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O atleticano Anderson tem dez cadeiras em sociedade com um amigo: revenda rendeu R$ 320 aos dois na semana passada | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
O atleticano Anderson tem dez cadeiras em sociedade com um amigo: revenda rendeu R$ 320 aos dois na semana passada| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

O Atlético possui atualmente mais de 22 mil sócios, 23.500 cadeiras vendidas. O setor Brasílio Itiberê, ainda em construção, também já foi inteiramente comercializado. A fila de espera para aderir ao Sócio Furacão também é longa. Ou seja, somente sócios podem assistir ao time do coração in loco. "Todo mundo quer se associar", conta Fernanda Mafra, coordenadora do programa.

A intensa procura tem explicação. Por R$ 50 mensais (R$ 25 no caso de menores de 18 anos), o torcedor pode acompanhar todos os jogos do Rubro-Negro na Arena. Não é pouca coisa. Em abril a equipe de Geninho, beneficiada pelo supermando no Estadual, disputou sete partidas em casa. Se fosse comprar os tíquetes na bilheteria, o pacote sairia por R$ 280. "É uma tranquilidade. Você pode chegar em cima da hora do jogo que a sua cadeira estará lá, reservada, com o seu nome", diz Nelson Fanaya Filho, coordenador de marketing atleticano.

Os sócios injetarão neste ano de R$ 10 milhões a R$ 11 milhões nos cofres do clube. Fora o incremento na venda de produtos oficiais dentro do estádio, com crescimento estimado em 15% para 2009. "A renda é certa", afirma Marcos Malucelli, presidente do Atlético.

Apesar do sucesso, especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo são unânimes em criticar o projeto rubro-negro. Para eles, o Furacão não deveria ficar totalmente refém dos donos de cadeiras – só perde o direito de usar o complexo esportivo quem ficar dois meses sem pagar a mensalidade (a taxa de inadimplência não passa de 4%).

"O sócio não pode ser o único a ter acesso ao jogo. A massa de torcedores é bem maior do que aqueles que conseguem entrar no estádio. É preciso pensar nisso, senão acaba virando um tiro no pé", explica Erich Beting, diretor da Máquina do Esporte, site voltado para o marketing esportivo. "Você tem de cobrar em uma final de Libertadores, por exemplo. O Barcelona vende o seu carnê de ingressos das partidas do Campeonato Espanhol, mas não da Liga dos Campeões", emenda Amir Somoggi, consultor e professor de marketing e gestão no esporte. A dupla aponta o modelo que permite facilidades aos sócios, como 50% de desconto e acesso prioritário aos bilhetes, como ideal.

Algo que o Internacional já descobriu. Trinta e seis mil dos cerca de 83 mil associados do Colorado, os primeiros a aderir, garantiram livre acesso ao Beira-Rio. "Se pudesse voltar no tempo, só daria 50% de desconto", ressalta Jorge Avancini, vice-presidente de marketing do clube. "Se aquele sócio que entra sem pagar não vem ao jogo, eu travo. É preferível reduzir o valor da mensalidade, dar vantagens, e assim atingir mais torcedores", complementa.

O Atlético, porém, não pretende alterar a programação. "Iremos vender todas as cadeiras disponíveis", diz Malucelli. "No momento estamos satisfeitos", acrescenta Fanaya.

Sócios lucram com a Arena toda vendida

O acesso à Arena quase restrito a sócios resultou no surgimento de uma nova espécie de cambista. Os proprietários de mais de uma cadeira no estádio aproveitam os grandes jogos para lucrar. É o velho "jeitinho brasileiro".

O industrial Anderson Ricardo Ferreira de Paula, 35 anos, domina, junto com um amigo, dez cadeiras no setor Getúlio Vargas Inferior. O colega embolsou R$ 240 juntando o Atletiba e o duelo com o Corinthians – quatro cadeiras vendidas por R$ 60 cada. Anderson garantiu R$ 80. "Sinceramente, não comprei para dar lucro. Tanto que volta e meia repasso de graça para amigos e familiares", explica o industrial.

A tática é simples. Os associados com assento sobrando abordam os "sem-ingresso" na rua. Fecham a negociação e caminham até a entrada. Um passa a catraca após o outro. Lá dentro o smart card (carteirinha) é devolvido ao sócio. "Não temos muito o que fazer. Vai da consciência de cada um", aponta Nelson Fanaya Filho, coordenador de marketing do Furacão. "Não cobramos e não vamos cobrar identificação dos adultos. A cadeira é do sócio, que faz o que quiser com ela", emenda Fernanda Mafra, coordenadora do Espaço Sócio Furacão.

Nova ordem devolve famílias aos estádios

A conta é simples. Um torcedor do Coritiba que foi a todos os jogos neste ano no Couto Pereira desembolsou em média R$ 68 por mês. Já quem aderiu ao plano de sócios do clube pagou uma mensalidade de R$ 38. O aspecto financeiro aliado a vantagens, como ter acesso exclusivo e não precisar enfrentar fila para comprar ingresso, fez com que a família Sfair aderisse ao "Eternamente Coxa".

A bacharel em Direito Aruane Sfair, 22 anos, foi a primeira a se associar. "Sou sócio-torcedora desde 2006. Resolvi participar por identificação com o clube e por ver nisso uma forma mais concreta de ajudar meu time", conta.

Torcedor alviverde desde os 13 anos, o pai de Aruane, Marcos Sfair, virou sócio na sequência, em 2007, ano marcado pela volta do time à elite do futebol brasileiro. Hoje com 58 anos, ele elogia o fato de as famílias estarem voltando ao Alto da Glória. "Há um vínculo maior entre o clube e o torcedor", diz ele, que em fevereiro deste ano presenteou o filho caçula, Ângelo, 16 anos, com o cartão de livre acesso ao Couto Pereira.

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