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Treino de luta na Universidade Federal do Paraná: ameaça. | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Treino de luta na Universidade Federal do Paraná: ameaça.| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Repercussão

Greve de fome marca reação de atletas

Os defensores da luta olímpica estão recorrendo aos mais variados métodos para pressionar o Comitê Olímpico Internacional a não retirar o esporte dos Jogos de 2020.

O técnico da equipe de luta da Bulgária, Armen Nazaryan, 38 anos, anunciou na última semana que realizaria uma greve de fome como forma de protesto.

O ex-atleta, bicampeão olímpico no estilo greco-romano, afirmou que sua manifestação será realizada até o dia 22, quando inicia o Campeonato Europeu da modalidade, na Geórgia. "A luta sempre foi parte do programa olímpico e não é justo excluí-la dos Jogos. Vou começar uma greve de fome e, a partir de agora, só beberei xarope", garantiu Nazaryan.

Teve quem preferiu se manifestar diretamente ao COI. O búlgaro Valentin Yordanov (ouro em Atlanta-1996), o russo Sagid Murtazaliev (ouro em Sydney-2000) e o polonês Andrzej Supron (prata em Moscou-1980) devolveram suas medalhas a entidade como sinal de reprovação à indicação.

Pela internet, dirigentes internacionais, atletas e fãs do esporte passaram a compartilhar, via Twitter, a hashtag #SaveOlympicWrestling. Alguns atletas do UFC aderiram à campanha mundial. Astros como o americano Jon Jones, e os brasileiros Thiago Alves e Lyoto Machida publicaram a frase em suas páginas pessoais, uma vez que a luta olímpica é uma das bases para o MMA.

Na última quinta-feira, o presidente interino da Federação Internacional de Lutas Asso­­ciadas (Fila), Nenad Lalovic, se reuniu com o presidente do COI, Jacques Rogge, e garantiu que o esporte vai trabalhar para recuperar o seu status. Para a entidade olímpica, foi um "encontro positivo", porém sem nenhuma decisão concreta.

Competição

22 atletas paranaenses foram a Osasco-SP neste final de semana para disputar o Brasileiro Sênior de Luta Olímpica. A competição, realizada desde sexta-feira, vale pontos para o ranking nacional e para a qualificação para o programa "Bolsa Atleta", do governo federal. O Pan-Americano e Sul-Americano de Lutas também serão realizados neste ano.

Brasil

O retrospecto brasileiro na luta nos Jogos Olímpicos não é muito expressivo. Ao todo, foram seis atuações na disputa, sem medalhas, desde Seoul, em 1988. Na penúltima edição, em Pequim-2008, foi a vez de Rosângela Conceição. Em Londres, no ano passado, apenas Joice Silva se classificou, no estilo livre, sendo eliminada logo no primeiro combate.

Presente nos Jogos Olímpicos desde a Antiguidade, a luta corre o risco de ficar fora do maior evento esportivo em 2020, com sede a definir – Istambul (Turquia), Madri (Espanha) e Tóquio (Japão) pleiteiam a vaga. Risco que faz a pequena comunidade de atletas brasileiros tombar no tatame.

O anúncio foi feito pelo Comitê Olímpico In­­ter­­nacional (COI), há um mês, e pegou os poucos adeptos da modalidade no país desprevenidos. Teme-se pelo aborto de um processo de evolução do esporte – com a perda de competidores para o MMA (Mixed Martial Arts) e a saída de patrocínios. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, apoia a atividade.

VÍDEO: Atletas explicam a luta

"Com a repercussão dos Jogos no Rio, em 2016, os investimentos aumentaram, e temos um grupo de acesso se formando que tem chances de medalha. Aos poucos, os resultados estão começando a surgir. Com isso, nossa expectativa era de disputar chances reais de pódios em 2020. Esse anúncio foi um balde de água fria para nós", garante Sérgio Roberto Oliveira, presidente da Federação Paranaense de Lutas Associadas (Fepala). Estima-se hoje entre 1,5 mil e 2 mil praticantes no país.

Em 117 anos de Jogos Modernos, o wrestling – nome em inglês adotado no evento – esteve fora em apenas uma edição, em 1900, voltando quatro anos depois. "A história da Olímpiada está atrelada à história da luta. Existe uma mobilização mundial para que a gente convença o COI disso", conta o dirigente, que atribui a indicação do Comitê à falta de articulação política da Federação Internacional de Lutas Associadas (Fila).

"As federações das outras modalidades [canoagem, taekwondo, pentatlo moderno e hóquei sobre grama] amarraram a permanência com o COI, enquanto que a Fila achou que pela história, isso não aconteceria conosco", emenda Oliveira.

Para o veterano Marcelo Zulu, 13 vezes campeão brasileiro no estilo greco-romano, o que incomoda é a falta de argumentos para a exclusão. "Eu não vejo motivo nenhum para fazerem esse corte. A audiência da luta é ótima. O número de praticante é absurdamente alto. É um esporte democrático, que distribuiu medalhas para muitos países. Não tem o porquê", diz.

O curitibano Diogo Sasso, 21 anos, sobe no tatame há cinco anos. Ele experimentou as melhorias que o esporte conquistou no Brasil. "Nós conseguimos apoio financeiro, e realizamos intercâmbio de atletas e treinadores da Rússia, da Bulgária, dos EUA, que são grandes centros de desenvolvimento".

Diogo garante que não poder ter a chance de competir em 2020 é frustrante. "O sonho de qualquer atleta é ir para uma Olimpíada. De repente falarem que não vai dar pra ir, de uma hora para outra, é triste".

Apesar de ser apenas uma indicação, a esperança de que o esporte permaneça no programa existe. "Eu acredito que a luta vai ficar nos Jogos. Ainda mais com a mobilização que está sendo feita. E caso não seja cortado, vai ser algo bom, pois divulgou e uniu mais o esporte", afirma Zulu.

A decisão será baseada em alguns critérios do COI (popularidade, capacidade de venda de ingressos, audiência, número de casos e controle de doping e número de países participantes), e será anunciada em setembro, na Argentina, junto com a divulgação do local dos Jogos.

Será analisada também a inclusão de uma das sete modalidades (caratê, squash, patinação artística, escalada, wakeboard, kung fu ou beisebol/softbol) que buscam fechar a lista de 26 esportes participantes em 2020.

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Esportes | 2:02

Uma dos esportes mais tradicionais do mundo, a luta está presente nas Olimpíadas desde a Antiguidade, e corre o risco de sair da competição em 2020. A modalidade ganha cada vez mais espaço no Brasil, e vê na exclusão um freio ao progresso nacional.

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