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Qual é o preço do doping no Brasil? Entre o custo para manter um laboratório especializado e o valor real de cada exame, as dificuldades de enfrentar o vilão que tomou conta das manchetes esportivas em 2009 são inúmeras. A dois dias da reunião de representantes da Agência Mundial Antidoping (Wada) com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que definirá o futuro do Ladetec, a reportagem investiga a importância do único instituto de análise dessa categoria presente no país para a manutenção da legalidade do esporte nacional e para a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

De acordo com o Dr. Eduardo De Rose, o Ladetec precisa de melhorias em estrutura física e condições de trabalho para os funcionários. No entanto, o médico, que faz parte da comissão da Wada, acredita que seria melhor aplicar um investimento no local disponibilizado para o instituto no Fundão, zona norte do Rio de Janeiro, do que construir um novo laboratório.

"O Ladetec está credenciado e em funcionamento, mas, certamente, apresenta vários problemas, principalmente no que se refere ao "Custo Brasil". Dificuldades em receber padrões, reagentes e urinas de controle estão entre as maiores, bem como recursos econômicos para se construir um prédio novo e adquirir alguns equipamentos para novas tecnologias. Mas tudo isto sairá muito mais barato do que estabelecer outro laboratório", disse Dr. De Rose.

O "Custo Brasil" mencionado pelo médico é referente à dificuldade burocrática da prática no laboratório. No entanto, os valores cobrados para a realização de exames antidoping no país também são bastante elevados. Com base em números de mercado, De Rose cita que um teste antidoping custa cerca de R$ 530, sem a análise de EPO (eritropoietina). Com a substância, sobe para R$ 1.530. Já no Canadá, o exame custa R$ 273 e R$ 547 com EPO.

"Bogotá e Santiago de Cuba são ainda mais baratos que o Canadá, custam entre R$ 171 e R$ 350. Eu diria que alguém tem que pagar o custo total dos controles. Certamente, a diferença pode ser o preço dos equipamentos e reagentes no Brasil e a subvenção dos laboratórios mencionados, o que não ocorre no Ladetec", concluiu De Rose.

Sem laboratório credenciado, Brasil não poderá receber Copa e Olimpíadas

No início de novembro, representantes da Wada fizeram uma auditoria no Ladetec. O resultado da inspeção será discutido com o COB nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro. Caso as condições do laboratório não tenham agradado os fiscais, o local pode ser descredenciado pela Agência Mundial, o que deixaria o Brasil sem nenhum instituto de análise de doping em território nacional, condição que impediria a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no país. A situação preocupa o coordenador do Ladetec, Dr. Francisco Radler.

"Há o agravante de que se o país não tiver laboratório acreditado não poderá realizar grandes eventos, desde campeonatos mundiais até a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. E isso não é algo que se obtém por decreto, nem mesmo da noite para o dia. Portanto, parece que o foco não deveria ser o preço de análises, mas o interesse estratégico do país em ter um laboratório acreditado", afirmou o Dr. Radler.

Ladetec mantém preço dos exames congelado há cinco anos

Uma das maiores autoridades em análises laboratoriais do país, o médico justifica o valor mais alto dos exames no Ladetec devido à necessidade da instituição ter aumentado o número de funcionários para cobrir a demanda maior e precisar se manter com apoio apenas parcial do governo. Segundo ele, o número de análises cresceu de 3 mil para 4,5 mil em cinco anos e o preço se manteve congelado. Por outro lado, a quantidade de procedimentos de análise e o custo operacional dobraram.

"Sei que há casos de laboratórios integralmente mantidos pelo governo e, portanto, que nem precisariam cobrar pelas análises. No nosso caso, funcionamos como uma empresa, pois não temos orçamento público para manutenção. Se o Brasil entende que é mais barato fazer os exames lá fora porque o governo estrangeiro banca integralmente as análises, estaremos fazendo o que os economistas mais esclarecidos condenam. Isto é, estaremos deixando de lado o domínio tecnológico e criando uma dependência que em algum momento será cobrada de nós", disse o médico.

Sobre o preço maior pela análise da substância EPO, Dr. Radler foi ainda mais enfático.

"No caso da EPO é pior, pois temos de manter um laboratório, equipamentos, um chefe e um técnico bem treinados para não analisar, pois o número de amostras solicitadas é quase zero. Como vai ser diluído o custo de manutenção dessa capacidade analítica sem amostras? Quem banca isso? Esse aspecto essencial da atividade econômica que é a redução de preços quando se aumenta a escala de produção não está presente no controle de dopagem", explicou.

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