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Para Ney Franco, título do Coxa é um pouco dele também | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
Para Ney Franco, título do Coxa é um pouco dele também| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

O técnico Ney Franco pouco descansou da conquista do título Sul-Americano sub-20. Coordenador das seleções da base do Brasil, acompanha de perto todas as categorias. No caminho entre Tere­só­po­­­lis, onde está concentrada a sub-17, e o Rio, onde teria uma reunião na CBF, ele encontrou um tempo para conversar com a Gazeta do Po­­vo. Falou sobre sua nova função e sobre a formação de jovens talentos. Recém-indicado a Cidadão Ho­­norário de Curitiba, ele comenta so­­bre a cidade, Atlético e Coritiba, trabalhou em ambos, mas indica que o seu próximo convocado será o tricolor Kel­vin.

Neste período ainda curto de trabalho, qual avaliação faz das categorias de base no país?

A avaliação geral é boa. Tem um trabalho feito com muita qualidade. Alguns clubes melhores do que outros, seja pela filosofia ou por questões econômicas. O que é preciso fazer é a parceria entre o clube e a CBF. O clube investe e, de certa forma, é interessante que este jogador esteja em alguma seleção. É uma vitrine. Estamos fazendo essa aproximação.

Como funciona a sua coordenação?

Estou voltando agora de Tere­só­­polis, onde está concentrada a seleção sub-17, que vai disputar o Sul-Americano no Equador, a partir do dia 12. Sábado retorno para a Gran­­ja Comary. Vou acompanhar a preparação e também a competição. Quero trabalhar o mais próximo possível das equipes.

Antes o trabalho também era assim?

Antigamente não se acompanhava. Eu quero estar ligado à bo­la.

Você detecta alguma deficiência técnica que precisa ser reparada nos mais jovens?

Técnica, não. Os clubes trabalham muito bem essa parte. Tem de me­­lhorar a parte disciplinar e emocional. Esse é um foco do trabalho. Tem a questão da malandragem. Os jogadores precisam ser mais profissionais, conhecer mais as regras, aprender a jogar contra a es­­cola sul-americana. Eles [os ri­­vais] usam muito a catimba e estão levando vantagem. É preciso também trabalhar a questão do favoritismo. Eles acreditam que só vestir a camisa da seleção vai ser suficiente para vencer um jogo. Chegamos assim nas competições e os atletas se perdem.

Percebeu isso no Sul-Americano?

Percebi. A equipe foi crescendo dentro da competição. Quando chegou, cometeu erros contra o Pa­­raguai e teve dois jogadores ex­pul­sos. Eles estavam batendo muito e os jogadores reclamaram de­mais com a arbitragem. Contra a Ar­­gen­­tina, tivemos um jogador [Juan] expulso a 5 minutos de jogo, pois deu uma cotovelada no adversário dentro da área e foi pênalti. Qua­se se joga um trabalho todo fora por causa do erro de um atleta. Tem de sair do Brasil com isso acertado. Es­sa questão hoje é muito importante.

Você elogiou muito o Neymar. Como foi trabalhar com ele?

Eu tive uma postura antes mesmo da convocação. Fui falar com o pai dele para saber se o Neymar queria participar desse projeto. E ele mostrou que sim. Como já é uma realidade no futebol, sabíamos que se­­ria muito requisitado por imprensa e torcedores. Mas ele não teve privilégios.

Era necessário esse cuidado porque contar com uma estrela pode muitas vezes atrapalhar, não?

Fiz um trabalho com os outros jo­­gadores de mostrar que o Neymar estava lá para nos ajudar e aceitaram bem. Foi um jogador querido pelo grupo. Em 60 dias não tivemos problema com horários, treinos, indisciplina... Ele me ajudou muito na parte técnica. E acho que a seleção fez muito bem para o Ney­­mar. O público tinha uma informação errada dele.

Qual a sua avaliação a respeito das categorias de base dos clubes paranaenses, que não contaram com atletas na sub-20?

Não teve nesta, mas nas convocações da sub-17 e sub-15 tiveram jo­­gadores de Atlético e Coritiba.

Você destacaria algum jogador em especial do futebol local?

Vejo com potencial o Kelvin, do Pa­­raná. Vou fazer uma convocação para um torneio em Barcelona, para o fim de abril, só com jogadores nascidos em 93 – a idade do Kelvin. Eu o conheci no ano passado, entrou contra a gente [Coritiba] e foi muito bem. Me agrada muito.

O empresário Wagner Ribeiro, em entrevista à revista da ESPN, e depois o Marcos Malaquias, agente de atletas como Keirrison e Dagoberto, à Gazeta – elogiaram muito a sua postura. Segundo eles, com você não existiria a possibilidade de convocações por cri­­térios que não fossem técnicos. Co­­mo encara essa responsabilidade?

Um dos pontos importantes da minha contratação foi exatamente esse. Tenho um respeito grande e quero fazer um trabalho próximo dos clubes. Mas, para ser convocado, o jogador tem de estar bem, jogando. Nossa maneira é essa.

Você ouviu muitas coisas a respeito de convocações pautadas por interesses econômicos?

Como não tenho certeza dessas coi­­sas, não posso falar. Mas, comigo, serão escolhidos os jogadores pelo critério puramente técnico.

Você admitiu que a pressão foi muito grande para assegurar a vaga olímpica no sul-americano. Como lidar agora com o peso ainda maior da conquista do ouro em Londres?

Agora começa um novo projeto, que vai ser desenvolvido com a se­­leção sub-23, já com o Mano [Me­­nezes]. Estamos conversando e vou participar deste planejamento pe­­lo ouro olímpico.

Como você recebeu a indicação do título de Cidadão Honorário de Curitiba, feita nesta semana, pela Câmara de Vereadores?

Dia 14 estarei aí com muito orgulho [para receber a homenagem]. Hoje eu carrego uma curitibana co­­migo a tiracolo [a filha Eduarda, de seis meses. É pai também de Fe­­lipe, 5 anos]. Nas minhas duas passagens, tanto no Atlético quanto no Coritiba, fui muito feliz. Além da questão profissional, fiz vários amigos.

E como ficou então a torcida no Atletiba do último domingo?

Na realidade, minha passagem pe­­lo Coritiba é muito recente. Um pedaço do meu trabalho ainda está lá. O técnico foi uma indicação mi­­nha, o preparador físico Alexandre Lopes, e os auxiliares [Éder Paixão e Moacir Pereira] trabalharam co­­migo. A vitória [por 4 a 2] foi um pouco minha também.

Por qual motivo você acha que trabalho do Marcelo Oliveira, mes­­mo invicto, não cativou parte da torcida alviverde ainda?

A torcida teve pouquinho de receio porque no ano passado, no Paraná, foi dispensado. Conheço o Marcelo há muito tempo e ele estava precisando de um clube grande e estruturado como o Coritiba para mostrar o seu potencial. O reconhecimento vem com o tempo.

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