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Vílson Ribeiro de Andrade: favoritismo na Série B e união com rivais | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Vílson Ribeiro de Andrade: favoritismo na Série B e união com rivais| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo

Palavras fortes e promessa de ações tão vigorosas quanto o discurso. É assim que o vice-presidente do Coritiba, Vílson Ribeiro de Andrade, vem comandando o clube depois da queda para a Série B. Otimista com o atual elenco, coloca o Alviverde como favorito na briga para retornar à elite. "Talvez a gente precise de mais dois reforços". O dirigente sabe dos desafios: em campo, o fato de jogar fora de casa, em Joinville, no início da Segundona; fora dele, a tentativa de adotar uma gestão profissional, algo ainda raro no futebol nacional, e a luta por me­­nos desigualdade nas verbas da televisão.

Diminuir despesas e aumentar o número de sócios são algumas das prioridades. Para isso, promete aumentar o ingresso para R$ 80, "estimulando" o torcedor co­­xa-bran­­ca a pagar a mensalidade de R$ 50. "Não podemos depender do torcedor de ocasião", disse Andra­de, em sabatina realizada na tarde de quinta-feira com os repórteres da Gazeta do Povo. Confira os principais pontos dessa conversa, na qual ele contou sobre gestão, plantel, Série B e política.

Como foi a sua entrada no Cori­­ti­­ba, a transição das duas gestões e como ficou a situação do Jair Cirino?

Nunca pretendi entrar no futebol. Mas no dia 6 de dezembro, quan­­do aconteceu todo aquele episódio [invasão de torcedores ao campo do Couto Pereira], fiquei extremamente revoltado pela falta de civismo e amor ao clube daquele bando de marginais. Fui para casa a pé. Con­­fesso que não achei meu carro, por isso que fui a pé. Chegando lá, comecei a fazer ligações para alguns amigos empresários. No começo fui otimista e depois fi­­quei preocupadíssimo, pois as pessoas simplesmente fugiram. Mas não desisti e formamos um comitê de crise. Nele mostramos ao Jair que entendíamos ter de mudar tudo. Então, o Jair pediu uma oportunidade. Na visão dele, ele teve um insucesso e gostaria de sair do clube com dignidade. Era justo. Aceitei a vice-presidência com a condição de que a gestão do clube ficasse a cargo da vice-presidência: mu­­dança de estrutura, de superintendências, liberdade total para gerir o clube financeiramente.

Por que, após retornar à primeira vez da Segunda Divisão, o Coritiba não conseguiu se manter na Série A?

Nada muda se não mudar alguns conceitos. Hoje no futebol brasileiro temos oito clubes que chamam de elite, o resto é coadjuvante. Brigam para não cair. O que leva os clubes a sobreviver é a televisão, publicidade, sócios, renda e venda de jogadores. Nos médios e pequenos, o orçamento é feito para esses cinco itens, com R$ 20 milhões da venda de jogadores. Só que não vendem ninguém e ficam com um furo no caixa enorme. Esse é o primeiro problema: os clubes não trabalham com orçamento. Hoje o Cori­­tiba tem orçamento. E o clube não resiste se não tiver de 25 a 30 mil sócios em dia. Quando decidimos colocar o ingresso a R$ 50 e subimos a mensalidade para R$ 50 mensais ao sócio, foi para mostrar ao associado que ele é a figura mais importante nesse processo. E mais, na Segun­­da Divisão vou cobrar R$ 80 o in­­gresso. No próximo ano é R$ 100. Quanto vai pagar o sócio? R$ 50 por mês. Quero ter lá 30, 40 mil sócios. Não posso ter torcedor de ocasião que vai só no bom espetáculo.

Qual a real situação financeira do clube hoje?

O clube tinha um orçamento projetado de déficit que chegou a R$ 27 milhões. Hoje está reduzido a R$ 17 milhões. E nós queremos chegar até dezembro com ele zerado. Esse é nosso objetivo. Trabalhamos (principalmente) na diminuição de despesas. Nós rescindimos o contrato com 19 jogadores. Fizemos diminuição de R$ 700 mil/mês de despesas. Agora estou com projeto de le­­vanta­men­to de todas as áreas do clube. Temos três pessoas fa­­zen­­do a mesma função, isso é um absurdo. Depois desse processo, vai sobrar caixinha. Vai ser como na Assem­bleia Legislativa. Não no mesmo número, claro (risos).

Qual era folha mensal quando você entrou e qual é agora?

Era R$ 2,4 milhões e hoje está em R$ 1,4 milhão.

Como segurar as revelações?

Fazendo contratos de cinco anos com multas pesadíssimas.

Como está situação do Ariel?

