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O corpo de Nodar Kumaritashvili chegou ontem a Bakuriani, cober­­to com a bandeira da Geórgia. Atleta morreu durante o treino antes da cerimônia de abertura dos jogos de inverno | Vladimir Valishvili/AFP
O corpo de Nodar Kumaritashvili chegou ontem a Bakuriani, cober­­to com a bandeira da Geórgia. Atleta morreu durante o treino antes da cerimônia de abertura dos jogos de inverno| Foto: Vladimir Valishvili/AFP

Recepção de herói

O corpo de Nodar Kumaritashvili chegou ontem a Bakuriani, cober­­to com a bandeira da Geórgia. O caixão foi carregado por membros da guar­­da de honra, antes de ser apre­­sen­­tado à família. Muitos jovens, com bandeiras e velas nas mãos, enfren­­taram o frio para ho­­mena­­geá-lo próximo ao aero­­porto de Tbilisi. O atleta de luge, que estava feliz por disputar pela primeira vez os Jogos Olímpicos de Inverno, morreu na sexta-feira, poucas horas antes da cerimônia de abertura, após um acidente durante um treino, na última curva da pista de Whistler. Dodo, a mãe do atleta, não conse­­guia se man­­ter em pé, precisando ser ampa­­rada por parentes. Ela entrou em desespero e se debruçou sobre o caixão do filho.

Na Olimpíada de Inverno, medalhas são conquistadas por centímetros e frações de segundo – margens tão mínimas que podem fa­­zer com que uma tosse ou um espirro afete todo o planejamento de uma carreira.

"Se há algo fisicamente errado com você, então definitivamente vo­­cê não tem chance", diz James Southam, membro da equipe norte-americana de esqui cross-country. "É uma daquelas coisas que sempre está no fundo da sua mente."

Por causa das rígidas normas antidoping, os atletas são impedidos de consumir regularmente um grande número de medicamentos antigripais. Talvez seja por isso que muitos deles – especialmente os atletas de enduro, aptos a cumprir enormes distâncias – são obcecados em, antes de mais nada, não ficar doentes.

Por precaução, Southam diz ter incluído uma máscara cirúrgica na sua bagagem para o caso de a pessoa do banco ao lado "parecer ser portador de algum tipo de praga". O célebre biatleta norueguês Ole Einar Bjorndalen também é conhecido por fazer gargarejo com álcool para prevenir-se de qualquer doença. Neste ano, a equipe americana do biatlo hospedou-se em uma área isolada da vila dos atletas em Whistler, com acesso aos banheiros permitido somente aos integrantes do time.

Os biatletas americanos têm razão para se preocupar: Lowell Bailey, membro da equipe, contraiu gripe A em novembro e lutou contra uma série de doenças respiratórias até pouco antes dos Jogos. Seu companheiro, Jay Hakkinen, caiu de cama com sintomas da gripe suína antes do Campeonato Mundial do ano passado e não pôde competir.

Bailey diz que o treinamento árduo o impediu de ficar melhor nessa temporada. "Como atleta, especialmente de enduro, você puxa a si mesmo, fisicamente, a pontos em que normalmente não há por que chegar," disse. "Você não quer sair e correr até vomitar, mas isso é normal para nós."

Os atletas também ficam mais suscetíveis porque percorreram grandes distâncias, ficam hospedados em ambientes fechados e competem no ápice da estação das gripes e resfriados.

"A maior razão para a baixa performance em jogos poliesportivos são as doenças respiratórias", diz P. Gunnar Brolinson, médico-chefe em Virginha Tech, que está tratando os atletas americanos em Vancouver. Ele diz já ter atendido dezenas de casos de insuficiência respiratória desde que chegou, semana passada. Em 2007, o especialista escreveu um artigo para um jornal médico sobre o efeito negativo do exercício extremo sobre o sistema imunológico.

Autoridades locais dizem ter tomado providências extras para conter a possibilidade de um surto de gripe. Patricia Daly, vice-presidente de saúde pública e médica-chefe do Vancouver Coastal Health, supervisora médica dos Jogos, disse que sua agência pediu aos comitês nacionais que vacinassem seus atletas contra gripe A e outras doenças.

A gripe não é novidade na Olim­­píada de Inverno. Nos Jogos de Nagano, em 1998, um surto atingiu dezenas de atletas, oficiais de competição, jornalistas e favoritos a medalha, incluindo o patinador artístico canadense Elvis Stojko, que culpou a enfermidade pela sua falha na tentativa de conquistar o ouro.

Assim, não é surpresa que fabricantes de antigripais vejam a Olimpíada de Inverno como um poderoso meio de divulgação. Cold FX, medicamento natural fa­­bricado por uma companhia canadense, é patrocinador dos Jogos de Vancouver. Para poder distribuir seus produtos aos atletas locais, a empresa conseguiu um certificado independente de que os ingredientes estão de acordo com as normas da Agência Mun­dial Anti­­doping.

Nos Estados Unidos, um comercial de televisão dos remédios Vicks DayQuil e NyQuil mostra o patinador de velocidade Apolo Ohno (dono de sete medalhas olímpicas) arrancando o seu pijama e tendo debaixo dele o uniforme de competição. Um dos produtos da marca contém estimulantes proibidos. Contudo, Crystal Har­­rell, porta-voz da Vicks, diz que o aval de Ohno é limitado a produtos que podem ser usados.

Brolinson diz que por causa da preocupação com a violação de regras antidoping, ele geralmente trata atletas à moda antiga: pastilhas, muito líquido, descanso ibuprofeno. Se a infecção for de origem bacterial, então ele receita antibióticos.

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