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Frases

"Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola."

"A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus."

"Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio."

"Ademir da Guia tem nome, sobrenome e futebol de craque."

"Tu, em campo, parecias tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos."

"Gol de letra é injúria; gol contra é incesto; gol de bico é estupro."

"Deus castiga quem o craque fustiga."

"Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão."

"O calendário do futebol brasileiro não é gregoriano nem juliano, é cartoliano."

Biografia

Armando nasceu no dia 14 de janeiro de 1927, em Xapuri, no Acre. Mudou-se para o Rio de Janeiro com 17 anos, formou-se em Direito e começou a trabalhar como jornalista nos anos 50, no Diário Carioca. Passou pela Revista Manchete, O Cruzeiro (de 1957 a 1959) e Jornal do Brasil – onde assinou a coluna "Na Grande Área" por 12 anos. No fim dos anos 50, ao lado de Nelson Rodrigues, João Saldanha e Luiz Mendes, participou da "Grande Resenha Facit". De 1966 a 1990, trabalhou na Globo, sendo diretor de jornalismo, comandando o Jornal Nacional. Em 1992, integrou a equipe da Band na Olimpíada de Barcelona. Nos anos 2000, foi para o canal fechado SporTV. Passou ainda pelo diário Lance!.

Opinião

A literatura brasileira perdeu o mestre Armando Nogueira

Carneiro Neto, colunista da Gazeta do Povo.

Mais do que jornalista, mestre Armando elevou a crônica esportiva brasileira à condição de literatura.

Com textos exemplares, enxutos, poéticos e com palavras curtas que diziam tudo, ele enriqueceu as páginas dos jornais e das revistas onde escreveu.

Ele floresceu na mesma geração de gigantes como Thomas Mazzoni, Mário Rodrigues Filho, Nelson Rodrigues, João Saldanha, homens que fizeram história, criaram fatos e inventaram regras para o jornalismo esportivo que transcenderam o cotidiano do futebol.

Armando Nogueira, com seu estilo muito próprio, via o jogador de futebol acima de tudo como um artista: o homem se elevando à culminância da arte através do futebol. Vendo os jogos dos times e das seleções ele foi se dando conta de que os ídolos, os heróis, tinham os seus pés de barro, eram seres humanos, em cuja alma se alternavam sentimentos subalternos e nobres. Passou a levar em conta, nas suas belíssimas crônicas, o lado humano. Exaltava as virtudes artísticas de cada jogador, mas considerava e aceitava a fragilidade humana de todos eles.

A síntese do amor de mestre Armando pela magia do futebol, a meu gosto, foi escrita para celebrar a luminosa arte do filho de Domingos da Guia, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos: "Ademir da Guia: nome, sobrenome e futebol de craque".

Se o Brasil fosse um país que reconhecesse o verdadeiro talento, Armando Nogueira teria sido membro da Academia Brasileira de Letras.

Um dos criadores do Jornal Nacional, da TV Globo, Armando Nogueira morreu na manhã de ontem, aos 83 anos, em decorrência de um câncer no cérebro que o acometia desde 2007. Ele estava em casa, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio, acompanhado por enfermeiros e ainda recebeu a visita do filho, Ar­­mando Augusto, chamado às pressas pouco antes das 7 horas. "Nos últimos três anos eu passei a ser pai do meu pai. Ao longo da vida, construímos uma relação de amizade. Ele era um grande mestre."

Natural de Xapuri, no Acre, Armando foi para o Rio com 17 anos, formou-se em Direito e iniciou sua carreira de jornalista em 1950, no Diário Carioca. Depois, trabalhou nas revistas Manchete e O Cruzeiro e no Jornal do Brasil. Na década de 90, foi colunista do jornal O Estado de S.Paulo. Diretor de Jornalismo da TV Globo de 1966 a 1990, fez parte de uma geração expoente de cronistas esportivos, ao lado de Nelson Rodrigues e João Sal­­danha.

"Armando Nogueira deixou a marca de seu talento excepcional por onde passou: no jornalismo impresso, na crônica esportiva e, para nós, muito especialmente na televisão", disse João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.

Apaixonado por aviação, futebol e notadamente pelo Botafogo, Armando escreveu dez livros, todos sobre esporte. O mais conhecido, Na Grande Área reúne crônicas publicadas no Jornal do Brasil e recebeu elogios de Otto Lara Resende e Luís Fernando Veríssimo.

