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Felipe Massa, concentrado em Interlagos, para o GP Brasil de Fórmula 1 | Mauricio Lima/AFP
Felipe Massa, concentrado em Interlagos, para o GP Brasil de Fórmula 1| Foto: Mauricio Lima/AFP

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Do primeiro contato com os carros, nos boxes de Interlagos, à sigilosa assinatura de contrato com a Ferrari. Do título na Fórmula Chevrolet aos tempos de "faca no pescoço" na Europa. Ricardo Tedeschi esteve presente em todos os momentos importantes do desenvolvimento de Felipe Massa como piloto.

Amigo da família, preparador dos carros que Titônio Massa usava para correr, Tedeschi deu a primeira oportunidade a Felipe no automobilismo. O teste inicial e o primeiro ano de monoposto impressionaram tanto que o empresário não teve dúvida: vendeu sua equipe de Fórmula Chevrolet e foi para a Europa cuidar da carreira do promissor piloto.

Daquele tempo, restou apenas o carro campeão da categoria de base, em 1999. Totalmente restaurado, o bólido será dado de presente a Felipe caso o brasileiro reverta a diferença de sete pontos para Lewis Hamilton, neste domingo (2), em Interlagos.

Tedeschi atualmente funciona mais como conselheiro do piloto, um amigo da família. A relação profissional teve de ser encerrada em 2002, quando Massa assinou contrato com a Ferrari e passou a ter sua carreira gerenciada por Nicolas Todt, filho de Jean Todt, diretor esportivo da escuderia italiana.

E foi na condição de conselheiro de Felipe que Tedeschi conversou com a Gazeta do Povo, na manhã deste sábado (1), em frente ao hospitality centre da Ferrari, nos boxes de Interlagos.

Confiante, disse que Massa será campeão mundial: se não neste domingo, em breve. Relembrou o início da parceria, o aprendizado na Europa e também mandou um recado para os curitibanos: estará na capital paranaense no próximo dia 11, para uma palestra promovida pelo departamento de engenharia da Universidade Tuiuti do Paraná. Ótima chance de manter contato com o homem que descobriu o possível campeão mundial da Fórmula 1 em 2008.

Você e o Felipe visualizavam uma situação como essa: ele correndo no Brasil, na última prova da temporada, com chance de ser campeão mundial?

Tedeschi - Correndo no Brasil eu acho que não, mas a meta final sempre foi essa. O objetivo final era que ele fosse campeão do mundo, como vai ser. Se não for nesse fim de semana, vai ser em outra circunstância. Mas ele será. Ele está pronto para isso.

Quais características do Felipe te dão essa certeza?

Tedeschi - Ele está muito maduro, consistente. Tanto do ponto de vista técnico como do que eu chamo de gestão. O piloto precisa gerenciar uma série de questões dentro do fim de semana de corrida, tanto de tecnologia, comunicação com os engenheiros, entender o que precisa ser feito no carro, curva por curva. E também do ponto de vista de gestão fora do carro. Como se posicionar perante a mídia, os concorrentes, enfim, perante todo o universo da Fórmula 1.

Ele tem mostrado muita consciência de que o que é possível fazer é vencer a prova e contar com o Raikkonen em segundo, e o resto foge ao controle dele. Essa consciência da situação do campeonato pode ser fundamental para que ele saia daqui com o título?

Tedeschi - Sem dúvida. O objetivo tem que ser esse mesmo, pois as circunstâncias levaram a que ele dependa não só do próprio resultado, mas também de outros. O que ele precisa é controlar para fazer o máximo de resultado possível. O resto é incontrolável, nem tem que pensar nisso.

Como começou a parceria entre você e o Massa?

Tedeschi - Eu conheço o Felipe desde que ele tem quatro anos. Ele é filho de um amigo meu, que é o Titônio, e sempre freqüentou os boxes desde pequeno, para acompanhar as corridas do pai. Depois ele começou a correr de kart... Então ele estava sempre por ali nos boxes. Foi natural. Quando fez 16, 17 anos, começou a freqüentar o box da minha equipe de Fórmula Chevrolet e eu falei: "Vou te dar um teste. Senta aí, vamos ver como é que é". E já no primeiro teste ele impressionou muito, não só a mim como a outros. E isso me fez voltar a administrar a carreira de pilotos. Eu tinha feito todo o início da carreira do Rubinho. Comecei com ele em 89, estivemos juntos e nos primeiros passos dele na Europa, até o primeiro ano de Jordan. E por circunstâncias eu decidi parar. E o Felipe me fez voltar a essa área para desenvolver a carreira dele. E foi assim... Ele ganhou o título de 99, aí fomos para a Europa, Fórmula Renault, 3.000.

O começo dele na Europa foi complicado. Ele foi com a faca no pescoço, tendo que mostrar serviço a cada corrida.

Tedeschi - Sem dúvida. E essa questão da faca no pescoço é uma das coisas que fez ele se desenvolver de uma maneira profissional. Para ele, aquela corrida era sempre a última. Então, o desempenho era uma coisa fundamental, tinha que mostrar serviço sempre. Na época foi muito difícil, mas isso ajudou.

Como foi o fim de parceria?

Tedeschi - Foi natural. Era uma questão de lógica, para que a coisa tivesse seqüência de uma maneira ótima. Tinha que ser feito e foi feito.

Você segue como uma espécie de conselheiro dele?

Tedeschi - Sim. Amigo, conselheiro... Não sei como colocar isso. É bacana. Tenho bastante orgulho de vê-lo em circunstâncias das mais diversas possíveis... (pára para ver Felipe Massa entrar no paddock, sob aplausos e gritos de incentivo dos torcedores).

E qual a emoção de vê-lo entrar assim no autódromo, com todo mundo apoiando, passando energia para ele ganhar o título? Mostra que valeu a pena todo o trabalho?

Tedeschi - Sem dúvida, sem dúvida (voz levemente embargada). Eu acho que é uma coisa muito legal, um sentimento muito bacana. Assisti a algo muito parecido com o Rubinho. Mesmo quando ele foi vice-campeão do mundo pela primeira vez, depois mais uma vez. Aqui no Brasil não se dá muito valor para o segundo. Mas, pôxa, ser segundo na Fórmula 1 é uma coisa grandiosa. O Rubinho fez um grande trabalho, foi vice-campeão em uma situação, entre aspas, bastante adversa. Tinha o Schumacher lá, e era uma coisa muito difícil de contornar. Mas ele sempre foi um cara muito técnico, muito acertador de carro. Muito mais sensível que todo mundo, que o Schumacher até. O Schumacher talvez até tenha a capacidade maior de gerenciar essa informação e transformar em alguma coisa positiva para o carro. Mas eu sempre considerei o Rubinho um cara muito técnico, muito profissional. Não é à toa que a longevidade maior da Fórmula 1 seja dele.

Se o Felipe for campeão, ele leva como prêmio o primeiro carro na Fórmula Chevrolet?

Tedeschi - É isso. Quando a gente decidiu que ia vender a equipe, que ele iria para a Europa, eu me desfiz de tudo para me focar mais nele. Até porque a F-Chevrolet estava entrando em um ciclo de decadência. Foi uma categoria que funcionou muito bem no Brasil durante mais de dez anos, mas estava no fim do ciclo. Eu me desfiz de todos os equipamentos para me focar mais no Felipe, mas mantive o carro que tinha sido campeão. Ao longo desses anos a gente foi restaurando o carro e hoje ele está pronto. E enquanto estava restaurando o carro, eu brincava com ele: "Quando você for campeão do mundo, ganha o carro". Agora está na hora.

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