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Idioma, choque cultural, temperamento difícil, um retrospecto questionável. As variáveis da equação Atlético – Lothar Matthäus tendem para um resultado negativo. A avaliação é do comentarista da ESPN Brasil Gerd Wenzel, especialista no futebol alemão. Ele acompanha a Bundesliga desde 91 e conhece muito dos bastidores e da história da modalidade no país.

Com essa autoridade, ele se rende ao Matthäus capitão e campeão do mundo pela seleção da Alemanha e olha ressabiado para o quarentão de terno e gravata que se posta ao lado do campo.

Nessa entrevista à Gazeta do Povo, ele analisa o perfil do treinador, justifica a sua desconfiança técnica no novo comandante e confessa torcer pela aposta rubro-negra.

Qual a sua avaliação sobre Lothar Matthäus como treinador?

Ele iniciou sua carreira como técnico há apenas 5 anos. No Rapid Viena (da Áustria) ele não foi muito bem-sucedido e saiu desgastado com a diretoria e os jogadores. No Partizan Belgrado (da Sérvia e Montenegro) até teve uma passagem relativamente boa, sendo campeão e levando o time à fase final da Copa dos Campeões. Na seleção da Hungria comandou 26 partidas, ganhou 13 e perdeu 13. Isso posto, conclui-se que a carreira é incipiente, não está bem firmada e ele ainda tem de mostrar muito serviço.

Quais as chances de ele dar certo na Baixada?

Há muito mais dificuldades do que facilidades. Primeiro, ele não fala a língua. É muito complicado um treinador se comunicar dependendo de intérprete. Imagina ele à beira de campo precisando fazer uma alteração tática e tendo problemas de tradução. O Furacão vai pro brejo. Se não for bem assessorado, pode ter muitos problemas. E não dá para esquecer também que ele nunca morou na América Latina, o choque cultural é muito grande.

O que mais pode pesar nesse aspecto?

Ele não conhece bem a cultura. Apesar de ser viajado, ter morado fora da Alemanha, ele vem do interior da Baviera, uma região de costumes muito rígidos, e agora terá o contato com a flexibilidade e a improvisação do Brasil.

Com os atletas seria mais complicado lidar com a indisciplina ou com a parte tática?

Com os dois. Lá na Alemanha, quando acontece um atraso ou algo desse tipo, é multa, e multa pesada. Não tem cartola que defenda jogador indisciplinado. Outra coisa que pode atrapalhar é que no futebol alemão se privilegia o conjunto em detrimento da individualidade. A forma de atuação dos jogadodres brasileiros ele só conhece pela televisão e, portanto, como irá adaptar o rígido 4–4–2 à mobilidade e criatividade dos brasileiros só o tempo dirá.

Por que um ídolo como ele nunca foi prestigiado por times alemães?

Como jogador tem de se tirar o chapéu. Mas como pessoa teve problemas por onde passou. A imprensa alemã é muito crítica com ele por causa do temperamento intempestivo e de um histórico de maus relacionamentos. Ele se desentendeu com o Franz Beckenbauer, apesar de dizerem que está tudo bem. Para se ter uma idéia, uma vez o Nuremberg – que é de onde ele nasceu – estava sem técnico e com muitas dificuldades. Ele se ofereceu para assumir o clube e a torcida fez uma manifestação pública para não tê-lo lá. Chegaram a ameaçar devolver as carteirinhas de sócio se ele fosse contratado.Sobrou algo bom?

Ele foi um líder em campo, como jogador tem bagagem invejável e se conseguir transpor essa experiência para a carreira de treinador pode ter sucesso. A vinda dele é a grande oportunidade para se consolidar como técnico e ele vai tentar aproveitar muito bem essa chance. Vamos ter paciência esperar e torcer. Além disso, foi uma jogada de marketing e tanto para o clube e para o Matthäus.

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