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O Paraná, a equipe mais bem-sucedida do futebol paranaense nesta temporada, tem um presidente que se diz rebelde, comunista, agnóstico, antiimperialista e até revolucionário.

José Carlos de Miranda – dirigente que conseguiu o feito de terminar o Campeonato Brasileiro sob aplausos efusivos da torcida – parece tirar do perfil esquerdista os fundamentos para comandar o Tricolor. Ele garante, entre uma história e outra ao lado dos oprimidos, ser de fato "o povo no poder".

"Existe até preconceito por eu não simbolizar a força econômica. Não sou o estereótipo do ‘cartolão’, com dinheiro para resolver tudo. Sabe então o que foi aquela saudação da torcida? Não precisa de sociólogo para entender. Era o carinha da arquibancada vendo um representante. O torcedor se sente identificado comigo", diz o homem-forte paranista.

Além de administrar uma pousada em Morretes, Miranda fez a vida lecionando a disciplina de Língua Portuguesa. Currículo que o faz reforçar o discurso.

"Sou o primeiro presidente pobre entre os clubes da Primeira Divisão. Então, há uma certa rejeição dos burgueses (referindo-se à oposição). É difícil para essa gente aceitar um professor, ao lado de ex-bancário, jornalista e empresário médio, no comando."

O recado para os adversários ganha ainda mais sentido quando ele fala de sua admiração pelo tenente-coronel Hugo Chávez, o polêmico chefe de estado venezuelano. "Tem liderança, capacidade de aglutinação, convencimento... Luta muito para as melhorias sociais, resolvendo a situação de quem necessita", destaca.

Ou quando conta passagens da sua juventude. "Eu era tão radical que não bebia Coca-Cola. Também nunca quis aprender inglês. Jamais consegui falar esse idioma, tamanha a rejeição. E não era nada contra o povo americano, mas a política deles", confessa, justificando em seguida as viagens para Cuba, China e Rússia. "Só fui ver como era."

Aos 18 anos, no precoce papel de general do exército, conta ter sido deslocado para a pequena Bagé (RS) como punição pelas idéias marxistas. No interior gaúcho, fez a faculdade de Línguas Neolatinas (português, espanhol e francês) e diz ter se alinhado rapidamente às lideranças progressistas da região.

"Em 1961, na Frente Legalista (movimento que defendia o respeito da Constituição e a imediata posse de João Goulart), estive engajado", lembra, orgulhoso. "Assim como participei do chamado Grupo dos 11 (outra conclamação de Leonel Brizola, ícone socialista da época, para a população pressionar as reformas de base)", completa.

Getúlio Vargas, o "Pai dos Pobres", também desfruta de uma ligeira admiração por parte do paranista. Prova disso era a bronca assumida contra o filósofo Austregésilo de Athayde (de declarada oposição à Revolução de 30 e favorável ao movimento constitucionalista de São Paulo).

"Como não sou religioso, sou agnóstico. A minha forma de penitência – como os católicos dizem – era ler a opinião do Austregésilo", brinca. "Hoje, faço o mesmo com a Veja, revista de ultradireita, da qual sou assinante."

Beirando os 70 anos (tem 68), o presidente do Paraná já começa a fraquejar na antiga luta. E sinaliza com posições contraditórias. "Hoje o socialismo está sendo feito pelas multinacionais. Todo o empregado de uma empresa desse porte está satisfeito. Ele tem tudo. O que queríamos que fosse feito pelo estado, está sendo feito pelos grandes grupos", comenta.

Em outros temas, vai cedendo. "Ainda acho que certas coisas devem ser controladas pelo estado: como a educação. Era intransigente em relação à universidade gratuita, não sou mais. Até um certo nível de salário, tudo bem, pois quem faz Federal, por exemplo, é a burguesia. O povão sustenta a elite."

O tempo de estrada também o faz tolerar as falhas dos mandatários. "Lula tem um carisma extraordinário. Para as esquerdas foi uma decepção, mas para o governo está sendo bom. Quando eu era jovem, achava que o presidente poderia mudar as coisas, mas não pode. Governa apenas dentro das possibilidades. Utopia acreditar numa revolução social, como eu imaginava quando era jovem."

Mas deixa um aviso, antes de encerrar a entrevista de 40 minutos concedida na sala da presidência, para não deixar margem a dúvidas: "Não fui subversivo, eu sou!"

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