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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

“Vou recolocar o vôlei curitibano na Superliga”, vaticinou Gisele Miró. A ex-tenista, cujo primeiro amor esportivo foi o vôlei (mas não tinha altura suficiente), nunca tinha trabalhado com o esporte quando fez a promessa, na arquibancada de uma partida de vôlei de praia da vice-campeã olímpica Ágatha, em Curitiba, em novembro de 2016.

Ao ouvir do presidente da federação, Neuri Barbieri, que o estado perderia a única vaga na Superliga B, com a desistência de Cascavel por falta de patrocínios, ela resolveu correr atrás para montar um elenco do zero em 15 dias.

Dois anos depois, já com seu terceiro time montado, a paranaense que marcou época na quadra menor, com duas medalhas no Pan-Americano de Indianápolis, em 1987, não esconde a empolgação e ansiedade a apenas dois meses da estreia na Superliga Feminina 2018/19.

À frente do Curitiba Vôlei, uma ramificação da primeira tentativa, no Clube Curitibano, vice-campeão da Superliga B 2016/17, e um descendente direto do Curitiba Carob House/CMP, que conquistou o acesso na última edição do campeonato, Gisele sonha que a capital paranaense resgate a paixão pelo voleibol.

Clesio Prado, técnico, ouve a assistente Tatiana Ribas durante treino.Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Entre 1997 e 2004, o Rexona comandado por Bernardinho deu à cidade dois títulos da Superliga. Mais do que isso, também fomentou o esporte com projetos sociais e atraía média de público de quase 4 mil pessoas por jogo no Ginásio do Tarumã. “A volta foi até que rápida”, comenta Gisele. “O primeiro time chegou à final e o segundo foi campeão. Agora eu conto com Curitiba para apoiar esse projeto. A ideia é no longo prazo”, traça.

Como era de se esperar, a ordem é de pés no chão neste início. Nada de promessa de vitórias – uma vaga nos playoffs já seria como um título. Até porque o nível de investimentos é outro, na ordem de 1 para 10, comparado com a divisão de acesso. E a competição é muito mais ferrenha. Assim, em curto prazo, o Curitiba Vôlei quer se estabilizar e ganhar a identificação com o público. “O principal é resgatar a paixão… o envolvimento da sociedade como um todo, a participação da cidade”, reforça o técnico Clésio Prado.

Por enquanto, a equipe tem R$ 600 mil garantidos, metade do valor planejado para a temporada. O orçamento é um dos menores da liga, mas o grande trunfo paranaense é de não ter gastos com estrutura. Tudo é bancado pela Universidade Positivo (UP), patrocinadora ao lado de Copel Telecom e Madero.

Os treinos e jogos serão no ginásio da universidade, que tem capacidade para cerca de 3 mil pessoas. Além disso, cerca de 20 cursos, desde medicina e fisioterapia até design e odontologia, darão suporte ao elenco. “Estrutura custa muito caro. Quando tivemos a primeira reunião com o Paulo Cunha [presidente da divisão de ensino do Grupo Positivo], ele falou que garantiria toda a estrutura, que poderíamos até fazer as refeições lá no campus. A ficha demorou uns três dias para cair”, brinca Prado.

O acordo vale inicialmente por um ano, mas há indicadores de que a parceria pode ser bem mais longeva. Na negociação, foi utilizado o exemplo bem-sucedido das universidades americanas, que unem esporte e educação há décadas – e pelo menos dez delas têm mais medalhas olímpicas do que o Brasil em toda a história.

“A universidade por si só chegou em uma maturidade que faz parte dela trabalhar muito forte com esporte. Hoje é o vôlei, mas podem ser outros também no futuro. Isso traz muita coisa boa à universidade”, afirma Cunha, que também oferece bolsas de estudos integrais às atletas até que elas se formem.

“Hoje a Valeskinha, campeã olímpica, está sentada ao lado dos alunos de Educação Física. Imagina como não é essa troca de experiências para os alunos”, cita Gisele Miró, que personifica o carinho e dedicação pelo time. Enquanto não consegue alugar apartamentos para todas as atletas na cidade, cinco delas estão hospedadas na casa da ex-tenista. “Minha mãe pensa que só a Valeskinha está lá”, brinca. “Precisamos da ajuda de Curitiba. Quem sabe um pool de empresários somados para auxiliar o time e viabilizar as coisas”.

R$ 1,2 milhão

É o valor do projeto do Curitiba Vôlei para a temporada da Superliga. A dois meses da estreia, a equipe arrecadou metade do previsto.

Giba

O curitibano é padrinho do Curitiba Vôlei desde o ano passado e foi o mestre de cerimônias no lançamento da equipe, na semana passada. “Minha participação será mais virtual, nas redes sociais, ajudando na divulgação”, diz.

Fator Bernardinho

A estreia do Curitiba Vôlei, marcada para o dia 16 de novembro, no Rio de Janeiro, será simbólica. Com transmissão do SporTV, a equipe enfrenta logo de cara o SESC/Rio, do técnico Bernardinho, responsável pelo período mais vitorioso do vôlei paranaense.

Por mais que esteja do outro lado, mesmo 15 anos depois do fim do Rexona, o ex-técnico da seleção brasileira não se desligou totalmente da cidade. “É muito bom ter Curitiba de volta ao cenário nacional. O Compartilhar, meu instituto, continua com sede na cidade, trabalhando também no Interior, em escolas públicas. Então minha ligação continua muito estreita”, ressalta.

Para o treinador campeão olímpico em 2004 e 2016, o público vai comprar a ideia do novo time. No entanto, é preciso ter calma na cobrança por resultados.

“O curitibano adora voleibol e vai abraçar. O time é jovem, está sendo formado e é preciso ter paciência. Não se pode imaginar que vai ser como 20 anos atrás”, ensina. “As coisas só acontecem com trabalho consistente, sério e com dedicação. Quando as pessoas veem a entrega, elas certamente te apoiam”, completa.

A voz de Bernardinho também influenciou na contratação de duas atletas para o plantel do Curitiba Vôlei. A diretora Gisele Miró, madrinha do projeto social do Bernardinho no Paraná, fez a ponte. “Liguei para saber se ele recomendava duas atletas que estavam na nossa mira... Contratei”, conta.

Gisele Miró (ao centro) comanda o projeto de vôlei na capital paranaense.Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Volta para casa

Entre as 14 atletas do Curitiba Vôlei, a central Mari Aquino tem um motivo especial para comemorar a chance de disputar a Superliga. Vice-campeã da Champions League na última temporada pelo CS Volei Alba-Blaj, da Romênia, a curitibana nem titubeou quando foi convidada para jogar em casa.

“Já são 11 anos morando fora e sempre tive o sonho de jogar perto da minha família. Quando surgiu a oportunidade não pensei duas vezes, porque acredito muito que Curitiba tem público para o vôlei”, opina a jogadora de 27 anos, que costumava frequentar as arquibancadas do Tarumã na época de ouro do Rexona.

Após cinco anos jogando e estudando na universidade americana de UCLA, em Los Angeles, a atleta também se diz feliz por fazer parte de uma iniciativa parecida no Brasil. Formada em ciências políticas e relações internacionais nos EUA, ela agora divide os treinos com o curso de pós-graduação em gestão e marketing.

“É possível, sim, jogar em alto nível e ter uma educação de qualidade ao mesmo tempo. Tantas atletas formadas lá nos EUA jogaram Olimpíadas, em ligas da Europa, do Brasil. Estou muito feliz que isso esteja acontecendo aqui também”.

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