• Carregando...

Noite de sexta-feira (22), aeroporto de Congonhas, São Paulo. O atraso de quase cinco horas no voo – duas delas dentro do avião, parado na pista – permite ler e reler a revista da companhia aérea. A reportagem "Dá-lhe Córdoba", sobre a segunda maior cidade argentina, exalta pontos turísticos e afirma que "os cordobeses são bem humorados, expansivos e adoram uma piada".

Flashback para a manhã da mesma sexta, no auditório de um hotel luxuoso na capital paulista. Durante uma hora, um cordobês meio carrancudo expõe suas ideias para dezenas de repórteres. Gesticula pouco, sorri menos ainda e não conta nenhuma piada.

A primeira impressão sobre Rubén Magnano contraria o estereótipo de seus conterrâneos. Desse jeito, com uma capa de sobriedade, ele foi apresentado como novo técnico da seleção masculina, substituindo o não menos sisudo Moncho Monsalve.

"Teremos regras que precisam ser respeitadas", anunciou, antecipando medidas que fizeram sua fama de durão na Argentina, como proibir o uso de telefone celular na concentração, exigir normas de vestuário e vetar a presença de jornalistas no ônibus da equipe.

A diferença é que, para desmontar a primeira impressão, Moncho gastou algumas semanas de convívio com a imprensa. Magnano só precisou de poucas horas.

Quando deixou o hotel e chegou à sede da Rede Globo, onde participaria do programa "Arena SporTV", o argentino já era outra pessoa. Antes mesmo de entrar no estúdio, abriu o sorriso, brincou com o próprio sotaque, falou de futebol e, relaxado, mostrou que já se sente em casa.

Com um bigode ralo e o cabelo levemente grisalho penteado para trás, Magnano parece à vontade com o novo figurino, que segue o estilo do antecessor espanhol: camisa polo da CBB abotoada até em cima e enfiada para dentro da calça bege. Só diverge do estilo de Moncho porque usa o relógio no pulso esquerdo e dispensa as meias para acompanhar o par de tênis brancos.

Ao contrário da apresentação oficial, o argentino não economizou nas risadas durante o programa. No ar, chegou a zombar de si mesmo ao lembrar o passado de "jogador muito fraco". Nos intervalos, manteve o bom humor, falou de futebol e se revelou torcedor do Clube Atlético Belgrano, de Córdoba, que hoje amarga a segunda divisão na Argentina.

"Mas tenho uma simpatia pelo Boca Juniors, até porque já treinei o time de basquete lá".

Campeão olímpico e vice mundial, Magnano volta ao seu país na segunda-feira e embarca no dia 5 para os Estados Unidos, onde fica por mais de duas semanas para conversar com Leandrinho, Varejão e – principalmente – Nenê, que não joga pela seleção há quase três anos.

"A primeira coisa que eu perguntei foi: por que Nenê não jogou pela seleção nos últimos anos? Um Nenê comprometido seria muito importante. Minha tarefa como técnico é lhe mostrar essa importância não só para ele, mas para toda a estrutura do basquete brasileiro", disse no "Arena SporTV".

Em março, Magnano desembarca de vez em São Paulo, provavelmente já ocupando um apartamento nos Jardins, perto dos clubes Pinheiros e Paulistano. É ali que vai receber aulas de português.

"Quando eu voltar em março, precisarei de uma professora", avisou.

Tanto no "Arena" como na entrevista coletiva, o técnico ouviu a provocação: professora? Não pode ser um professor? A resposta veio fora do ar, com um sorriso no rosto, deixando claro que, dentro de casa, quem veste a capa da disciplina é a esposa. "Ela vem comigo para o Brasil, então não pode ser uma professora. É professor mesmo..."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]