• Carregando...

San Diego (EUA) – A primeira coisa a ser feita diante de um jogo da And1 Mix Tape Tour é esquecer tudo o que você já viu sobre basquete. Nada serve como parâmetro para o que estará diante dos seus olhos durante os 75 minutos de jogo.

A começar pelo tempo de partida. São três períodos de intensos 25 minutos cada um. A bola quase não pára. São pouquíssimas faltas.

Um pouco pela despreocupação em marcar o adversário e muito pela permissividade das "regras". Inspirado no streetball, vale quase tudo. Vale dar tranco mais duro no marcador – na NBA, qualquer resvalo provoca a paralisação da partida. E, principalmente, vale humilhar o rival – permissão que faz os mais puristas classificarem o que o time da And1 pratica como antibasquete.

Há um mês, a sexta edição da Mix Tape Tour fez a sua terceira escala em San Diego, no Sports Arena. O ginásio teve sua lotação quase esgotada por negros, uma raridade na cidade mais ao Sul da Califórnia, tomada por latinos e anglo-saxões.

Antes de a bola subir, dois torcedores foram sorteados para assistir à partida da beira da quadra. Dois pufes foram colocados por ali, com refrigerante e pipoca à vontade. Só faltou o controle remoto.

Se bem que ninguém ousaria mudar de canal estando diante das maluquices de Half Man, Half Amazing e suas tabelinhas perfeitas jogando a bola na tesa do adversário – a mais vexatória da série de humilhações à qual ele submete os marcadores. Ou os vôos dentro do garrafão de Main Event, o sujeito que conquistou sua vaga na And1 ao enterrar saltando sobre uma motocicleta. Faltou apenas Escalade, o gigante que desafia a lógica ao saltar para a cesta com seus quase 200 quilos. Ele estava machucado.

Os lances são narrados de dentro da quadra, por um locutor que já deve ter perdido a conta de quantas assistências deu para os "companheiros" de time. Em San Diego foram duas.

A trilha sonora é escolhida a dedo por um MC, posicionado atrás de uma das cestas com uma pick-up (toca-discos utilizado para animar festas). Ao invés das musiquinhas eletrônicas da NBA que comandam gritos de "Defesa" ou "Vamos lá", o que embala a Mix Tour é o rap.

O ritmo contagia o público, que se transforma na atração principal durante os longuíssimos 20 minutos de intervalo. Instigada pelo narrador, a platéia dança para as câmeras, em cenas reproduzidas pelo telão acima do centro da quadra.

Ao fim do jogo, todos deixam as arquibancadas em êxtase, comentando os lances e garantindo que vão repeti-los na quadra do bairro, gravar em vídeo e enviar à And1 para participar da próxima Mix Tour.

A empolgação faz muitos torcedores deixarem um punhado de dólares nos quiosques da And1 estrategicamente posicionados em frente às saídas do ginásio. Uma camisa oficial sair por R$ 140. Afinal, o que ocorre dentro de quadra é apenas uma parte da fábrica de milhões da empresa que começou sua história vendendo camisetas dentro de um porta-malas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]