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O técnico Larri Passos na arquibancada do  Graciosa Country Club, em Curitiba: um otimista do tênis brasileiro | Arquivo/ Gazeta do Povo
O técnico Larri Passos na arquibancada do Graciosa Country Club, em Curitiba: um otimista do tênis brasileiro| Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo

Larri Passos interrompe a sessão de treinamentos, deixa a ordem para Tiago Fernandes e Marcos Daniel seguirem a programação e caminha a passos lentos. Raquetes em uma mão e diversas bolinhas amarelas na outra. Um boné para se proteger do forte calor do veranico curitibano. Aceita o pedido para uma entrevista, mas antes quer saber para qual veículo irá falar. O assunto que levou a reportagem da Gazeta do Povo na segunda-feira ao Graciosa Country Club – onde hoje, às 14 horas, ocorre a final do Brasil Open Series (challenger da Associação dos Tenistas Profissionais) – surge logo na primeira pergunta: Tiago Fernandes, o alagoano de 17 anos treinado por Larri, campeão em janeiro do Aberto da Austrália juvenil.

O treinador para e pensa por um instante antes de começar a falar. Acredita no potencial do garoto, mas evita qualquer comparação com Gustavo Kuerten, principal nome do tênis masculino brasileiro, que também começou por suas mãos. Diz mais. Dá sua opinião sobre a Confede­­ração Brasileira de Tênis (CBT), analisa o potencial de Thomaz Bellucci, o melhor bra­­sileiro no ranking da ATP...Acompanhe os principais trechos da entrevista: Novamente você está ligado a um campeão de tênis. Como tem sido o desenvolvimento do trabalho com o Tiago Fernandes, que já culminou na conquista do Aberto da Austrália juvenil, em janeiro?

É um trabalho iniciado logo após o Guga se despedir (em 2008). Eu não estava mais trabalhando com juvenis, tinha meu projeto social, mas o Guga me pediu, me incentivou muito a voltar a trabalhar com juvenis. Ele dizia: ‘Larri, você é muito importante para o tênis brasileiro’. Aí o manager dele (Tiago) me pediu para ajudá-lo. Na sequência, veio para a academia (em Balneário Camboriú, Santa Catarina). Mas não tem só ele. São 23, 24 meninos trabalhando comigo, e o Tiago é apenas um deles. Tem também o Thiago Monteiro, de 16 anos, que está subindo muito bem.

O resultado dele em um dos quatro mais importantes torneios do circuito (Grand Slam) indica que por suas mãos, coincidentemente, teremos o substituto do Gustavo Kuerten?

O juvenil hoje fortalece a parte mental, para ele poder dizer: ‘pô, eu sou um campeão’. Isso ajuda muito. Ganhar um torneio é muito importante. O Guga foi campeão de duplas em Roland Garros. Mas a transição é muito complicada, você tem de ir vencendo etapas. Essas etapas têm de ser exatas, não posso dar um pulo muito rápido. Tem de ficar segurando, trabalhando devagar. A partir dos 20 anos, quando ele entrar na fase adulta, ganhar corpo, aí sim se começa a pensar que com 24 pode atingir a maturidade.

Como é a sua relação com o Guga depois da aposentadoria dele?

É uma relação legal. Estamos em contato praticamente toda a semana. De vez em quando ele vai na academia bater bola, para suar, manter a forma.

Logo que o Guga apareceu no cenário internacional, com o primeiro título em Roland Garros, em 97, estourou o "boom" do tênis no país, com as crianças procurando os clubes e as academias para praticar o esporte. E agora, há uma movimentação significativa depois do sucesso do Tiago na Austrália?

Mexeu em tudo, clubes, academias... O pessoal vem falar comigo para dizer: ‘Larri, de novo você sacudiu o tênis nacional’. Há mais crianças agora jogando tênis. Essa virada foi muito importante para motivá-las.

Naquela época, porém, a popularidade do tênis foi efêmera. O que fazer de diferente para apro­­veitar a onda Tiago Fer­­nandes?

Hoje a mentalidade é diferente, há uma certa confiabilidade dos patrocinadores na confederação. Antes existia uma desconfiança muito grande, hoje vejo as pessoas mais unidas. Espero que se surgir um novo jogador top 10, que a gente aproveite mesmo. Tem de ter seriedade e transparência. Não podemos cometer o mesmo erro duas vezes.

Fazer o Brasil voltar a ter mais importância no cenário internacional passa necessariamente pela revelação de atletas. Qual o caminho a ser seguido?

Os clubes são as células do tênis. O trabalho de escolinha tem de ser dentro dos clubes.

Há um modelo a seguir? Fala-se muito do sucesso argentino, com várias quadras espalhadas pelo país.

É o que estou tentando fazer, procurar um modelo. A escola brasileira seria baseada em um estilo agressivo, no estilo do Guga. Acredito nessa escola. Não dá para comparar o brasileiro com o argentino. O brasileiro é um pouco mais criativo, o argentino é mais na raça. Temos de aproveitar a escola argentina, espanhola pa­­ra, daqui a uns cinco, seis anos, criar a nossa própria escola.

Você falou da Confederação Brasi­­leira de Tênis (CBT). Qual a sua opinião a respeito da entidade?

Agora (a confederação) está começando a abrir os olhos, apoiar as categorias de base, com a ajuda (patrocínio) dos Correios. Acho que está sendo implantada uma semente muito boa. Estou sempre em contato, colaborando com ideias. Acredito que estão no caminho certo. Tem de ajudar um pouquinho mais, mas como nunca tivemos nada, agora o que está vindo está de bom gosto.

Muita gente não sabe, mas nós temos um tenista entre os 40 me­­lhores do mundo – o Thomaz Bellucci, na 33.ª posição do ran­­king da Asso­­cia­­ção dos Tenistas Profissionais (ATP). Qual a sua avaliação sobre o Bellucci e até onde ele pode chegar?

É um jogador agressivo, com muito potencial. Um cara que saca bem, tem uma mentalidade vencedora, que não fica com ansiedade de soltar o braço quando entra na quadra, e isso tu­­do é muito importante. O circuito vai fazer ele crescer ainda mais. Pre­­cisa lapidar algumas coisas, mas tem grandes possibilidades de chegar ao top 10.

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