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“Pela receptividade que temos a cada conquista e cobrança na derrota, diria que o desempenho da nossa seleção teria maior impacto no país.” - Giba, campeão olímpico em 2004 | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
“Pela receptividade que temos a cada conquista e cobrança na derrota, diria que o desempenho da nossa seleção teria maior impacto no país.” - Giba, campeão olímpico em 2004| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Curitibano frio

Entre os brasileiros, os entrevistados de Curitiba e Belo Horizonte foram os que demonstraram maior apatia à associação entre pódios na Olimpíada e orgulho nacional, segundo a Market Analysis, empresa catarinense responsável pela coleta de dados no Brasil. Nas duas capitais, 40% dos entrevistados disseram não se importar nem um pouco com os pódios olímpicos para a construção do orgulho nacional. Curitiba soma um total de 54% de opiniões de que não há relação entre os dois fatores.

Na média nacional, 72% dos entrevistados de classe econômica A têm a mesma opinião dos curitibanos, enquanto as classes B, C e D seguem a média nacional (na casa dos 50%). Em contrapartida, as capitais nordestinas foram que mais relacionaram os dois fatos. Em Recife, por exemplo, 53% dos entrevistados afirmaram que a vitória aumenta muito o amor pelo país (contra 48% da média nacional).

A estridente vinheta "Brasiiiiiiillll" – soada sempre que o país vence no esporte – parece não ser tão cer­­teira. Ape­­sar da aparente eu­­foria com triunfos de seus atletas, metade dos brasileiros diz que o desempenho olímpico não se re­­flete no seu orgulho patriótico.

Em uma pesquisa encomendada pela rede de comunicação britânica BBC, o Brasil ficou em segundo lugar entre os que menos se im­­portam com o impacto do brilho das medalhas no amor pela terra natal. O estudo foi feito em 21 países.

Dos 806 brasileiros entrevistados em nove capitais, 50% afirmam que não há conexão entre or­­gulho da nação e o desempenho olímpico. A indiferença aos pódios só foi maior entre os alemães: 59% dos 1.003 entrevistados ignoram a relação entre medalhas e brio na­­cio­­nalista.

Nem mesmo o fato de o Rio alojar a Olimpíada de 2016 tirou o Bra­­sil do topo do ranking das nações da América Latina menos animadas com a parceria êxito esportivo e pa­­triotismo. Resul­­tado similar ocorreu no Reino Unido, que recebe a Olimpíada deste ano – 50% dos entrevistados diz não relacionar orgulho e eficiência nos Jogos.

"Essa foi a opinião do público brasileiro? Surpreende... E muito. Pela receptividade que temos a cada conquista e cobrança na derrota, diria que o desempenho da nossa seleção teria maior impacto no país", diz Giba, ouro na em Ate­­nas (2004) e prata em Pequim (2008) com o vôlei masculino.

Se por um lado o resultado da pesquisa frustra as expectativas dos atletas, acostumados a levar a bandeira nacional a cada pódio conquistado, por outro mostra um país com um perfil mais plural em relação aos fatores que lhe dão orgulho – algo comparável ao pen­­samento dos países mais de­­sen­­volvidos.

"Não é de estranhar que Alema­­nha, França, EUA e Inglaterra não deem tanto valor às medalhas em sua rotina diária, em­­bora, na hora da competição, queiram sempre o ouro. São países que desenvolveram outras atividades culturais que causam orgulho. No caso do Bra­­sil, há o fator da cultura monoesportiva. Se a pergunta fosse ‘co­­mo o desempenho na Copa do Mun­­do afeta seu orgulho nacional’, as respostas ‘afeta muito’ seriam bem mais [frequentes]", aponta a doutora em Socio­­lo­gia do Esporte da Unicamp, Heloísa Reis.

Na lista de menos entusiasmados, Brasil, Alemanha e Inglaterra têm em comum o fato de serem potências do futebol. O finalista em cinco Jogos Olím­­picos na natação, o paranaense Rogério Romero discorda da aparente apatia brasileira apontada pela pesquisa britânica. "Sinto que há uma comoção das pessoas a cada vitória, como o ‘efeito Gu­­ga’, que levou muitos a jogar tênis quando o Brasil tinha o número 1 do mundo", diz.

Quem dá mais importância aos êxitos no maior evento esportivo do mundo é o Quênia, onde nove entre dez pessoas afirmaram que o desempenho olímpico afeta o amor pelo país. Afinal, o país é in­­ter­­nacionalmente reconhecido co­­mo especialista do atletismo, o esporte nacional e modalidade ba­­se da Olimpíada.

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