Quando o Ariel foi contratado, fez o contrato cível de cinco anos. Tinha todas as cláusulas estabelecidas, inclusive prevendo a obrigatoriedade de um contrato de dois anos (exigência do Ministério do Trabalho para o primeiro contrato de estrangeiros no país) e da renovação por mais três anos. Vamos exercer esse direito. No entendimento do advogado dele, que é atleticano e meu amigo pessoal (Augusto Mafuz), o segundo contrato não teria validade. Mas nós temos pareceres e estamos tranquilos. Além do mais, o Ariel é de excelente caráter e quer ficar no Coritiba. Acredito que não te­­re­­mos problema.

Você manteve a base de uma equipe rebaixada. Identificou o que houve de errado no ano passado?

Quando saio para uma jornada reúno todos em uma mesa e pergunto quem está comigo. Para quem não está comigo, a porta está aberta. Mas quem ficar, vamos morrer abraçados juntos. Foi isso que fizemos. Os que foram pela porta aberta vocês sabem quem são. Um time que joga com o Santos, leva de 4 a 0 e pede para levar dez, para mim, não é ho­­mem. Não tem caráter. Para mim o homem é o seu caráter. Quem ficou hoje com a gente é homem e tem caráter.

O Pedro Ken está na lista dos que saíram, por exemplo...

Mas aí é diferente. O Pedro Ken saiu depois, em uma venda. Ele é da base, é um menino excelente.

Quando o Coritiba foi campeão da Série B, em 2007, ganhou só cinco partidas fora de casa. Agora, dos 38 jogos, 29 serão fora do Couto Pereira...

Não considero Joinville contrária ao Coritiba, pois a capital para Join­­ville não é Florianópolis, é Curi­­tiba. E estamos fazendo um trabalho muito grande para ter o carinho do povo de lá. Teria preocupação se jogássemos em Cascavel, onde todo mundo é Grê­­­­mio ou Inter. Ou Maringá e Lon­­drina, onde são São Paulo, Co­­rinthians. É um de­­safio. Mas os verdadeiros ho­­mens gostam de grandes desafios.

Na eleição do Clube dos 13 o Coritiba, que apoiou o derrotado Kléber Leite, saiu enfraquecido?

O Coritiba teve posição muito clara: queria mudar. A insatisfação é pela falta de lealdade, de ética, diferenças absurdas de verbas da tevê... Hoje você tem times como o São Paulo que aliciam jo­­gadores e levam de graça, fazem pré-contrato. Somos totalmente contra o modelo que está aí. Nosso voto foi de protesto. Acho que saímos fortalecidos. Hoje o Coritiba é respeitado no Clube dos 13 e na CBF. Tem linha aberta, pois mostrou uma posição. É evidente que passou o processo democrático e temos de estar unidos, mas nunca vou deixar de mostrar a nossa posição.

Existe possibilidade de unir os clubes da Primeira e Segunda Divisão para uma divisão me­­lhor das rendas, como o C13 quer?

Tem de fazer um equilíbrio nessas divisões. Acho que Corinthians e Flamengo têm de ganhar mais, claro. O que não pode ter é uma desproporção tão grande. O Flamengo ganhar R$ 40 milhões e o Coritiba R$ 10. Essa diferença é brutal. Mas os clubes não podem mais depender apenas da televisão. Os clubes se tornaram gigolôs da televisão. Temos de criar fontes de receitas onde a tevê seja um complemento. O problema é que a administração dos clubes é um absurdo. Futebol tem de ter um projeto, um planejamento e isso fazer parte de um conselho. Entra quem for, se não cumprir o projeto, impeachment. Acabou.

Que tipo de parceria pode nascer com Atlético e Paraná para fortalecer o futebol do estado?

Acho que enfraquecer meu inimigo é minha própria derrota. Quanto mais forte ele for, mais forte vou ser. É fundamental ter nossas divergências dentro de campo, mas fora dele temos de nos unir. O futebol paranaense é fraco, pois não somos unidos.

O que o senhor vislumbra da Série B, dentro de campo?

Temos oito times para disputar quatro vagas. Mas prefiro não falar os nomes deles até para não magoar ninguém.

Contra esses outros sete, o time titular do Coxa é suficiente?

O Coritiba talvez precise de mais dois jogadores.

A construção do novo estádio ainda está em pauta?

O Couto Pereira é muito velho, mas tem vida útil ainda de 10 anos. Temos de fazer melhorias constantes. Mas, para mim, nesse momento, a prioridade não é estádio.

Existe chance de o Alex voltar?

Quem não queria o Alex? Devo conversar com ele ainda este ano. Mostrar o projeto. Seria uma honra ele jogar no clube na volta à Primeira Divisão. Ser o nosso ca­­misa 10.

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