"Descobria-se ali que textos sobre futebol também podiam ser bonitos, criativos, líricos, cômicos e – o supremo teste de valor literário – compiláveis", definiu Veríssimo, no posfácio do livro.

Armando Nogueira cobriu 15 Copas do Mundo desde a sua estreia no Diário Carioca, em 1950, e 6 Jogos Olímpicos. Era um bom frasista e descreveu Garrin­­cha como o "anjo das pernas tortas". Foi um dos precursores dos debates esportivos na tevê e levou para a Globo, em 1966, a "Grande Resenha Facit", criada na TV Rio. Armando participava das mesas redondas com comentários muitas vezes inflamados e polêmicos, mas fazia questão de vestir terno e gravata para passar imagem de isenção e credibilidade.

Até o ano passado, Armando – que já carregava a alcunha de "mestre" entre os colegas – mantinha o fôlego para os debates esportivos no SporTV e na Rádio CBN. Foi, aos poucos, vencido pelo cansaço e pelo avanço da doença.

A Confederação Brasileira de Futebol e o Comitê Olímpico Brasileiro estabeleceram luto de três dias, e o Botafogo prestou homenagem com um minuto de silêncio antes do jogo de ontem com o Boavista, pelo Campeonato Carioca.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota de pesar. "Armando Nogueira foi um dos nomes de maior destaque da história do jornalismo brasileiro, especialmente na televisão e na crônica esportiva," diz a nota. "Tinha talento de sobra que lhe permitiu atuar em diferentes mídias, sempre com o mesmo brilho e a mesma preocupação com a qualidade do texto e da informação."

Editor do Jornal Nacional, o apresentador William Bonner ao passar no velório, também o exaltou. "Pessoalmente, foi sob sua gestão que eu surgi na Globo, em 1986, e foi pelas mãos dele que eu vim pro Rio, em 1989, onde vivo até hoje e construí minha família", disse. "Ele me ensinou a fazer telejornalismo. Foi um artista da crônica esportiva, com um texto que era, sem exageros, um diamante".

Armando recebeu a última homenagem em um Maracanã vazio, silencioso, que exibia hoje em seus telões as grandes frases daquele que era considerado um "poeta" do jornalismo esportivo. Seu corpo, velado ao lado das bandeiras do Brasil, dos estados do Rio e do Acre e do Botafogo, será sepultado hoje, às 12 horas, no Cemitério São João Batista.

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Bibliografia

Armando publicou dez livros sobre esporte.

Drama e Glória dos Bicampeões - Escrito no Chile, durante a Copa do Mundo de 1962, o livro narra de forma vibrante os principais acontecimentos de bastidores e de palco da gloriosa conquista do futebol brasileiro (Editora do Autor, 1962).

Na Grande Área - Contém 41 crônicas publicadas entre 1964 e 1966. É um livro pequeno, de 137 páginas (Bloch Editores, 1966).

Bola na Rede - É uma edição dos textos do cronista, selecionado e comentados (José Olympio Editora, 1973).

O Homem e a Bola - O livro é perpassado por textos levíssimos onde o autor parece brincar com palavras (Editora Globo, 1986).

Bola de Cristal - Com 138 páginas, o livro é um diário da Copa de 86, no México (Editora Globo, 1987).

O Vôo das Gazelas - Os deliciosos textos reunidos neste livro justificam de modo substantivo a altíssima fama que Armando conquistou com sua prosa (Civilização Brasileira, 1991).

A Copa que Ninguém Viu e a que Não Queremos Lembrar - Linha de passe entre as Copas de 54, que quase ninguém viu, e a de 50, que quase todos querem esquecer. (Companhia das Letras, 1994)

O Canto dos Meus Amores - Os textos passeiam por mo­­dali­­dades esportivas tão distintas quanto o vôlei, o automobilismo, a natação, o tênis, a corrida e, como não poderia deixar de ser, o futebol (Dunya, 1988).

A Chama que não se Apaga - Obra recheada de inúmeras crônicas sobre as Olimpíadas (Dunya, 2000).

A Ginga e o Jogo - São pequenas confissões, comentários, histórias curiosas e engraçadas (Objetiva, 2003).

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