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| Foto: Sossella

Aloar Ribeiro, 75 anos, sentado na poltrona de seu apartamento, fala com a reportagem da Gazeta do Povo. Mais parece estar de volta aos 17 anos, caminhando a passos largos por uma Atílio Bório ainda feita de antipó, em direção ao Durival Britto, tamanha quantidade de detalhes que lembra de uma época que marcou a sua vida para sempre.

Em 1950, duas partidas da Copa do Mundo foram realizadas em uma Curitiba muito diferente de agora. A antiga, ainda comportava o tráfego de carros, bondes e os animais no mesmo espaço, sem que nenhum chegasse a ser incômodo para o outro. No meio deles, a grande maioria das pessoas ainda utilizava as bicicletas como meio de transporte.

Mas o garoto – que nessa trajetória de nostalgia só é interrompido por algumas freadas de carros e buzinas ensurdecedoras da característica Avenida Visconde de Guarapuava da capital moderna, que lhe sobressaltam e o fazem voltar ao presente –, mesmo estando a alguns quilômetros de distância, consegue enxergar o estádio onde logo deverá entrar para história. Vem narrando uma partida imaginária, sem fazer idéia de que, anos depois, isso viraria a sua profissão para o resto da vida.

Mas no trajeto da época, o "Gordo", como Aloar era conhecido quando moleque, ainda não via os jogadores, mas uma boiada sendo conduzida por um boiadeiro a cavalo para o matadouro Municipal. Era o sinal de que logo estaria no estádio para assistir à primeira partida de Copa do Mundo realizada na capital paranaense.

Do jogo entre Espanha e Estados Unidos (25/6), que acabou 3 a 1 para os europeus, Aloar lembra até de onde assistiu. Entre duas estátuas de bronze, próximo da tribuna de honra da Vila Capanema. As estátuas não existem mais, assim como a concha acústica onde foi executado o Hino Ncional – o da Espanha e Estados Unidos foram omitidos, por falta das tablaturas.

A Copa, embora não tenha mobilizado a cidade, levou mais de 9 mil ao Durival Britto na primeira partida, num domingo, e cerca de 8 mil pessoas para o empate por 2 a 2 entre Suécia e Paraguai, numa quarta-feira (28/06), com direito a ponto facultativo. Trocavam o cinema – em Curitiba estava em cartaz Joana D’Arc e Jesus de Nazaré – pelo futebol, já que o preço do ingresso era basicamente o mesmo: quarenta cruzeiros.

Jogos aparentemente fracos que o próprio mundial tratou de desmentir. Afinal, Espanha e Suécia só acabaram despachadas na fase final, respectivamente por Brasil e Uruguai. Aloar não esconde que depois de assistir a essas partidas resolveu de vez virar cronista esportivo – ele trabalhou na Gazeta do Povo por 42 anos. E nem lembra mais, nesse tempo todo, por quantas vezes relembrou as escalações das quatro seleções que viu jogar – agora mesmo ele as tem na ponta da língua.

O Paraguai, aliás, por pouco não mudou a história da Copa. Saiu perdendo por 2 a 0, buscou o empate e injustamente não conseguiu a virada e a posterior classificação.

"Me orgulho disso, pois assisti a muitos jogos excelentes", diz Aloar, hoje aposentado, dedicando-se integralmente a escrever um livro de memórias.

Entre elas, certamente estará a da tarde do dia do dia 1.° de julho. Enquanto o Brasil fechava a sua participação na primeira fase com uma vitória por 2 a 0 sobre a Iugoslávia (1/7), com gols de Ademir e Zizinho, no Maracanã, Aloar assistia a uma partida do Campeonato Paranaense entre Ferroviário e Britânia, na Vila Capanema. Um jogo que acabou com extraordinários 11 a 0 para o time da casa. Enquanto o goleiro Pianowski, do Ferroviário, assistia à lavada, ia perguntando para o "Gordo" o andamento da partida da seleção.

"Não havia quase ninguém no estádio e o roupeiro havia instalado um rádio, daqueles grandes de madeira, para ouvirmos o Brasil pela Rádio Nacional", lembra.

No dia 16 de julho, às 15 horas, enquanto o Brasil disputava o título contra o Uruguai, Jacarezinho e Coritiba jogavam em Jacarezinho – 2 x 3. Mas Aloar ficou em casa, ouvindo e chorando o Maracanazzo mais ou menos como os 200 mil torcedores que estavam no Maracanã. A lembrança faz ele retornar ao tempo presente. Mira logo o futuro, e espera que, em 2014, tudo seja diferente.

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