, disputou a mais recente edição do Mundi­­al de Clubes da Fifa.

A equipe, três vezes campeã africana, perdeu seus dois jogos (2 a 1 para o Pohang Steelers e 3 a 2 para o Auckland City), mas é capaz de lotar o Stade de Martyr, na capital Kinshasa. No Congo (107.º), o futebol é uma forma de tentar reduzir o sofrimento provocado pelas frequentes guerras.

Refugiados

A dois mil quilômetros do Stade Martyr, no campo de refugiados de Goma, as crianças sobreviventes dos conflitos encontram no futebol o maior passatempo. Usando bolas improvisadas, a maioria amarrada com pedaços de corda, elas sonham jogar em um grande clube no futuro, mas já compreendem que o caminho será difícil.

Amini Fabrice, 12 anos, não conhece nomes famosos. Brinca diariamente com outros colegas de campo de refugiados. Na maior parte do tempo, estuda na escola improvisada sob uma lo­­na verde, mas, nesta época, quando as aulas terminam, faz o que mais gosta: joga futebol.

"Não temos televisão o tempo inteiro, mas, às vezes, vemos algum jogo", diz. Sobre o Brasil, co­­nhece apenas o que os mais antigos falam sobre a seleção verde-amarela. "Não conheço muita coisa", resume.

Para incentivar o crescimento de futuros craques, a Fifa desenvolve programas que ajudam na compra de bolas de futebol e de uniformes. O caminho a ser percorrido é longo, mas ainda assim representa um atalho para a paz e a vibração.

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